Os governos, em suas várias instâncias, têm errado muito ao longo dos anos, prosseguiram com diretrizes equivocadas em 2009 e, neste 2010 que se inicia, continuarão a provocar graves prejuízos à sociedade, caso não mudem de orientação nos planos concebidos para diversas áreas, em especial naquelas em que hoje o País contabiliza perdas e danos irreparáveis: o meio ambiente e a infraestrutura.
Os equívocos, ocasionados por interesses ou pela falta de um planejamento orgânico, estruturado considerando os diversos vetores de crescimento e condições atualmente influenciadas pela climatologia – basicamente, na América do Sul, o aquecimento relacionado ao El Niño, conforme tem salientado o professor Aziz Nacib Ab´Saber – traduzem-se em tragédias, no geral, previsíveis.
O deslizamento de encosta em Angra dos Reis, onde se registraram cerca de 50 óbitos; as mortes na Baixada Fluminense; a vulnerabilidade nunca antes vista em São Paulo, onde alguns bairros passaram a viver debaixo d´água e sob o pânico de que outros mais tenham a mesma infelicidade; o colapso da histórica São Luís do Paraitinga, que ficou submersa pelas águas do rio Paraitinga e está com mais de 300 prédios de seu acervo arquitetônico destruídos; a ponte que se fragmentou, como um pedaço de papel, no rio Jacuí-RS, onde morreram 10 pessoas, tudo isso somando-se às tragédias que continuam a acontecer em Minas, no Espírito Santo e Santa Catarina. E poderíamos acrescentar fenômenos semelhantes em outras regiões brasileiras.
Na grande maioria dessas tragédias a causa apontada é uma só: o desrespeito à natureza, com a escandalosa e anárquica ocupação do solo, seja pelas populações pobres, porque não têm aonde ir, seja pela elite predatória e inconsequente, que sabe para onde vai, mas insiste em ocupar áreas, mesmo de risco, nas quais podem ficar insuladas em transitório conforto paradisíaco. A urbanização, de norte a sul, negligencia os riscos; os planos diretores são esquecidos; obras de drenagem são lembradas e eventualmente executadas, só depois do fato consumado. E milhares de pessoas vivem penduradas nas encostas da Serra do Mar, ao arrepio da legislação.
O grave, nos diversos acontecimentos que vêm sendo registrados, é a incoerência do planejamento, que não considera as assertivas da engenharia, em especial da geologia. A rigor, os especialistas têm sido chamados a manifestar opiniões e a elaborar pareceres, apenas para constar ou depois da casa destruída.
À margem dessas ocorrências, o País vive como se estivesse numa ilha de tranquilidade: o governo federal pretende construir o Trem de Alta Velocidade (TAV), a custos que chegam a cerca de R$ 35 milhões, como se tal obra fosse absolutamente prioritária, em relação às obras urbanas ou de infraestrutura que podem movimentar a economia básica brasileira; o governo do Rio de Janeiro gasta, em pagamento de diárias com viagens ao exterior, R$ 2,3 milhões e, só com pagamento de horas extras, o Congresso Nacional disponibiliza perto de R$ 88 milhões em 2009.
Enquanto isso, chegam, com 2010, os aumentos de taxas e impostos.
Em meio a esses acontecimentos aqui sumariados, há outro que se insere no conjunto de carências de cuidados no âmbito da administração e das influências que um planejamento mais rigoroso, no que diz respeito à engenharia, poderia ter evitado. Referimo-nos à viga que desabou dos pilares do trecho sul do Rodoanel, em São Paulo, provocando a queda de outras duas, despedaçando veículos e quase matando três pessoas, na Régis Bittencourt. Pois bem: saiu o laudo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Ele confirma que foram três os fatores determinantes no desastre: falta de horizontalidade das superfícies das bases de apoio das vigas; insuficiência de atrito na interface das vigas com as bases de apoio e falta de travamento adequado das peças. Em resumo: falhas de execução.
Fonte: Estadão