Lixo é assim: é produzido por todos, mas ninguém quer responsabilizar-se por ele. Por isso, tem sido prática comum abandoná-lo em qualquer canto e a qualquer hora, invariavelmente nos locais impróprios. Nem sequer se imagina que a cidade vai criando, naturalmente, as barragens de lixo com as quais obstrui bueiros, córregos e rios. Aos poucos, caso não encontre meios para a destinação final do lixo que produz, ela vai criando, ao seu redor, a montanha de materiais de toda ordem que a confinam.
O destino final têm sido os aterros, que às vezes se transformam em túmulos. Não há, hoje, exemplo mais recente de desastre desse tipo do que o Morro do Bumba, em Niterói. Famílias inteiras, sepultadas no lixão. Isso ocorre com a conivência das autoridades. O governo se esquece de que, quando foi criado, o FGTS tinha, como uma de suas finalidades, proporcionar habitação aos trabalhadores amparados pela CLT. Como os trabalhadores acabam sem opção, mesmo a opção legal sugerida pelo FGTS, decidem se valer das áreas de risco.
A solução, quando precária, apenas é o caminho para problemas maiores. É o caso de Curitiba, que não tem mais onde abandonar lixo. Os caminhões coletores movimentam-se em círculo sem ter um ponto satisfatório para o bota-fora. Certamente a prefeitura acaba encontrando um local. Sempre encontra. E, mais uma vez, será na periferia pobre, a vítima potencial da ameaça ao meio ambiente, que não tem como não receber a carga poluidora dos resíduos sólidos.
Leio que o País produz 170 mil toneladas de resíduos sólidos por dia. Destes, 149 mil toneladas procedem das áreas urbanas. É uma quantidade enorme, que não para de aumentar. A solução seria a mais fácil? A que mais se encontra à mão? Definitivamente, não seria a mais fácil. Requer recursos pesados, vez que diz respeito ao peso da vida. Ou ao peso necessário para melhorar a qualidade de vida.
Reportagem no The New York Times conta o exemplo da Dinamarca. O país é pequeno. Tem apenas 5,5 milhões de habitantes. Mas oferece um exemplo. Montou e colocou em funcionamento 29 usinas que transformam o lixo em energia elétrica. Leio mais: que na Europa toda há cerca de 400 usinas do gênero aproveitando o lixo para a produção de energia sem lixo. Energia limpa. É isso.
Fonte: Estadão