O pavimento asfáltico com misturas que utilizam plásticos reciclados pós-consumo (PCR) e material fresado (RAP, do inglês Reclaimed Asphalt Pavement) é uma solução inovadora e sustentável para a pavimentação de rodovias.
Ela combina resíduos plásticos e asfalto reciclado para melhorar o desempenho mecânico do pavimento, ao mesmo tempo em que reduz o impacto ambiental da infraestrutura viária.
Entre as principais vantagens do pavimento com PCR e RAP estão: sustentabilidade, uma vez que reduz a extração de novos agregados e reutiliza resíduos plásticos que poluem o ambiente e asfalto velho; durabilidade maior, já que o plástico melhora a resistência à fadiga, trincas e deformações; redução de custos, pois há menos necessidade de materiais virgens e menor consumo de betume asfáltico;
e menos impacto ambiental, considerando que diminui o descarte de plásticos em aterros e a emissão de
CO2 na produção.
Essa solução inovadora está sendo estudada pelos técnicos da concessionária de rodovias Eixo-SP e foi aplicada, de forma pioneira na América Latina, em um trecho de 1,2 km de extensão, localizado na rodovia Comandante João Ribeiro de Barros (SP-294), entre os quilômetros 563 e 561, no município de Parapuã (SP).
A geração de resíduos sólidos é um dos grandes desafios ambientais da atualidade, e o Brasil está entre os maiores produtores de lixo do mundo, gerando mais de 11 milhões de toneladas anualmente, sendo que apenas uma pequena fração desse total é reciclada Nesse contexto, a incorporação de plástico reciclado pós-consumo na mistura asfáltica desponta como uma alternativa promissora. Essa tecnologia contribui para a destinação adequada dos resíduos plásticos e, ao mesmo tempo, pode melhorar as propriedades mecânicas dos pavimentos, segundo avaliação dos especialistas da Eixo-SP.
SOLUÇÃO INOVADORA E VIÁVEL
A reciclagem de pavimentos com incorporação de RAP é uma prática amplamente difundida e que vem crescendo no Brasil. Combinando as duas tecnologias – RAP e asfalto com plástico, a Eixo-SP afirma que busca elevar a eficiência e a sustentabilidade da pavimentação asfáltica.
O material fresado é o produto resultante da remoção de camadas asfálticas que podem ser reaproveitadas na pavimentação, desde que seja devidamente processado, corrigido granulometricamente e tratado com agentes rejuvenescedores quando necessário. Segundo os pesquisadores da Eixo-SP, durante o processo na usina de asfalto, é fundamental controlar a temperatura para evitar a oxidação excessiva do ligante asfáltico remanescente no RAP.
A incorporação desse material na mistura asfáltica exige que seus componentes sejam balanceados para
proporcionar desempenho adequado, levando em conta as propriedades dos agregados e do ligante envelhecido. Com o tempo, o ligante asfáltico presente no RAP endurece devido à exposição ao calor, ao oxigênio e à umidade. Se a quantidade de RAP incorporada na nova mistura for elevada, há o risco de que o asfalto reciclado se torne excessivamente rígido. Para mitigar esse efeito, podem ser adicionados agentes de reciclagem (AR) que contribuem para restaurar as características originais do ligante envelhecido.
O ligante asfáltico empregado na mistura no trecho experimental foi o CAP 30/45, modificado com plásticos reciclados pós-consumo de origem doméstica. No estudo, a incorporação de plástico ao ligante asfáltico foi de 6%, um percentual significativamente superior ao 1,5% adotado na mistura utilizada no primeiro trecho experimental executado em 2024.
Esse ligante se diferencia por apresentar menor suscetibilidade térmica, melhor adesão e coesão entre os agregados, maior resistência à oxidação e um ponto de amolecimento elevado, resultando em maior durabilidade e resistência a trincas e deformações permanentes sob diferentes condições climáticas.

O estudo da Eixo-SP teve como propósito avaliar o desempenho do pavimento asfáltico utilizando misturas asfálticas modificadas com RAP e PCR sob as condições de tráfego da SP-294. O trecho escolhido recebe diariamente, cerca de 835 veículos comerciais. Segundo os técnicos, a mistura, que incorpora 25% de RAP e tem o ligante asfáltico modificado com 6% de plástico reciclado, apresentou, inicialmente, um teor de materiais considerado elevado.
No entanto, essa abordagem demonstrou ser eficaz na construção de pavimentos com alta resistência a deformações permanentes e à oxidação, o que indica uma perspectiva promissora de desempenho tanto estrutural quanto funcional ao longo do tempo. Durante a execução, o controle tecnológico das condições de produção, especialmente no que diz respeito à temperatura, foi essencial para atingir a qualidade da mistura final. O sistema de incorporação do RAP na usina de asfalto da Eixo-SP, por meio de um anel externo, que reduz a exposição do material reciclado à oxidação excessiva, revelou-se uma importante estratégia para preservar as propriedades da mistura asfáltica modificada composta por PCR e RAP.
De acordo com os pesquisadores, o estudo evidenciou a viabilidade do uso de plásticos reciclados e RAP em misturas asfálticas, que demonstraram um bom desempenho estrutural e funcional, destacando-se pela sua durabilidade, resistência a afundamento de trilha de roda e à oxidação.
A redução dos impactos ambientais e a economia gerada pelo reaproveitamento de materiais reforçam a relevância da continuidade das pesquisas e da implementação dessa tecnologia no setor rodoviário, segundo eles.
“No âmbito da inovação, dos resultados e da relevância, o asfalto com plástico não apenas atende a padrões técnicos, mas também contribui substancialmente para a sustentabilidade ambiental, a redução de resíduos plásticos e o aprimoramento da infraestrutura rodoviária. A iniciativa da Eixo-SP representa um avanço tecnológico em direção a um futuro mais sustentável, servindo como modelo inspirador nacional e internacional para soluções inovadoras e eficazes na mitigação da poluição plástica”, concluem os pesquisadores.
Conheça os autores
Assis Villela – Gerente de Pavimentação da EixoSP | Robinson Avila – Diretor de Engenharia da EixoSP | Emerson Rodrigues Maciel – Gerente de Soluções em Engenharia da Stratura Asfaltos.
