Antes da tragédia do vôo 1907 da Gol, quando o Boeing 737-800 foi atingido pelo Legacy da Embraer pilotado por dois americanos, um céu claro, sem nuvens e indícios de turbulência, favorecia o programa qüinqüenal de obras da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero). Investimentos da ordem de R$ 4,5 bilhões, que serão aplicados até 2009 – impulsionavam a modernização dos aeroportos brasileiros, vários dos quais são de categoria internacional, tanto do ponto de vista da arquitetura e de suas edificações, quanto da eficiência operacional. A modernização continua. Mas o céu não é mais de brigadeiro. E o pensamento da Infraero, de que a prioridade não é apenas voar, mas cuidar de suas instalações em terra, reclama adicionalmente a idéia de que é necessário fixar um equilíbrio entre uma coisa e outra. As instalações físicas capazes de proporcionar conforto ambiental e de atendimento aos usuários, requerem a complementação dos sistemas e equipamentos que garantam cumprimento de horário nos vôos, infundam confiança nos passageiros e dêem ao transporte aéreo condição para contribuir com o crescimento econômico do País. O programa para modernizar a infra-estrutura aeroportuária ganhou maior ênfase a partir de 2003. Foram iniciadas ampliações, reforma e novas construções em diversas regiões brasileiras. Além dos cuidados com o aspecto estético e funcional das áreas de recepção, embarque e desembarque, as modernizações determinaram melhorias, novas pistas ou ampliação das existentes e valorizaram o aspecto estético. Este ganhou relevância na maior parte das obras objeto do programa de engenharia da Infraero, uma empresa criada há 33 anos, responsável pela administração de 67 aeroportos, 81 unidades de apoio à navegação aérea e que responde por 32 terminais de logística de carga. Pelo programa qüinqüenal, vêm recebendo melhorias e obras de expansão os aeroportos Santos Dumont, no Rio de Janeiro; Congonhas e Guarulhos, no Estado de São Paulo; Goiânia (GO), Macapá (AP) e Vitória (ES). O terceiro terminal de Guarulhos é estimado em R$ 1 bilhão e deve ser implementado em cinco anos. Ainda recentemente a Infraero entregou, modernizados, os aeroportos de Belém (PA), Natal (RG), Recife (PE), Maceió (AL), Salvador (BA) e Porto Alegre (RS). Em várias dessas obras, a arquitetura e a engenharia aplicaram soluções satisfatórias do ponto de visto do conforto oferecido aos usuários, a exemplo das salas de embarque em Congonhas, Brasília, Recife etc. Uma das mudanças que começou a alterar a feição interna dos espaços dos aeroportos brasileiros foram os chamados aeroshoppings. Tal conceito foi incorporado inicialmente ao aeroporto internacional Salgado Filho (RS) na segunda metade da década de 1990 e difundiu-se por outros, dentre os quais o Presidente Juscelino Kubitschek (Brasília) e Guararapes/Gilberto Freyre (Recife). O aeroporto de Vitória, cuja pista principal terá 2.416 m de comprimento, também contará com aeroshopping dotado de ampla praça de alimentação, lojas e cinemas. O céu de brigadeiro, sob o qual a Infraero vinha tocando essas obras, começou a toldar-se quando a empresa recebeu a recomendação, do governo federal, por meio do Ministério da Fazenda, para ajudar na composição do superávit primário. Essa recomendação seria considerada prejudicial ao programa de obras da empresa, que sempre contara com receita própria para contratar serviços de arquitetura, engenharia e sistemas indispensáveis ao funcionamento da infra-estrutura aeroportuária. E a gota d´água que turvou de vez o céu de brigadeiro foi o desastre com o avião que fazia o vôo 1907, no dia 30 de outubro do ano passado, uma sexta-feira.
Fonte: Estadão