O cenário global é de vulnerabilidade.
Nenhuma região do mundo pode sentir-se segura diante das mudanças climáticas que vêm afetando a natureza e colocando em risco infraestruturas até então julgadas incólumes diante das ameaças naturais
Anatureza tem sido a primeira a dar o alerta. Estão mexendo profundamente em suas entranhas. Enquanto os movimentos predatórios eram superficiais e eventualmente localizados, os alertas se circunscreviam aos limites das áreas atingidas. Contudo, eles ultrapassaram todas as fronteiras físicas e se aprofundaram terra e mar adentro. O resultado é um cenário de tragédia.
Geleiras estão se derretendo. O fornecimento de água para abastecimento humano, geração de energia, irrigação e outros fins essenciais à movimentação da economia e à sobrevivência, pode entrar em colapso. A elevação do nível do mar coloca populações costeiras em perigo e tem provocado destruições em locais que antes pareciam inatingíveis, tão recuados se encontravam em relação ao horizonte marítimo. Chuvas torrenciais fora de época ocasionam devastações. Os tsunamis parecem constituir o alerta mais enfurecido da natureza
Estudos avançados têm revelado que, em razão das mudanças climáticas, as perdas na agricultura podem ser da ordem de US$ 91 bilhões em 2050; que a incidência de doenças como a malária pode crescer de 8% em 2050 até 23% até 2100; que os efeitos dessas mudanças afetarão de modo muito severo as atividades industriais e que o aumento do custo de energia, das obras de engenharia na área de infraestrutura e investimentos em mecanismos para prevenir catástrofes vai encarecer de modo quase insuportável a vida humana.
Nesse cenário, o Brasil não é uma ilha. As chuvas que têm ocorrido de Sul a Norte, Leste a Oeste, são prognósticos importantes. Haja vista o que aconteceu recentemente no Nordeste, onde para muitos órfãos de Antônio Conselheiro ele estava certo quando disse: "Um dia, o sertão vai virar mar e, o mar, vai virar sertão".
Os fatos que estão à vista de todos não foram suficientes, no entanto, para que o governo, nas suas três instâncias, adote medidas eficientes de gestão ambiental. O planejamento continua a ser negligenciado. E foi em razão disso e considerando ocorrências como as registradas no Nordeste e já se registraram em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Niterói e em outras regiões do País, que organizamos uma mesa-redonda virtual sobre o tema O impacto das mudanças climáticas nos projetos e obras de engenharia. O resultado são as reflexões que aqui estamos publicando. (Nildo Carlos Oliveira)
Fonte: Estadão