A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) programou investimentos para água, esgoto e desenvolvimento operacional da ordem de R$ 1,6 bilhão, sendo que 65% desse montante estão concentrados em obras de esgoto. Do montante de aportes programados no Estado, aproximadamente 45% do valor estão voltados para a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Uma das obras em destaque é a Estação de Tratamento de Esgotos do Onça, localizada na capital. “Em sua área de atuação, a Copasa atinge 99,4% dos imóveis com acesso à água tratada e 90,5% na coleta de esgotos, dos quais 79,5% são tratados.
Montante muito acima da média nacional, mas ainda aquém das metas de universalização traçadas para 2033”, afirma Márcia Fragoso Soares, diretora de Desenvolvimento Tecnológico, Meio Ambiente e Empreendimentos da empresa. “Por conta disso, as atenções estão mais voltadas para o tratamento de esgoto, sem, contudo, perder de vista os investimentos necessários ao tratamento e inovação nos sistemas de abastecimento de água”, enfatiza.
Segundo a diretora, dentre os inúmeros desafios da Copasa, além da ampliação de investimentos para atingimento das metas de universalização do acesso à água e esgotos tratados no Estado, está a redução do índice de perdas de água de 39% para 25% até 2033, bem como “mudanças nos formatos de contratação no intuito de dar mais celeridade às obras e ganho de eficiência operacional para melhoria da qualidade dos serviços da companhia”.
Um dos projetos de destaque na programação de obras da Copasa, a Estação de Tratamento de Esgotos do Onça, está localizada próxima à divisa de Belo Horizonte com Santa Luzia, sendo responsável pelo tratamento dos esgotos de parte do município de Contagem (26% ou 57,1 km2 ) e de grande parte de BH (73% ou 158,9 km2 ). A estação foi projetada no início dos anos 2000 para tratar uma vazão total de esgotos de 3,6 m3 /s e atender uma população, em final de plano, de 2 milhões de habitantes.
Foram projetadas duas linhas de tratamento com vazão de 1,8 m3 /s cada, tendo sido concebida com o processo de reatores anaeróbios de fluxo ascendente seguidos de filtros biológicos percoladores e de decantadores secundários. A primeira etapa das obras, que corresponde a uma das linhas de 1,8 m3 /s, foi implantada entre os anos de 2006 e 2010, estando em operação até os dias de hoje.
Com o crescimento demográfico e com o aumento expressivo dos índices de cobertura da coleta de esgotos nas bacias envolvidas, atualmente a ETE Onça alcançou o limite hidráulico da capacidade instalada da primeira linha de tratamento, passando a requerer uma ampliação das instalações. Paralelamente, no final de 2022, foi publicada uma nova legislação ambiental no Estado de Minas Gerais, que passou a determinar o aumento da eficiência dos processos de tratamento de esgotos, de modo a assegurar padrões de qualidade mais elevados para o efluente tratado.
Nesse contexto, encontra-se em desenvolvimento na Copasa o projeto de ampliação da ETE Onça para uma etapa intermediária, passando sua capacidade dos atuais 1,8 m3 /s para 2,7 m3 /s, “contudo agregando ao processo existente níveis avançados de tratamento dos esgotos, tanto do ponto de vista dos compostos orgânicos quanto de outros contaminantes, o que irá resultar em uma melhoria notável das condições hídricas nas bacias do Ribeirão do Onça e do Rio das Velhas”, esclarece Márcia.
São vários os desafios que serão enfrentados nessa obra, segundo a executiva. Entre eles, está a construção de novas unidades de tratamento de esgotos, canais, estruturas, tanques e instalação de vários equipamentos de alta complexidade dentro de uma planta de tratamento existente e em operação, “que não pode, sob nenhuma hipótese, ter sua funcionalidade interrompida”. “É preciso fazer um planejamento ultraminucioso das intervenções com uma complexa definição dos métodos construtivos, de modo a otimizar os prazos de construção e racionalizar os custos de implantação. A logística de fornecimento de materiais e equipamentos, podendo dentre esses últimos apresentar vários exemplares importados. Por fim, é preciso assegurar a perfeita interligação da nova planta com a existente, sem gerar prejuízos aos aspectos operacionais”, explica Márcia Soares. Ainda segundo ela, a tecnologia contribui para a produtividade nesse tipo de obra. “A tecnologia irá se destacar na obra de ampliação da ETE Onça em razão do padrão mais elevado de eficiência e tratamento avançado dos esgotos que será implantado.
Nesse sentido, os equipamentos passam a representar papel de destaque, porque devem ser especificados com elevada eficiência energética, resistência mecânica e à abrasão, durabilidade ao tempo e à agressividade do meio, além de tecnologias embarcadas de automação por ferramentas de IoT (internet das coisas) e inteligência operacional”, salienta. Para a ampliação da ETE, estimativas da Copasa indicam investimentos da ordem de R$ 600 milhões, cujo agente financeiro será ainda definido. De acordo com a diretora da empresa, o projeto encontra-se em fase de desenvolvimento e tem previsão de conclusão para o início de 2024.
As obras correspondentes serão licitadas ainda no primeiro semestre do próximo ano. Para o desenvolvimento do projeto de ampliação da ETE Onça foi contratado o consórcio Senha Engecorps. Segundo a diretora, ainda não há definição sobre as empresas de engenharia e construtoras, mas “os possíveis participantes do processo licitatório desse empreendimento serão as grandes construtoras do País e uma vasta linha de fornecedores de materiais e equipamentos como bombas, sopradores, válvulas, compressores, difusores e vários outros”. Segundo Márcia Soares, a ampliação da ETE engloba uma série de benefícios. “Essa obra tem um papel imprescindível para melhoria ambiental, especialmente para a qualidade de água da bacia do Ribeirão do Onça e Rio das Velhas.
Nesse sentido, os usuários da Copasa dessas bacias, em torno de 1,35 milhão de habitantes dos municípios de Belo Horizonte e Contagem, passarão a estar inseridos em um ambiente mais favorável, representando uma contribuição para a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas. Haverá também um impacto significativo para a população situada a jusante do lançamento da ETE Onça, que se beneficiará com a melhoria da qualidade da água do Rio das Velhas.”
Perfil
Márcia Fragoso Soares é graduada em Engenharia Civil pelas Faculdades Reunidas Nuno Lisboa e especialista em Geotecnia pela COPPE (UFRJ). Tem mestrado em Engenharia de Transportes, também pela COPPE, e MBA em Gestão Empresarial na FGV-RJ. Com mais de 30 anos de carreira, desenvolvida principalmente nas áreas de geotecnia e infraestrutura de transporte, Márcia Soares atuou como executiva em empresas de médio e grande porte, como Arteris e Invepar. Na Autopista Fernão Dias, do grupo Arteris, exerceu o cargo de diretora operacional, como principal administradora da companhia. Atuando junto ao grupo Pátria Investimentos, na função de consultora, teve participação direta na elaboração da proposta vencedora do grupo – Lote D – Centro Oeste Paulista, Entrevias. No biênio 2019-2021, atuou como Conselheira de Administração Suplente na Vale. É membro atual do Conselho Fiscal da Localiza & Co.