Maurício de Lana*
Fui convidado pelo Editor da Revista O Empreiteiro para escrever sobre o tema O impacto das mudanças climáticas nos projetos e nas obras de engenharia. Inicialmente, hesitei por entender que as questões sobre mudanças climáticas são temas para especialistas e ainda muito questionadas. Mas diante das mais recentes tragédias decorrentes de chuvas intensas nos estados de Alagoas e Pernambuco, ousei tecer as considerações que se seguem.
Sem dúvida, temos convivido com grandes desastres decorrentes de chuvas excepcionais em anos recentes. Estão na memória dos brasileiros as calamidades ocorridas nos estados de Santa Catarina e do Rio de Janeiro. No entanto, quase sempre, são citadas referências de chuvas tão ou mais intensas ocorridas no passado.
Mesmo que não se possa atribuir com certeza uma significativa mudança climática, não podemos ignorar os efeitos imediatos dos equívocos do uso da ocupação do solo na área urbana e na área rural caracterizados pela agressão ao meio ambiente.
As cabeceiras dos rios estão cada vez mais desprotegidas de cobertura vegetal, com a consequente redução da infiltração das águas no solo e aumento da velocidade de escoamento. Com chuvas intensas, maiores as enchentes.
Por outro lado, a ocupação urbana em áreas de risco, seja nas proximidades das calhas dos rios seja em encostas íngremes, ou sobre áreas de depósito de lixo, como foi o caso de Niterói, dispensa fenômenos meteorológicos excepcionais para que se tenha uma tragédia.
Assim, mesmo sem considerarmos a projeção dos impactos das mudanças climáticas, muitos projetos e obras de engenharia e de recuperação ambiental necessitam ser realizados para mitigação dos efeitos do mau uso da ocupação do solo. Ao cuidarmos dos problemas da atualidade, já estaremos caminhando para a minimização dos problemas do futuro.
*Maurício de Lana é engenheiro e presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco) de Minas Gerais
Fonte: Estadão