Brasil usa três vezes mais fontes renováveis do que países desenvolvidos

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O emprego de novas matrizes energéticas renováveis cresce no País e pode se aproximar dos 47% nos próximos anos, de acordo com previsões do governo
Enquanto países desenvolvidos utilizam 14% de fontes renováveis em suas matrizes energéticas, o Brasil já aproveita 46,4% dessas opções, desde 2007, segundo o governo e conforme previsão do Plano Nacional de Energia 2030. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), até 2030, serão necessários investimentos da ordem de US$ 804 bilhões no setor energético nacional.

Para o ministro Edison Lobão, de Minas e Energias, os programas de álcool, biodiesel e de incentivo às fontes alternativas de energia se consolidam num momento de crescimento sustentável da economia. “A matriz energética brasileira passa por profundas e promissoras mudanças e o governo federal está investindo cada vez mais em pesquisa, novas tecnologias, geração e distribuição de energia”, afirma o ministro.

Independentemente do fato de se ter atingido o status de auto-suficiência em petróleo da descoberta de novas e promissoras jazidas, o governo e a iniciativa privada têm de continuar a busca por novas fontes renováveis de energia.

Energia de reserva

Recente leilão de compra de energia de reserva, exclusivo para biomassa, foi realizado tendo como conseqüência a contratação de 548 lotes de 31 empreendimentos de geração, o que acrescentará ao Sistema Interligado Nacional (SIN) 2.379,40 MW de potência, demandando investimentos de R$ 4,5 bilhões.

A etapa de negociação do produto, para entrega em 2009, de acordo com o Ministério de Minas e Energia, foi encerrada com a contratação de 35 lotes, na modalidade contratual de disponibilidade de energia, o que viabilizou a incorporação de 229,50 MW de potência ao SIN. Os contratos negociados totalizaram R$ 695 milhões ao longo de 15 anos ao preço médio de venda (ICE) de R$ 60,86/MWh.

Em relação ao produto para entrega em 2010, foram negociados 513 lotes, equivalentes ao acréscimo de 2.149,90 MW de potência ao SIN. O preço médio de venda do segundo produto foi de R$ 58,71/MWh e o montante financeiro dos contratos chegou a R$ 10,0 bilhões.

O resultado do leilão possibilitou o aumento da participação da biomassa na matriz elétrica nacional.

Além disso, os preços finais indicaram a existência de competição. O menor preço ofertado de R$ 52,69/MWh, corresponde a um decréscimo de 13,6% em relação o preço inicial de R$ 61,00/MWh.

Biodiesel

O biodiesel é um combustível biodegradável derivado de fontes renováveis como óleos vegetais e gorduras animais que, estimulados por um catalisador, reagem quimicamente com o álcool ou o metanol. Existem diferentes espécies de oleaginosas no Brasil das quais se pode produzir o biodiesel, entre elas mamona, dendê, girassol, babaçu, pinhão manso, algodão e soja.

De acordo com o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), quase 90% do biodiesel brasileiro derivam do óleo de soja. A concentração da soja nesse segmento é confirmada pelo Ministério de Minas e Energia e pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Entretanto, os órgãos estimam que ela seja de 60 a 70%.

O combustível pode substituir total ou parcialmente o diesel de petróleo em motores ciclodiesel de caminhões, tratores, camionetas, automóveis e também é possível empregá-lo na geração de energia e calor. Pode ser usado puro ou misturado ao diesel em diversas proporções. A mistura de 2% de biodiesel ao diesel de petróleo é chamada de B2 e assim sucessivamente, até o biodiesel puro, denominado B100.

No Brasil, a introdução do biodiesel na matriz energética de combustíveis vem sendo realizada por meio do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), um programa interministerial lançado em dezembro de 2004. Os objetivos do PNPB compreendem a organização da cadeia produtiva, a definição de linhas de financiamento, estruturação da base tecnológica e estabelecimento do marco regulatório do novo combustível.

A Lei do Biodiesel no Brasil prevê a obrigatoriedade da adição de um percentual mínimo do produto ao óleo diesel mineral, em qualquer parte do território nacional. Esse percentual mínimo obrigatório foi de 2% , de janeiro a junho de 2008. Resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) determinou que a mistura obrigatória passasse a 3% a partir de 1o de julho de 2008. O governo federal, entretanto, tem manifestado a intenção de antecipar para 2010 a obrigatoriedade dos 5% inicialmente previstos apenas para 2013.

A mistura de 2% do biodiesel ao diesel de petróleo implica utilização de 1,5 milhões ha, o que representa apenas 1% da área plantada e disponível para agricultura no País (150 milhões ha).

O biodiesel pode ser utilizado ainda na geração e abastecimento de energia elétrica em comunidades isoladas, hoje dependentes de geradores movidos a óleo diesel. Nessas regiões, poderão ser aproveitadas oleaginosas locais.

O biodiesel também proporcionará mais empregos no campo e na indústria a partir do plantio das matérias-primas, da assistência técnica rural, da montagem e operação das plantas industriais para produção, do transporte e da distribuição.

O destaque da cana

A cana-de-açúcar alcançou, em 2007, a posição de segunda fonte primária de energia no Brasil. Segundo o Balanço Energético Nacional (BEN), divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a participação dos produtos derivados da cana (entre os quais o etanol e o bagaço) na composição das fontes primárias chegou a 16%, figurando na vice-liderança entre os energéticos mais demandados no ano passado – perdendo apenas do petróleo e seus derivados, com 36,7%, e superando a energia hidráulica, com 14,7%.

A demanda brasileira por energia (chamada de Oferta Interna de Energia) cresceu 5,9% em 2007, totalizando 239,4 milhões t equivalentes de petróleo (tep). A taxa de expansão foi superior a da economia brasileira no ano passado, de 5,4%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O maior crescimento dentre todas as fontes, na comparação entre os dois últimos anos, ficou com os produtos da cana-de-açúcar, cuja oferta cresceu 17,1%. A forte expansão reflete o crescimento do consumo do etanol e o uso mais intenso do bagaço para geração de energia termelétrica.

O etanol foi o grande responsável por esse avanço no uso energético da cana. A sua demanda total (con

sumo interno mais exportações) foi de 20,1 bilhões de litros.

Apenas o consumo doméstico de álcool hidratado apresentou aumento de 46,1%, chegando a 10,4 bilhões de litros em 2007. O crescimento do etanol desencadeou o aumento da produção de cana. A safra foi de 495 milhões de toneladas (crescimento de 15,7%), decorrente, em parte, pelo aumento de produtividade, já que a área colhida cresceu apenas 8,2%, abrangendo 6,7 milhões de hectares.

Além disso, contribuíram para a expansão do etanol a decisão do governo de aumentar de 23% para 25% a proporção de álcool anidro na gasolina C e a expansão da frota de veículos flex fuel, que se beneficiaram de preços médios mais baixos do que o da gasolina (em contraposição, o consumo de gasolina pura caiu 3,9%). A maior produção de cana significou também maior oferta de biomassa (bagaço).

Outras fontes renováveis

De acordo com o ministro Lobão, “embora tenha o maior potencial hidrelétrico do mundo, o Brasil segue, em parceria com outras nações, em busca do desenvolvimento de usinas hidrelétricas nas regiões de fronteira e de novas fontes energéticas limpas e renováveis, como a solar, a eólica e a proveniente de biomassa”.

O etanol é um caso típico de investimento brasileiro que está dando certo, segundo ele. “Trata-se de excelente alternativa aos combustíveis fósseis, muito utilizados nos meios de transporte. Mais econômico e muito menos poluente que a gasolina e o diesel, o etanol é uma realidade que coloca o Brasil na vanguarda das soluções energéticas não poluentes do mundo. Em 2008, o consumo nacional de etanol em veículos leves superou o de gasolina. Um marco a ser destacado”, diz Lobão.

Os resíduos industriais e a energia eólica cresceram 11,8%, tomados em conjunto. A participação das fontes renováveis na matriz energética brasileira elevou-se de 44,9%, em 2006, para 46,4%, em 2007.

Também cresceu o uso do carvão mineral (8,6%), em razão do aumento da produção e do consumo de coque metalúrgico, de aplicação na indústria siderúrgica, principalmente. Esse aumento veio em função do crescimento da economia e da produção doméstica de aço. Já o consumo de urânio caiu 9,9%, em razão do decréscimo na produção das usinas termonucleares de Angra 1 e 2. Essa queda foi em parte compensada pelo aumento de 5,6% na energia de origem hidrelétrica.

Todas as demais fontes primárias de energia (petróleo, gás natural, lenha e carvão vegetal) cresceram a um ritmo inferior ao crescimento da economia, o que, no entanto, não alterou o peso proporcional de cada uma delas na matriz energética brasileira.

Energia eólica

Crescem as perspectivas da utilização da energia eólica dentro do panorama energético mundial. Esse tipo de fonte renovável de energia apresenta custo reduzido em relação a outras alternativas. O mercado de usinas eólicas movimenta US$ 2 bilhões no mundo, apresentando 30 mil turbinas de grande porte em operação e capacidade instalada para a produção de cerca de 13.500 MW.

A energia gerada pelo aproveitamento dos ventos deverá garantir 10% das necessidades mundiais de eletricidade até 2020, criando 1,7 milhão de novos empregos e contribuindo para reduzir a emissão global de dióxido de carbono na atmosfera em mais de 10 bilhões de toneladas. Os países que mais usam essa tecnologia são a Alemanha, a Dinamarca e os Estados Unidos, seguidos pela Índia e a Espanha.

No Brasil, o estado do Ceará destaca-se por ter sido um dos pioneiros a desenvolver um programa de levantamento do potencial eólico, que já é consumido por cerca de 160 mil pessoas. Outros estados que também fizeram medições nessa área são Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Pernambuco e a ilha de Marajó.

O Ceará, com recursos garantidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), de cerca de R$ 95 milhões, está investindo na construção do Parque Eólico de Beberibe. O financiamento foi aprovado no âmbito do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia (Proinfa) e a obra faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O projeto está a cargo da empresa Eco Energy Beberibe Ltda., controlada pelo grupo Ecoenergy, líder internacional em redução de emissões de gases de efeito estufa.

Com potência instalada de 25,6 MW, o parque deve gerar durante a construção cerca de 400 empregos diretos e indiretos. Segundo o BNDES, o contrato de compra e venda de energia elétrica firmado com a Eletrobrás tem 20 anos de vigência. O parque será interligado ao sistema de distribuição de energia elétrica da Companhia Energética do Ceará (Coelce).

O Parque Eólico de Beberibe se localiza na Praia das Fontes (CE), a 93 km ao sul de Fortaleza. O parque ocupa uma área de cerca de 70 ha, com instalação de 32 aerogeradores, de 800 kw de capacidade de geração cada. O empreendimento terá também uma subestação de potência, subestações de tensão, rede de distribuição coletora subterrânea e edificações que servirão de base administrativa e operacional.

O Rio Grande do Sul também se destaca com a implantação dos Parques Eólicos de Osório, no Rio Grande do Sul, considerado a maior instalação desse tipo da América Latina, com capacidade para gerar 150 MW, com a utilização de 75 aerogeradores (2 MW cada). O complexo é formado por três plantas – Osório, Sangradouro e Índios.

Segundo o Atlas do Potencial Eólico Brasileiro, o potencial de geração eólica de energia do País é da ordem de 143 GW (mais de 10 Itaipus). Para se ter uma idéia da grandeza desse número, basta citar que todo o parque gerador brasileiro produz 96 GW. Só a região Nordeste, considerada uma das regiões mais bem servidas de ventos do planeta, responde por uma capacidade avaliada em 75 GW. No Brasil, entretanto, só 0,23% da oferta de eletricidade tem origem eólica.

Entre as barreiras para o incremento dessa fonte de energia no Brasil, os técnicos do setor destacam: ausência de política de incentivo ao desenvolvimento da indústria nacional de equipamentos (apenas duas empresas fornecem equipamentos para a geração de energia eólica no País); falta de condições de financiamento; problemas com o licenciamento ambiental; dificuldades de conexão à rede (regulamentação, custo e estrutura física); e ambiente político-regulatório incerto (aumento dos custos).

Energia elétrica

A oferta interna de energia compreende todo o consumo final de energia, das pessoas e das empresas, e, ainda, a energia gast

a na transformação (produção de outras formas de energia a partir de fontes primárias), como nas refinarias, destilarias de álcool, centrais de geração de eletricidade etc. Apesar do aumento expressivo em relação a 2006 (5,9%), o resultado de 2007 indicou que importantes mudanças estruturais devem estar em curso na economia nacional, com aumento da eficiência no uso da energia. Isso é muito claro no caso da energia elétrica.

A intensidade elétrica do PIB, medida em kWh/mil US$ caiu 0,9% de 2006 para 2007, apesar de ter havido expressivo incremento no consumo per capita (kWh/hab.), de 11,7%.

Mas, isso também se verifica quando se considera o consumo de energia como um todo. Com efeito, a intensidade energética do PIB, medida em tep/mil US$, apesar de ligeiramente maior do que a de 2006 (+0,5%), é a mesma que se registrou em 1990: 0,182 tep/mil US$. Isso se observa não obstante a demanda per capita de energia ter crescido 4,4% em 2007, atingindo 1,3 tep/hab.

A oferta interna de energia elétrica, ou demanda total de eletricidade, registrou um aumento de 4,9% em 2007, chegando a 482,6 terawatt/hora (TWh). A tabela abaixo mostra o grande peso da oferta de hidreletricidade no Brasil, com 371,5 TWh oriundos dessa fonte – sem contar o volume importado de Itaipu Binacional.

Com o aumento da participação da geração hidráulica no ano passado, a fatia dessa fonte na matriz elétrica chegou a 85,6% (somada à importação). O gás natural, que detinha uma fatia de 4% na oferta interna de eletricidade em 2006, perdeu espaço e encerrou o ano seguinte com 3,3% de mercado. Já a biomassa, de lenha, bagaço de cana, lixívia e outras recuperações, representa no BEN 2008 um alcance de 4,1% na demanda por energia elétrica.

Energia solar

Quase todas as fontes de energia (hidráulica, biomassa, eólica, combustíveis fósseis e energia dos oceanos) são formas indiretas de energia solar. A radiação do sol, entretanto, pode ser utilizada diretamente como fonte de energia térmica, para aquecimento de fluidos e ambientes e para geração de potência mecânica ou elétrica. Pode ainda ser convertida diretamente em energia elétrica, por meio de efeitos sobre determinados materiais, entre os quais se destacam o termoelétrico e o fotovoltaico.

Apesar do grande potencial que tem para desenvolver a energia solar, o Brasil ainda utiliza muito pouco essa alternativa, por causa dos altos custos. Enquanto o MW/hora da energia solar custa em torno de R$ 600, o MW/hora da Usina Hidrelétrica de Jirau, por exemplo, foi leiloado por R$ 71,40. Em função disso, são gerados apenas 20 MW de potência em todo o país com energia solar. Só na Usina Hidrelétrica de Itaipu são gerados 14 mil MW.

O governo federal afirma que está estudando formas de incentivar a substituição de chuveiros elétricos por energia solar. O foco será dado para a população de baixa renda, além dos setores de serviços e comércio.

De acordo com o Ministério de Minas e Energia, estão sendo ouvidos possíveis parceiros para projeto com esse fim, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal. O governo estuda uma forma de incentivar o uso mais amplo dessa tecnologia e reconhece a importância de se capacitar profissionais para o setor de energia solar.

Entre os vários processos de aproveitamento da energia solar, os mais usados atualmente são o aquecimento de água e a geração fotovoltaica de energia elétrica. No Brasil, o primeiro é mais encontrado nas regiões Sul e Sudeste, devido a características climáticas, e o segundo, nas regiões Norte e Nordeste, em comunidades isoladas da rede de energia elétrica.

Fonte: Estadão


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