As ferramentas de Tecnologia de Informação para criar a realidade virtual nas indústrias do cinema e da engenharia são as mesmas, assim como o impacto junto ao público na hora de apresentá-la. No âmbito da engenharia, a exposição de uma imagem virtual semelhante à de filmes de recursos técnicos avançados, proporciona às pessoas entender os reais benefícios de uma obra de infraestrutura futura para a população, em particular na região onde ela será executada, com todas as influências inevitáveis no cotidiano local. Como resultado, não é difícil o espectador se simpatizar com a obra — antes mesmo de se escavar o primeiro m³ de terra. O filme Avatar talvez tenha sido o divisor de águas - as figuras humanas de impressionante realismo, cavalgando com pássaros mais parecidos com dragões alados em cenários inimagináveis - de que dali para frente não haveria mais limites entre o que é possível criar em termos visuais nos monitores dos workstations e câmeras de filmagem, com o poder de processamento distribuído, propiciado por clusters de centenas de computadores. E para tornar essa nova fronteira tecnológica ainda mais instigante, surge a computação nas nuvens (cloud computing), com capacidade virtualmente infinita. Imagine agora todos esses recursos já usados na indústria do cinema acessíveis também em tablets e smartfones, isto é, a serviço da engenharia a partir dos próprios canteiros de obras. Nada de mandar as soluções de volta para o escritório para serem processadas - isto pode ser feito nas nuvens e os resultados são avaliados in loco, na obra, pouco tempo depois. No encontro da imprensa global realizada pela Autodesk, recentemente, em San Francisco, Estados Unidos, para lançar a edição 2013 dos seus softwares, a agência Caltrans, do estado da Califórnia, mostrou como as ferramentas de design, como Naviswork, Revit e outras, possibilitaram criar um vídeo com imagens locais e “cinematográficas” da sequência de construção da nova ponte no lado Leste da cidade, e os desvios de tráfego em cada etapa, sem interromper o uso na ponte existente. Este vídeo está postado no site www.baybridgeinfo.org, ao lado de uma infinidade de informações históricas da ponte atual e a sequência cronológica detalhada das obras da ponte nova. É o maior projeto de infraestrutura no País e levou 20 anos de estudos e campanhas de mobilização do público da região com o objetivo de atrair seu apoio ativo ao empreendimento. A paixão de São Francisco por pontes Da mesma forma que os moradores de San Francisco idolatram sua baía e as pontes que a atravessam, eles são muito engajados nas questões da cidade e do seu Estado, e adoram discuti-las à exaustão — de modo que tê-los a favor da nova Bay Bridge era fundamental para a Caltrans, ainda mais considerando que seria o maior projeto de infra da Califórnia, demandando vultosos recursos do estado — e dos Estados Unidos. A ponte antiga envolveu um esforço político formidável da Califórnia e do governo federal, pois obras públicas tinham um papel importante nos chamados anos de depressão. A pedra fundamental foi lançada em 9 de julho de 1933 e a ponte com seus 13,4 km era a mais longa do mundo. Sua construção demorou 3 anos e 5 meses e custou a quantia de US$ 77 milhões — valor astronômico na época e irrisória hoje. Ela ficou ainda US$ 6 milhões abaixo da estimativa inicial, outro fato impossível nos dias atuais: uma obra pública ficar mais barata do que o orçamento. Mais de 8.300 trabalhadores foram mobilizados nas obras, com salário de US$7,75/hora - houve 28 acidentes fatais durante os trabalhos. O projeto escolhido previa uma ponte de vigas em balanço entre Oakland e a ilha de Yerba Buena, no lado leste, e uma ponte pênsil da ilha até San Francisco, no lado oeste, com um túnel escavado de interligação entre as duas estruturas. O tabuleiro superior conduziria três faixas de trafego em cada sentido; o tabuleiro inferior tinha três faixas para tráfego rodoviário e duas faixas ferroviárias (os trens operaram de 1938 a 1958). No dia 17 de outubro de 1969, às 5h04 da tarde, um terremoto de magnitude 7.1 atingiu a região da baía. No lado leste, o tabuleiro superior do pilar E9 rompeu-se e desabou sobre o inferior, provocando o colapso deste. A ponte pênsil no lado oeste tinha maior flexibilidade inerente na estrutura e não sofreu danos. Houve apenas uma vítima fatal na confusão que se estabeleceu nas rotas de fuga da ponte. A estrutura foi fechada por um mês para reparos — mas o governo decidiu que a ponte do lado oeste precisava ser reforçada e a do lado leste seria demolida e substituída. Em 2002, foi iniciada a construção da nova Bay Bridge — a ponte do oeste receberia reforços na estrutura e no vão maior do lado leste seria construída a maior ponte suspensa autoancorada do mundo. Com conclusão prevista para 2013, o custo total da obra chegará a US$ 6,3 bilhões. Em cada uma dessas etapas, as ferramentas de projeto em 3D foram utilizadas pela projetista Parsons Brinckerhoff para criar a realidade virtual das estruturas futuras, mostrando suas sucessivas etapas de execução, ao lado da ponte atual em uso, e como o tráfego nos dois sentidos seria desviado por rotas provisórias. Esses vídeos são veiculados pelo site www.baybridgeinfo.org e servem ainda hoje para alertar o público das mudanças no tráfego, anunciadas com meses de antecedência. São as técnicas do cinema aplicadas na engenharia. Computação ilimitada nas nuvens Ao lançar os seus pacotes de software chamados Suítes edição 2013, no evento da imprensa global em San Francisco, onde o Brasil foi representado pelas revistas O Empreiteiro e a IstoÉ Dinheiro, o presidente da Autodesk, Carl Bass, enfatizou que a computação nas nuvens está redefinindo o cenário global onde o usuário passa a ser o centro, onde quer que ele esteja fisicamente. Como a capacidade de processamento na nuvem pode ser ampliado de forma infinita, análises que antes eram feitas em workstations nos escritórios podem ser feitas na nuvem - em apenas 15 minutos. Esse serviço pode ser acessado via tablets e smartfones e o usuário não precisa mais voltar ao escritório para localizar seus arquivos. A plataforma AutoCAD WS foi lançada há cerca de dois anos; hoje são mais de 7 milhões de usuários, que “sobem” 300 mil arquivos toda semana—1.800 arquivos por hora. Carl considera essa popularidade como prova sólida de como as pessoas estão mudando sua maneira de trabalhar. O tablet atual possui maior capacidade do que as workstations antigas e essa potência se dobra a cada poucos meses — e o preço segue no rumo oposto. Carl é da opinião que o potencial dos tablet mal começa a ser explorado pelos usuários de engenharia. Amar Hanspal, vice-presidente sênior de Modelagem de Informação e Plataformas, comemorou a superação da barreira de 60 milhões de usuários pela empresa. “Estamos ajudando os cérebros mais brilhantes a resolver os maiores desafios de infraestrutura, como transportar 7 bilhões de pessoas, dar acesso à água limpa...”, afirma. O AutoCAD está embutido em cada um dos suítes 2013, todos projetados para dialogar entre si e aplicar as ferramentas de modelagem e visualização. Ele cita como exemplo os produtos Maya e MotionBuilder, do grupo de Mídia e Entretenimento, que coloca a tecnologia desenvolvida para o filme Avatar, de James Cameron, ao alcance de todos, com uma interface consistente e amigável ao usuário, comandando um fluxo de trabalho que pode ser encaminhado às nuvens através de um só click.Amar afirma que a interoperabilidade dessas ferramentas está contribuindo para que a construção assimile as práticas de montagem da indústria manufatureira, na busca de melhor qualidade, durabilidade e prazo de execução. Da mesma forma, a indústria de manufatura precisa criar narrativas sobre seus produtos para sensibilizar o público usuário, aprendendo com a mídia e a indústria do entretenimento. No Infrastructure Design Suíte, a ferramenta Modeler constrói as diferentes alternativas de projeto ao abordar uma obra, apresentando os variados projetos resultantes para engajar o cliente e o público no processo da escolha final. A plataforma de simulação foi utilizada pela empresa americana Perkins Contractors para planejar o transporte de diversos componentes de usina nuclear, de elevado peso e formato indivisível, sobre carretas com quase uma centena de rodas. As rotas possíveis foram simuladas, os imprevistos “calculados” com suas respectivas soluções e custos. Com esses estudos detalhados, o trabalho foi realizado no prazo e sem sobressaltos. Como essa simulação foi feita nas nuvens, a empresa pagou apenas o tempo de processamento que utilizou. Dana Propert, gerente de marketing técnico da Autodesk, mostrou na sua apresentação a evolução dos softwares de projeto de infraestrutura, destacando a interoperabilidade entre o projeto conceitual e o detalhado, que trocam dados entre si. O formato IMX exporta dados do projeto conceitual para o CAD e vice-versa. A ferramenta Infrastructure Modeler pode inclusive capturar desenhos feitos à mão e extrair medidas, raios etc. Em projeto de ferrovia, há recursos para definir a geometria das linhas; sobre elevação vertical nas curvas; o Subassembly Composer que detalha túneis, muros divisórios etc.; o CivilView 3D que simula a linha ferroviária pronta do ponto de vista do passageiro; além de facilidades para integrar os projetos dos túneis e pontes ao projeto da via.