Estabilização do maciço que deslizou na SC-401 com as chuvas

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O trabalho que permitiu a estabilização do maciço Cacupé, no km 14 da rodovia SC-401, em Florianópolis, depois dos estragos ocasionados pelas chuvas torrenciais de novembro de 2008, sem interromper o uso da estrada

É a engenheira Ana Paula da Silva Machado, da empresa de engenharia Sotepa Ltda., quem conta tecnicamente essa história, conforme resumo aqui publicado. Ela informa que o escorregamento da encosta de Cacupé foi de grandes proporções, causando vítimas fatais e danos rodoviários. Trabalho de engenharia, com projeto executivo daquela empresa e execução a cargo da Construtora Espaço Aberto e fiscalização a cargo do Deinfra/SC, permitiu a estabilização do maciço e a conseqüente solução do problema.
Segundo a engenheira, as causas que contribuíram ou foram determinantes para a desestabilização e evolução do processo de ruptura (movimento de terra), foram a constituição do material presente no corte caracterizado por um solo com matacões e blocos de rocha de dimensões consideráveis imersos na matriz terrosa; material heterogêneo e inconsistente do ponto de vista do comportamento mecânico; condições hidrológicas de infiltração e saturação do terreno e erosão externa do talude provocada pelos pontos de descida d´água.
As condicionantes de estabilidade intervenientes, associadas à erosão do talude, levaram o maciço a um aumento do seu próprio peso; ao aumento da pressão neutra; à diminuição dos parâmetros de estabilidade como a resistência ao cisalhamento, ângulo de atrito interno e coesão, provocando o corte e a queda progressiva de material.

Estudos preliminares
A engenheira relata que, para proceder à correção aplicável no segmento instável da SC-401, situado no lado direito da rodovia, procedeu-se a uma inspeção técnica, quando se observou visualmente o tipo de ruptura, sua possível evolução, o reflexo no terreno natural, a presença de água na encosta envolvida, o comprometimento da estrutura de terra, a vegetação que recobre o talude, o terreno natural a montante do local afetado e as necessidades de correções imediatas.
A partir daí, elaborou-se um estudo topográfico detalhado da área, com o levantamento de todos os elementos relevantes para a compreensão do problema e detalhamento da solução de engenharia. A estabilização do maciço de terra foi comprometida pela sobrecarga produzida pela grande concentração de blocos de rocha, com dimensões variando entre 4 a 6 m, muito próximos do talude vertical escorregado.
Indicação da presença de umidade e de água junto à massa instabilizada foi observada. A água que se precipitava na encosta encontrou meios de penetração e percolação junto à face rochosa. A vegetação que recobre o local instabilizado era natural em estágio médio e avançado de regeneração.
A superfície envolvida com a ruptura atingiu as dimensões de 96 m de largura, 90 m de profundidade e 48 m de altura no seu ponto de maior cota. A instabilidade ocorrida no talude de corte foi do tipo Desprendimento de Terra: – Queda de Material (na vertical) com quedas sucessivas e progressivas à montante do talude natural, com a presença de blocos de diâmetros variados alojados em superfície e no interior da massa de solo. As massas de terra, parciais, se destacaram do maciço como um todo, por gravidade, escorregando vertente abaixo, acumulando-se aonde veio a se estabelecer. As fotos apresentadas no trabalho dão uma ideia da dimensão do escorregamento.
Para a recuperação e estabilização da encosta de Cacupé foram idealizadas duas soluções:
1 – Muro de contenção na base da encosta de forma a conter o esforço e o peso do maciço.
2 – Terraplenagem, com a remoção de todo o material escorregado e diminuição da inclinação do maciço. Para isso, seria necessário executar o corte de grande volume de material. A solução com terraplenagem teria a grande vantagem de gerar volume de material para os aterros necessários à conclusão da duplicação da rodovia SC-401, entre Jurerê e Canavieiras, mas teria a desvantagem de exigir o desmatamento de uma grande área da encosta.
Considerando que a conclusão da duplicação da SC-401 é importantíssima para o desenvolvimento de Florianópolis e melhoria da qualidade de vida de seus moradores, decidiu-se encaminhar ao órgão ambiental a solução com terraplenagem. Esta solução, além de resolver o problema de estabilização da encosta do maciço e gerar volume de material para fazer os aterros de duplicação da SC-401, também evitou que fosse desmatada outra área que teria de ser explorada como fonte de material para os aterros. As condições para elaboração do projeto de recuperação e estabilização eram extremamente adversas, visto a presença de cobertura vegetal fechada, e inúmeros blocos de rocha em seu meio.
Com os levantamentos de campo e a autorização do órgão ambiental para fazer o desmatamento, procurou-se proceder àquela solução, prevendo-se o retaludamento (corte do material solto e do material da parte superior da encosta, para reduzir a sua inclinação) e grampeamento do talude superior.
Foi definida a seção transversal para a estabilização do escorregamento, que necessariamente precisaria remover todo o material escorregado. Nesse ponto, reside uma grande premissa a ser assumida pelo projetista: ser conservador e adotar uma cunha de deslizamento mais profunda, gerando maior volume de corte, ou ser arrojado e adotar uma cunha mais superficial, gerando menor volume de corte, mas tendo que, eventualmente, alterar a solução na fase da obra.
A empresa projetista Sotepa adotou uma solução intermediária, considerando a cunha de deslizamento na sua posição mais provável. Porém, considerando que se tratava de uma obra emergencial, que não admite acréscimo de valor, e considerando, ainda, a dificuldade em executar investigações geotécnicas que garantam a real posição da cunha de deslizamento, ela optou por prever um quantitativo adicional de terraplenagem, que só seria executado se realmente fosse necessário. Esta providência foi muito importante para o sucesso geral da obra, pois efetivamente a cunha de deslizamento estava mais profunda que o previsto, exigindo ações na fase de execução que garantiram a estabilidade global da solução.

Considerações finais
"Eventos naturais, especialmente fortes chuvas, são as principais causa dos deslizamentos de terra e isso está chamando atenção para maiores debates e discussão do tema, buscando-se soluções para os problemas que estamos enfrentando e que enfrentaremos nos próximos anos", informa o traba

lho da engenheira, prosseguindo:
"É grande o número de escorregamentos que ocorrem sem uma causa aparentemente clara, apesar da estabilidade de alguns taludes ser comprometida pela ação humana. Taludes naturais, em princípio estáveis, podem se romper súbita e inesperadamente. As duas causas mais comuns são as variações na frente de saturação e a alteração ou modificação progressiva da estrutura do solo sob a ação de agentes geológicos. Este trabalho abordou informações referentes ao Projeto e Execução para a Estabilização do Maciço de Cacupé, que deslizou após a excepcional precipitação que ocorreu em novembro de 2008 que assolou o Estado de Santa Catarina.
O deslizamento aconteceu numa das rodovias estaduais de maior volume de tráfego, em torno de 30 mil veículos durante a temporada de verão, que liga o Norte da Ilha ao Centro de Florianópolis e é o principal acesso às praias de Jurerê, Canavieiras e Ingleses – Rodovia SC-401.
Por ser uma rodovia efetivamente importante, o Deinfra e a comunidade de Florianópolis não admitiram a hipótese de seu fechamento durante a execução das obras, exigindo que qualquer solução indicada para eliminar o risco iminente de novo deslizamento fosse implantada com a manutenção do tráfego na rodovia. Como foi apresentado no trabalho, apesar da peculiaridade da obra, a rodovia só foi fechada nos momentos das detonações de rocha. Por fim, é importante salientar, que todos os cuidados foram tomados para realizar um trabalho de qualidade, com segurança, entregando à sociedade uma obra que, além se resolver um problema sério de estabilidade de encosta, ainda gerou volume de material importantíssimo para a conclusão da duplicação da rodovia SC 401, em seus 7 km finais."

Fonte: Estadão


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