Depois da tragédia vem a descoberta: na boate de Santa Maria, RS, onde até o noticiário mais recente, morreram 233 pessoas e 113 ficaram feridas, não havia saída de emergência, sinalização nem quaisquer dispositivos convencionais de proteção contra incêndio.
Aquela multidão morreu asfixiada e pisoteada no tumulto provocado pelo pânico, depois que uma faísca atingiu o teto de papelão e o fogo se propagou facilmente, alimentado pelo material acústico inflamável.
O espanto e a indignação chegam tarde demais para tantas vítimas e tantas famílias. E, se hoje as autoridades começarem a verificar a situação de segurança de outros ambientes semelhantes, em São Paulo e em múltiplas outras cidades brasileiras, vão constatar que a imprevidência deverá ser a mesma.
As questões das normas de segurança, relacionadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas e catalogadas nas secretarias de obras dos municípios, estão longe de serem colocadas em prática. O que a rigor se alardeia é a presença de uma brigada de incêndio que não se sabe onde está nem como funciona. – Uma providência que sequer foi lembrada nos espaços exíguos da boate onde ocorreram tantas mortes por asfixia.
Ali, em Santa Maria, o que havia era uma porta única para entrada e saída. E uma porta estreita, que jamais serviria como rota de fuga em caso de emergência, conforme tragicamente se comprovou.
As preocupações com as simples soluções previstas pela engenharia passaram ao largo dos responsáveis pelo estabelecimento. E ali também se comprou que a sociedade, ou ao menos os freqüentadores de ambientes semelhantes, também não se habituaram a cobrar os cuidados mínimos de segurança.
O que houve naquele local foi uma conjunção de imprevidências. Ambientes para concentração de pessoas precisam ser construídos com o rigor de projetos de engenharia; com técnicas eficientes que considerem a prevalência de materiais especificados segundo as normas da ABNT e que funcionem segundo os mais avançados critérios de segurança.
Um País que dispõe de uma arquitetura avançada e de uma engenharia capaz de construir obras da maior importância, no mundo, de repente se vê diante de uma tragédia dessa dimensão por falta de cuidados mínimos com a segurança coletiva. Então vem a revolta que, conforme assinala o mestre-escritor Luís Fernando Veríssimo, “é a única emoção útil, a que tem – ou deveria ter – conseqüência”.
Fonte: Padrão