Com o contrato de concessão assinado em janeiro, o trecho de 303,4 km da BR-381, que corta Minas Gerais e exigirá investimentos da ordem de R$ 9,3 bilhões do consórcio vencedor do leilão, já teve as obras emergenciais iniciadas. A rodovia é uma das estradas federais com alto registro de acidentes.
Vencedor do leilão, o fundo 4UM Investimentos – controlado pelo grupo paranaense J.Malucelli, associada às empresas MLC, Aterpa e Senpar – criou a concessionária Nova 381, que responderá pela operação e manutenção da BR-381 em Minas Gerais ao longo de 30 anos. O trecho abrange 13 cidades às margens da estrada e outras que dependem indiretamente dela, resultando em um tráfego médio de 24,7 mil veículos ao dia.
Após três leilões frustrados no governo anterior, a 4UM venceu o certame organizado pelo Ministério dos Transportes em agosto do ano passado, depois de o edital ser reestruturado. O grupo apresentou o valor de desconto de 0,94% sobre a Tarifa Básica de Pedágio (TBP) de pista simples (R$ 0,18380/km) e de pista dupla (R$ 0,25732/km). “Nós corrigimos o projeto, mitigamos riscos geológicos e de engenharia que atrapalhavam a atratividade para a iniciativa privada”, afirmou o ministro dos Transportes, Renan Filho.
De acordo com Marcelo Boaventura, diretor-presidente da Nova 381, os trechos mais críticos da BR-381 já estão mapeados e tiveram as obras emergenciais iniciadas. Os trechos prioritários foram identificados em um trabalho conjunto entre a Polícia Rodoviária Federal, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o movimento Pró-Vidas e a concessionária Nova381. Essas intervenções fazem parte do plano emergencial dos primeiros 100 dias de concessão.
“As melhorias incluem a implantação e reforço da sinalização horizontal e vertical, ajustes em desvios de obras existentes, roçada das margens da rodovia e instalação de guarda-corpos em Obras de Arte Especiais (OAE)”, esclarece Boaventura.
Segundo o executivo, existem dois tipos de pavimento no trecho: o rígido (concreto) e o flexível (CBUQ). Para os trechos de pavimento rígido será realizada a recomposição das placas danificadas, selagem de trincas e cepilhamento. Já no trecho de pavimento flexível, as intervenções podem variar conforme a patologia identificada na fase de projeto. A princípio, será realizado a fresagem das camadas deterioradas e a recomposição do pavimento com massa asfáltica, além da aplicação de microrrevestimento.
Nos últimos anos a rodovia não recebeu os investimentos necessários, acarretando maior quantidade e intensidade nos serviços a serem executados ao longo do primeiro ano da concessão, frisa Boaventura. “Além disso, o grande volume de tráfego de veículos aumenta o grau de dificuldade das intervenções.” Um dos pontos críticos está localizado no trecho homogêneo TH53, localizado na variante do município de Antônio Dias, no qual existem vários deslizamentos e quedas de taludes na pista, o que gerou a necessidade de realização de diversos desvios de tráfego visando manter a trafegabilidade no segmento. “Em uma primeira etapa, estamos realizando um trabalho intenso de revitalização da sinalização horizontal, sinalização vertical, drenagem e conservação nesse trecho, objetivando aumento da segurança viária ao usuário”, completa o diretor-presidente.
A sinalização será substituída ou implantada de acordo com as normas brasileiras e as melhores práticas da engenharia. “A nova sinalização utilizará materiais de alta refletividade para melhorar a visibilidade, especialmente em condições adversas”, diz, destacando também as intervenções na iluminação. “Além da recuperação completa dos sistemas já existentes, está prevista a implantação de novos pontos de iluminação em vias marginais, interseções e nos principais acessos, proporcionando mais segurança e conforto para motoristas e pedestres.”
O contrato de concessão prevê a implantação de câmeras de monitoramento em até 36 meses da assinatura do Termo de Arrolamento. Já os sistemas de guinchos e ambulâncias estão previstos para o segundo semestre de 2025. Segundo o diretor-presidente, a frota será composta por 12 viaturas de inspeção ou remoção, dois guinchos pesados, dois caminhões pipa, dois boiadeiros, seis ambulâncias de resgate, duas UTI móveis, quatro motos de inspeção e duas motos de resgate.
Obras emergenciais contra alagamentos
Entre as obras de emergência está a recuperação e ampliação dos sistemas de drenagem para evitar alagamentos. Boaventura revela que a equipe de conservação está trabalhando para fazer toda a limpeza dos dispositivos de drenagem da estrada. “.Existem ao longo da rodovia vários locais em que pudemos identificar severos problemas de assoreamento dos dispositivos de drenagem. Identificamos também diversos pontos de alagamento que estavam relacionados com o assoreamento total dos bueiros. Para esses locais faremos o hidrojateamento para desobstrução e avaliaremos a necessidade de revitalização deles”, explica.
Também pontes e viadutos estão sendo recuperados. Em uma primeira etapa, que compreende os próximos 12 meses, está sendo realizada a recomposição dos guarda – corpos danificados, além da pintura, limpeza e desobstrução da drenagem das pontes e viadutos. “Em alguns casos, estamos fazendo também reparos ou substituição das juntas de dilatação quando identificado nas inspeções técnicas executadas”, diz o executivo.
Uma das obras fundamentais envolve a reforma da Ponte Torta, em João Monlevade, que compreenderá inicialmente três etapas – a restauração dos guarda corpos danificados, a recomposição da junta de dilatação e a limpeza e pintura da ponte. Esse trabalho estava previsto para iniciar em março, com conclusão até o meio do ano.
A junta de dilatação da Ponte Torta encontra-se em estado de desgaste avançado. “Ao longo do plano de 100 dias realizaremos a vistoria técnica da OAE que deverá recomendar o tipo de reparo ou mesmo a substituição da junta de dilatação. Além disso, faremos o monitoramento para avaliar suas condições estruturais. Um plano de intervenção mais abrangente, visando prolongar a vida útil da estrutura, será apresentado no decorrer de 2026”, revela Boaventura. “Além da Ponte Torta, todas as OAEs passarão por vistoria e serão contempladas com trabalhos similares”.
Uma das dificuldade para realização das obras é desenvolver o trabalho com a rodovia operando. Como nesse trecho a estrada é em faixa simples, serão necessárias operações “pare e siga”, com interrupção de uma das mãos de tráfego. “O planejamento das intervenções leva em consideração os horários de pico de tráfego, bem como dias de feriado e finais de semana, de forma a minimizar o impacto na fluidez do tráfego. A concessionária, por meio das redes sociais, vem divulgando campanha de informação sobre os locais das intervenções, de forma a permitir que o usuário possa programar a viagem da melhor forma
possível”, afirma Boaventura.
Duplicação se inicia em 2027
A duplicação do trecho da BR-381 em Minas Gerais só começará daqui a dois anos, mas já está em fase de projeto. De acordo com a Nova 381, existem obras de duplicação que devem ser entregues no terceiro ano da concessão. “A fase de projetos foi iniciada com os levantamentos de campo, incluindo estudos topográficos, sondagens e ensaios de solo, sendo o projeto executivo dos primeiros segmentos contratado em fevereiro”.
Ainda segundo ele, a prioridade de duplicação nos próximos 36 meses é o trecho TH53, que atualmente apresenta interdições devido a diversos deslizamentos de taludes e trechos inacabados de duplicação. “A conclusão dessa etapa será fundamental para a melhoria da segurança e fluidez do tráfego na região. Os demais segmentos serão duplicados, conforme previsto em contrato, até o sexto ano da concessão”, afirma Boaventura.
Além da duplicação, está prevista a construção de viadutos, passarelas e marginais. Dentro das obras de ampliação de capacidade, além dos 103 km de duplicação, estão previstas a construção de 23 passarelas, nove km de vias marginais, 82 km de faixas adicionais, 248 regularizações de acessos, nove interseções em desnível, 25 retornos em nível, 160 pontos de ônibus e 15 passagens para fauna.
A concessão da Nova 381 tem início em Belo Horizonte, no entroncamento com a BR-262 (sentido Sabará) até o entroncamento com a BR-116, em Governador Valadares. Contudo, há trechos que não fazem parte da concessão, como a ligação entre Caeté e Belo Horizonte. Dois lotes próximos à capital mineira ficarão a cargo do DNIT e receberão cerca de R$ 1 bilhão do governo federal para melhorias, segundo o Ministério dos Transportes.
A Nova 381 trabalha em parceria com o governo, como revela Boaventura. “A interface de comunicação com o DNIT está sendo conduzida com o apoio da ANTT. A concessionária será responsável pela operação dos guinchos e ambulâncias nos cerca de 30 km a capital Belo Horizonte e Caeté. Os investimentos nesse trecho rodoviário serão realizados pelo DNIT por meio de licitações públicas que foram realizadas nos últimos meses de 2024.”
Rota Agro Norte em Rondônia
Depois da BR-381, a 4UM foi vencedora, junto com o Opportunity, da chamada Rota Agro Norte – trecho da BR-364 em Rondônia, entre Porto Velho e Vilhena, município situado na divisa com o Mato Grosso. Chamado de Rota Agro Norte, por sua importância para o agronegócio, esse foi o primeiro leilão de uma rodovia federal na região Norte. Os investimentos previstos ultrapassam os R$ 10 bilhões.
O trecho concedido compreende pelo menos dez municípios e abrange importantes pontos de Rondônia, desde o entroncamento com a BR-435 até a BR-319, além de acessos estratégicos em Ji-Paraná e Porto Velho. Essa rodovia é um importante corredor logístico, facilitando o escoamento de grãos entre a região Centro-Oeste e os portos do Norte do País.
Perfil do gestor
O engenheiro civil Marcelo Boaventura tem 28 anos de experiência no setor de infraestrutura, com passagens pela CCR, Mendes Júnior e Via Engenharia, desenvolvendo projetos tanto no Brasil quanto no exterior. Iniciou sua carreira como engenheiro da construção pesada participando de vários projetos no setor de rodovias, indústria de óleo e gás e no mercado de concessão de infraestrutura.

