Regina Ruivo — Cidade do Cabo (África do Sul)
Em um cenário de beleza mágica, entre a Montanha da Mesa e as águas do Oceano Atlântico, o que mais chama a atenção nesta região sofisticada da Cidade do Cabo (África do Sul) é o Cape Town Stadium, construído especialmente para abrigar os jogos da Copa do Mundo de 2010. |
Ele foi projetado pelo escritório alemão Gerkan, Marg & Partner Architects (GMP), em conjunto com duas empresas locais – Louis Karol & Associates e Point Architects. A GMP é a projetista do estádio de Manaus, e, em conjunto com escritórios brasileiros, das arenas de Brasília e Belo Horizonte, e da reforma do estádio do Morumbi, em parceria com o arquiteto Ruy Ohtake.
O terreno abrigava o Green Point, antigo estádio de futebol com capacidade para 18 mil torcedores, demolido para dar lugar ao novo, para mais de 66 mil pessoas (13 mil assentos removíveis), com três fileiras de arquibancadas, dois anéis com camarotes e 1.354 assentos vips, 920 locais para imprensa escrita, 312 para comentaristas e 100 fotógrafos, erguido ao custo de R$ 1,1 bilhão, ou 4,5 bilhões de rands, a moeda local. É o mais caro estádio até hoje construído para a competição e possui fachada envolvida em fibra de vidro e teflon, o que lhe dá uma aparência translúcida.
Roda de bicicleta
As obras, iniciadas em 2007, foram interrompidas algumas vezes por conta de greves dos 2.700 operários, que exigiam melhores salários e condições de trabalho. O estádio foi entregue oficialmente no dia 14 de dezembro de 2009 e em janeiro de 2010 foi inaugurado com uma partida entre os times locais Ajax e Santos.
Os trabalhos estiveram a cargo das construtoras Murray & Roberts (M&R) e Wilson Bayly Holmes-Ovcon (WBHO). A cobertura, com 37.500 m², é constituída por 9 mil painéis de vidro de 16 mm, com peso de 4.700 t, para proteção contra chuva e vento, e foi projetada especialmente para isolar os sons emitidos durante os jogos e espetáculos musicais, pelo fato de o estádio estar situado próximo a um hospital e no coração da principal região turística da Cidade do Cabo – o Victoria and Alfred Waterfront – misto de cais, marina, praia, calçadões, lojas de artesanato, a antiga Torre do Relógio, aquário, roda gigante réplica da London Eye, de Londres, e muitos bares e restaurantes ao ar livre.
A cobertura acabou sendo o maior desafio da construção: é composta por 72 cabos tensionados, que unem os anéis exteriores aos interiores e fazem o papel de raios de uma roda de bicicleta aberta ao meio, os quais tiveram de ser perfeitamente esticados a uma carga pré-calculada para que a cobertura fosse içada em segurança do solo, onde foi montada, até seu local.
A Liebherr-Werk Biberach GmbH foi a fornecedora dos 19 guindastes de torre, com giro na parte superior, adotados na execução dos trabalhos, entre os quais 12 equipamentos novos, modelos 200 EC H 10, 280 EC H 12 Litronic e Flat-Top 200 EC B 10 Litronic.
O quê fazer?
Com três times locais – Ajax, Santos e Vasco da Gama – que reúnem de 15 a 20 mil torcedores, insuficientes para lotar o estádio, a cidade vive um impasse. O futebol não é o esporte favorito da população, perdendo para o rúgbi e o críquete. Como bancar os 4,5 milhões de rands mensais de manutenção? Antes da Copa e até o final de 2010, o estádio foi administrado pelo Consórcio Stade de France com uma empresa local. O custo alto e o fato de não se poder realizar eventos de negócios fizeram o acordo não prosperar após a Copa. “Só jogos esportivos não rendem o suficiente. É preciso fazer outros tipos de eventos. A partir de janeiro de 2011, a cidade decidiu administrar o Cape Town”, conta Lesley de Reuck, diretor do estádio.
O passo seguinte foi a contratação de consultores de negócio para desenvolverem outras fontes de renda. Shows de rock, lançamentos de carros BMW e até festas de casamento e de aniversário têm movimentando o caixa da arena. Uma das ideias é atrair as disputas de rúgbi, com 45 a 50 mil torcedores. Isto tem sido difícil, pois há preferência por se continuar usando o estádio existente. “Se conseguirmos, haverá 14 jogos por ano”, afirma Lesley.
Ele foi diretor de Operações durante a Copa e a experiência de coordenar transporte, segurança, voluntários e quiosques de venda de produtos permitiu-lhe observar deficiências de projeto, como o fato de a comercialização de alimentos estar apenas no andar térreo, o que incomoda as pessoas, que têm de subir até os outros pisos onde têm assentos. “Não há cozinhas integradas nos diversos pisos”, aponta. Em um evento na área vip, por exemplo, é preciso improvisar uma cozinha. Os quiosques contam com água gelada, mas precisam também de água quente para trabalharem.
As três entradas de público exigem a presença de seguranças em triplo. A manutenção é outro ponto que destaca: embora o material da fachada funcione muito bem, sua conservação é complexa.
Fonte: Estadão