Foi mais um projétil político – e menos uma circunstância de conotação técnica na condução dos trabalhos na Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT) – que abateu o economista Bernardo Figueiredo, retirando-o da diretoria-geral daquele órgão, à frente do qual vinha conduzindo as gestões para a elaboração do projeto e de todas as fases do edital para a construção do Trem de Alta Velocidade brasileiro, o Trem-Bala.
Bernardo, economista, com ampla vivência no setor ferroviário, com passagens pelo extinto Geipot, Rede Ferroviária Federal, Valec, Ministério do Planejamento e por outros órgãos e entidades ligadas de um modo ou outro a políticas de transportes, sobretudo ferroviária, era considerado o homem certo da presidente Dilma, colocado no lugar certo para dar andamento aos trabalhos que tinham em vista tornar irreversível o projeto do Trem-Bala.
Ainda recentemente, convidado a participar de evento internacional das revistas O Empreiteiro e Engineering News Record, em Nova York, o Global Construction Summit 2012, ele cautelosamente se esquivou, transmitindo mensagem, através de sua assessoria, de que a gestão dele, na ANTT, estava em fase de conclusão e que só ponderaria sobre o convite, caso viesse a ser reconduzido pelo Congresso Nacional à diretoria-geral da agência.
Aparentemente, pelo menos do ponto de vista de setores do mercado, não havia indícios de manifestações contrárias à recondução do economista àquela função, apesar das informações, que circulavam no Planalto – e fora dele – de que ele não deveria continuar a pressionar empreiteiras em favor do Trem-Bala. As gestões deveriam ser conduzidas de modo a obter o convencimento mediante as justificativas técnicas e econômicas, mostrando o Trem de Alta Velocidade como um projeto necessário ao crescimento do País, notadamente do eixo Campinas-São Paulo-Rio de Janeiro – e que o Brasil dispunha, como dispõe, de engenharia capacidade para obra dessa envergadura.
Nada disso, no entanto, evitou que interesses difusos, permeando insatisfações com eleições municipais e distribuição de cargos que favoreciam o governo federal, se conjugassem no Congresso Nacional, na base aliada, em especial no PMDB, PDT e PR, para minar a recondução de Bernardo Figueiredo à diretoria-geral da ANTT.
O comportamento dos parlamentares da base aliada, que assim agiram utilizando-se do mecanismo do voto secreto, provocou perplexidade e indignação junto ao governo. A decisão é curiosa, em especial porque a Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI) aprovara, anteriormente, por 16 votos favoráveis e uma abstenção, a recondução de Bernardo Figueiredo para uma gestão de mais dois anos na ANTT.
Ele é retirado da agência, quando preparava nova minuta de edital do Trem de Alta Velocidade. A partir dessa iniciativa, ele partiria para uma série de audiências públicas, na tentativa de mostrar a viabilidade do projeto. A realização do leilão de concessão continua prevista para novembro próximo. O governo deverá empenhar-se no cumprimento de duas etapas do processo para construção do TAV: na primeira será selecionada a tecnologia a ser adotada nesse meio de transporte e, na segunda, escolherá a empresa que deverá operar o trem. Para o ano que vem – 2012 – prevê-se o leilão para a contratação das empresas construtoras que colocarão a mão na massa e construirão 511 km de trilhos. Contudo, os custos, originalmente calculados em até R$ 22 bilhões, podem chegar a mais de R$ 50 bilhões, segundo estimativas de entidades dos empreiteiros. Há o receio, porém, de que, sem Bernardo Figueiredo, as tratativas, nesse sentido, sejam mais difíceis.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira