Nildo Carlos Oliveiras
Três discursos deixaram planos, idéias e expectativas pelo meio do caminho da construção, depois da passagem do 83º Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic), realizado este mês, em São Paulo (SP).
Primeiro, houve o discurso da presidente Dilma Rousseff. Ela garantiu aos empresários no World Trade Center, que os problemas gerados atualmente na economia internacional, e que se tornaram agudos em Portugal, Grécia e Espanha, possivelmente serão mais duradouros do que aqueles ocorridos no período de 2008-2009, com a quebra do Lehmann Brothers, nos Estados Unidos.
Contudo, ela falou aquilo que a platéia ansiava ouvir. Disse que o posicionamento do governo brasileiro diante da crise se voltará para a preservação das "nossas forças produtivas, nossos empregos e a renda da população". E garantiu: "Não entraremos em recessão. Digo isso não como uma bravata, mas porque temos condições de reagir." A partir daí, as demais manifestações, públicas ou privadas, seguiram no mesmo diapasão.
Paulo Safady Simão, presidente da Câmara Brasileira da Indústria Construção (CBIC), que promoveu o evento, reconheceu que o País vive um período de crescimento consistente, com volumes recordes de investimentos e obras por todas as regiões brasileiras. Falou de uma "realidade de pleno emprego, com aumento real de salários e com um detalhe importante: o crescimento da presença feminina, algo que está mudando a feição de nos canteiros de obras".
Afabilidades e afagos à parte, o importante é que o 83º Enic deixou algumas idéias e informações moldando a opinião de empresários e de outros participantes do encontro. Paulo Simão anunciou que a CBIC, em conjunto com grupo de organizações representativas da iniciativa privada, desenvolveu o Programa de Inovação Tecnológica (PIT), cujo objetivo é difundir as novas tecnologias construtivas e modelos de gestão no universo de 170 mil empresas construtoras formais em operação no País.
Ele disse que se encontram em fase avançada as negociações para a implantação do 1º Parque de Inovação e Sustentabilidade no Ambiente Construído do País, a ser instalado no campus da Universidade de Brasília, com a participação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação; do governo de Brasília, da CBIC e de suas entidades filiadas no Distrito Federal e da empresa britânica BRE – Buinding Research Establishment. Citou outros programas que considera significativos: o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e o Programa Ciência sem Fronteiras, destinado à formação de novos profissionais tanto em nível técnico quanto em nível superior.
Sérgio Watanabe, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-sp), que organizou o evento, seguiu a mesma linha de raciocínio otimista, assegurando que o segmento tem crescido continuamente desde 2004. A média de crescimento naquele período chegou a 4,6% ao ano, e se aguarda que ao longo de 2001 ela alcance o patamar dos 5%.
Reconheceu que a aversão ao risco, a volatilidade nas bolsas e a possibilidade de nova recessão mundial podem dificultar as expectativas de maior crescimento, mas acredita que as linhas de crédito para o mercado imobiliário serão pouco afetadas. Acentuou: "Com responsabilidade, o Brasil precisa administrar a crise, para que ela não contamine a confiança das famílias e dos investidores". Diferentemente do que já ocorreu em outros encontros do gênero, as reivindicações foram poucas e absolutamente pontuais.
Fonte: Estadão