O rodízio, segundo a ameaça da prefeitura, deverá ampliar-se, a partir do chamado centro expandido, para as periferias. Vai alcançar o cidadão lá nas franjas da região metropolitana e, se calhar, mais adiante ainda. Mas, há um tropeço aí. Tudo bem que haja e se torne cada vez mais incisiva a restrição ao carro particular. Tal medida, no entanto, não deveria ser previamente acompanhada de maior facilidade para um transporte público eficiente e de qualidade?
Acredito que já seja hora de se convocar a engenharia de tráfego para colocar uma ordem nas coisas. Como está, a política vem distribuindo as cartas e, segundo os usuários de carro e do transporte público, sem critérios apoiados em estudos que levem em conta os problemas da população.
Há uma questão grave de mobilidade. Com a restrição já adotada, por conta das faixas exclusivas de ônibus, muitos cidadãos são levados por familiares aos locais onde é possível ele tomar condução a fim de chegar ao local de trabalho, ao hospital ou a outro qualquer equipamento urbano. Ele já sente na pele o impacto da carência de transporte público adequado; já se ressente da falta de sítios onde possa ao menos desembarcar (caso da estação Butantã) para ter acesso ao metrô. E há áreas de onde descer é um sacrifício, mesmo de carro; e onde, subir, é tarefa para alpinistas. Os moradores da rua Monte Caseiros, na Vila Gomes, que o digam.
Há áreas para as quais já deveriam ter sido cogitados, há muito tempo, projetos e instalação de escadas rolantes. Mas, numa cidade onde o cidadão invariavelmente é tratado como inimigo público número 1, seria pedir demais que ao menos se cogite de uma solução desse tipo. Para os donos do poder, se ele resolveu morar em sítios altos, que trate de descer, se possível, amarrado numa corda.
De sorte que estamos ao sabor de uma política que se volta mais para o contingente que usa predominantemente o transporte público, mas que expulsa o sujeito, usuário do veículo particular, para as remotas periferias. Para ele é válida a recomendação oficial de que use ônibus, metrô, bicicleta ou então, caminhe. Será uma caminhada longa cidade adentro.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira