Fórum da Construçã -O tempo está fechando

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O tempo está fechando, segundo uma expressão bem brasileira que no fundo quer dizer: a situação climática está feia.

No painel do Fórum da Construção, ontem, no Sheraton WTC, aqui em SP, que tratou das mudanças climáticas, as previsões foram sombrias. A meteorologista Patrícia Madeira, da Climatempo, mostrou as condições do clima aqui e em outros países. O calor aumenta na Europa; as instabilidades se aprofundam na Ásia; nos Estados Unidos não há quem consiga segurar os prejuízos provocados pelos tornados e, no Brasil, os rios amazônicos correm o risco de sumir do mapa. Até o rio Negro está afinando. Há seca onde antes nunca houvera seca e inundações onde, antes, elas jamais aconteciam, pelo nas dimensões em que estão acontecendo.

Outros dois especialistas de renome, Luiz Brandão, do Geo Rio, e Willy Alvarenga Lacerda, da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS), também falaram das causas de catástrofes naturais e das medidas de prevenção que devem ser tomadas para minimizar tragédias como as ocasionadas pelas chuvas diluviais recentemente registradas em Santa Catarina, Alagoas, Rio de Janeiro e em outras regiões brasileiras. No final do painel, a conclusão generalizada, dentre os participantes do fórum, é de que “a coisa está mesmo feia”.

Lembrei-me de uma frase colhida no Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa: “Por mais alto que subamos e mais baixo que desçamos, nunca saímos das nossas sensações”. A frase talvez seja uma explicação para a passividade de tantos governos diante daqueles fenômenos. Impotentes, eles preferem se manter apenas no limite das próprias sensações.

Mas há que se trabalhar, sim, para alterar as causas e, consequentemente, os efeitos dos fenômenos. Se, desde que conseguiu levantar-se e andar com as patas traseiras, o sujeito começou a degradar a natureza, é justo imaginar que a partir de agora, ele não pode mais recorrer a protelações: precisa se questionar e engrossar a luta dos que não se subjugam e estão tentando alterar os procedimentos que levam às tragédias que estamos vendo. As ações coletivas têm de ser conjugadas com as ações de governo, num trabalho lento, paciente, que pode levar décadas, séculos, e assim continuamente, até se chegar a um resultado satisfatório.

O painel, um microcosmo, mostrou que a realidade é um abismo e que ele está sob os nossos pés.

Fonte: Estadão


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