A engenharia brasileira, que no passado recente apresentava-se como uma das mais dinâmicas do mundo, dependia em boa parte dos contratos e relações governamentais. Está claro de que o modelo de Estado investidor e provedor dos serviços de infraestrutura está praticamente esgotado. Não mais será o grande contratante dos serviços. Os planos e investimentos da iniciativa privada tiveram que ser reduzidos e adiados. Porem, dada a capacidade e qualidade da engenharia brasileira, a exportação de serviços e insumos aparece como a grande opção de médio e longo prazo.
O mercado mundial de serviços de engenharia é algo em torno de US$ 500 bilhões anuais, dos quais boa parte é realizado por empresas dos próprios países. É um mercado predominantemente regionalizado e concentrado nas nações em desenvolvimento, dos quais cerca de 40% são realizados por empresas de outros países. Dos custos dos serviços exportados, verifica-se que 80% em média correspondem à exportação, sendo que apenas 20% cabem às aquisições de insumos no estrangeiro.
A exportação destes serviços gera saldos comerciais consistentes além do fato de que o setor é um importante empregador de mão-de-obra especializada, o que contribui para a melhoria do nível tecnológico nacional. A exportação de serviços de engenharia ainda gera uma demanda em diversos setores produtivos, por conta das encomendas e subcontratações gerando efeitos multiplicadores de emprego e renda em cascata na economia brasileira.
Nota-se a presença de fortes barreiras protecionistas, em decorrência principalmente de que as especificações e compras são originárias de projetos governamentais. Além disto, temos custos elevados e baixa disponibilidade de financiamento à exportação, substanciais barreiras legais à entrada nos mercados externos, extrema complexidade da legislação brasileira e dos procedimentos burocráticos, pouca disponibilidade e custo elevado das linhas de seguro de crédito para a exportação.
Com ações decisivas e anticíclicas, podemos ter uma multiplicação das exportações de serviços de engenharia, resultando em um aumento substancial do número de empregos relacionados, aumentando a presença brasileira na América Latina, participando do esforço de integração sul-americana e latino-americano, consolidando assim em definitivo a qualidade e liderança da nossa engenharia.
Aluizio de Barros Fagundes é presidente do Instituto de Engenharia de São Paulo
Fonte: Estadão