Nildo Carlos Oliveira
A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) denuncia, em sua 69ª assembléia geral, que acaba de ser encerrada em Denver, EUA, uma série de violências praticadas contra jornalistas. Cada ato desse tipo representa um duro golpe contra a liberdade de imprensa e contra a inteligência e a capacidade de refletir da sociedade.
Os dados ali coligidos e divulgados mostram que entre março e setembro último 14 jornalistas foram assassinados na América Latina. Mas, as mortes não significam tudo. Há a violência costumeira e continuada cometida pelos governos de todos os matizes e pelas diversas instâncias, para provocar medo e coagir o trabalho desses profissionais. Ainda há alguns dias, e bem ali nos Estados Unidos, na histórica Universidade de Yale, a jornalista Cláudia Trevisan, correspondente do jornal O Estado de S. Paulo, foi presa e algemada porque tentou entrevistar, às portas da instituição, o ministro Joaquim Barbosa, presidente do STF.
Os exemplos da violência, institucionalizada ou não, contra a categoria, se espraiam pelo mundo e não precisam ser colhidos necessariamente em cenários de guerra. Basta que interesses de grupos sejam contrariados para que ela se manifeste, com maior ou menor dose de virulência.
Aqui no Brasil a prática é secular e vem se aguçando nesses dias de protestos. Os jornais, sobretudo os televisivos, fazem menção às passeatas pacíficas, legítimas, como se todas elas devessem ser não propriamente passeatas, mas, se possível, procissões. E, com essa retaguarda, há policiais que não conseguem distinguir jornalistas de manifestantes. Nesses casos, a violência acaba sendo indiscriminada.
Mas há outros tipos de violência: são cometidos por empresas e por órgãos públicos, quando estes se julgam donos da verdade e sonegam informações que são do interesse público ou de veículos especializados que procuram, naquelas fontes de informação, dados técnicos ou econômicos específicos.
O caso recente das biografias, expondo pessoas que defendem a censura prévia para obras literária do gênero, não deixa de constituir outro fato deplorável de violência. Pois bem: não existe liberdade pela metade. Ou ela é por inteiro ou não é. Não pode haver legislação restritiva para o trabalho da história e da inteligência. É lastimável que em pleno novo milênio, ainda estejamos lutando contra a idade da pedra.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira