Na continuidade do governo Dilma Rousseff, torna-se essencial reforçar um ponto crucial para a retomada econômica: assim como fizeram Estados Unidos e China, reativar uma economia enfraquecida exige obrigatoriamente a aceleração dos investimentos em obras de infraestrutura. Esse movimento é decisivo para destravar o crescimento, aquecer a cadeia da construção e gerar efeitos multiplicadores rápidos em diversos setores produtivos.
Leia também: Canadá acelera obras públicas para reanimar a economia
Obras de transporte, saneamento, habitação social e equipamentos urbanos têm impacto imediato na economia real e impulsionam segmentos industriais que dependem diretamente do avanço da infraestrutura.
Gestão pública ainda limita o avanço das obras
Entretanto, o país esbarra em um entrave histórico: falhas crônicas na gestão dos contratantes públicos. Sem planejamento adequado, equipes técnicas insuficientemente capacitadas e pouca utilização de tecnologias de TI para controle e automação, grande parte das obras públicas enfrenta atrasos, paralisações e custos elevados.
Os números confirmam o problema.
Segundo o Portal da Transparência:
- O governo federal pagou R$ 12,416 bilhões por obras realizadas em 2013.
- Os estados de SP, RJ, MG, BA, PE e CE pagaram juntos R$ 18,415 bilhões no mesmo período.
- Ainda assim, do total de R$ 1,468 trilhão gasto pelo governo federal, apenas 0,845% correspondeu a obras públicas efetivamente executadas.
Leia também: Governo federal inclui cinco novas obras portuárias no PAC.
Ou seja: menos de 1% do orçamento federal foi destinado a infraestrutura — um indicador crítico para um país que ainda precisa construir grande parte de sua base logística e urbana.
Uma gestão eficiente, inspirada nos modelos adotados pelo setor privado e com apoio de projetistas e gerenciadores qualificados, poderia dobrar ou até triplicar os investimentos no período de um mandato.
Manutenção urbana negligenciada aumenta riscos
Outro desafio alarmante recai sobre as cidades brasileiras. A maior parte delas revela uma grave carência de manutenção da infraestrutura urbana, incluindo:
- pontes,
- viadutos,
- escolas,
- unidades de saúde,
- corredores viários,
- obras de drenagem.
Muitas dessas estruturas apresentam deterioração avançada e até risco de colapso. Nesse contexto, especialistas defendem uma abordagem holística, tratando o conjunto de obras necessárias em blocos integrados, e não de forma isolada — estratégia adotada com sucesso em países desenvolvidos.
Leia também: Performance Bond pode evitar desvios em obras públicas
A Revista O Empreiteiro destacou na edição de setembro (nº 534) um exemplo emblemático: o programa do Departamento de Transportes do Missouri (DOT) que reconstruiu 802 pontes em apenas três anos e meio. Uma demonstração clara de como engenharia, gestão eficiente e contratação criteriosa podem transformar a realidade de uma região.
Serviços de baixa durabilidade e intervenção tardia já não são aceitáveis
O cenário brasileiro mostra práticas que já não cabem mais em uma economia moderna:
- Corredores viários recapeados para durar apenas seis meses.
- Calçadas esburacadas que levam meses para ser reparadas.
- Sinais de tráfego obsoletos que falham diante de qualquer chuva mais intensa.
Esses exemplos compõem uma lista extensa de ineficiências urbanas que impactam diretamente a mobilidade, a segurança e a qualidade de vida da população.
Um país inteiro por construir — e uma máquina pública emperrada
Mesmo com forte demanda reprimida, o volume atual de obras públicas não acompanha o crescimento urbano nem responde às necessidades da última década. Os protestos de junho de 2013 deixaram claro que a população exige melhorias estruturais urgentes — e que a resposta do Estado continua aquém do necessário.
Faltaram obras, planejamento, gestão e eficiência.
E, com a chegada das tradicionais chuvas de verão, o país reencontra problemas já conhecidos: enchentes, deslizamentos em áreas de risco e falhas em equipamentos urbanos.
São sinais evidentes de que o Brasil continua preso a um ciclo de “normalidade insana”, marcado pela incapacidade de antecipar desafios e executar soluções estruturantes com rapidez e qualidade.




