Gestão de riscos nas obras da Linha 6 do Metrô SP

Gestão de riscos nas obras da Linha 6 do Metrô SP

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Por meio de uma parceria público-privada (PPP) firmada com o governo de São Paulo, a construtora espanhola Acciona juntamente com Société Générale, Stoa e Transdev assumiram a concessão da Linha 6-Laranja do Metrô de São Paulo, que contempla a implantação das obras civis e sistemas, fornecimento do material rodante, operação, conservação, manutenção, exploração e eventual expansão da linha. Retomada em 2020, a obra tem previsão de conclusão até 2027. Para fazer frente aos desafios dessa construção, a Acciona lançou mão de um programa robusto de gerenciamento de riscos.

Segundo os técnicos da Acciona, autores do projeto agraciado com o Prêmio Inova Infra 2025, o objetivo foi demonstrar, de maneira prática, a implementação de um sistema de gerenciamento de riscos “aplicado ao maior projeto de infraestrutura da América Latina na atualidade, o qual tem como característica principal a execução de uma obra metroviária com toda a complexidade logística de uma metrópole como São Paulo”.

O diferencial do projeto, considerando a forma de gestão implementada, é o investimento de tempo e recursos por uma equipe multidisciplinar (projetistas, consultores, ATO, engenheiros, meio ambiente, segurança, comunicação, produção e qualidade), de modo que os temas são analisados em sua integralidade, sob todos os aspectos, desde características técnicas, ambientais e de segurança, até os possíveis impactos de imagem para a organização.

Em eventos de alta gravidade, com a necessidade de implementação de planos emergenciais, a sistemática imprimida pela equipe foi fundamental para a atuação de forma organizada e ágil, contribuindo para que, por mais grave que fosse o incidente, não houvesse perdas de vidas humanas.

A metodologia imprimiu também um papel significativo na manutenção da reputação da companhia
perante clientes, fornecedores, investidores e o público em geral”, afirmam.

EMBOQUE DOS TÚNEIS E O TATUZÃO RECEBERAM ATENÇÃO ESPECIAL

O trabalho realizado nos emboques e início da escavação de túneis foi uma das situações em que a gestão de risco foi eficiente. “No caso de escavação de túneis, principalmente com a presença de areias, foram identificadas medidas preventivas e atenuantes (contingência) que permitiram a execução dos túneis de maneira e segura”, afirmam os técnicos.

Entre as ações realizadas, estão: instrumentação e monitoramento das estruturas; rebaixamento do lençol freático; inspeções prévias com furos horizontais exploratórios; disponibilidade de materiais de contingências (granular ensacado, drenos, barbacãs e projetado via seca); o treinamento dos frentistas de túnel; banho de concreto projetado na frente de escavação durante as paradas; e simulados de evacuação dos funcionários do canteiro e pessoas do entorno; além da divulgação do Plano de Contingência de Obras, que vale para diversas atividades.

Outro momento da gestão de riscos está relacionado às partidas e chegadas da tuneladora (tatuzão) nas estações e poços. “Previamente às operações de partidas e chegadas da tuneladora, realizamos reuniões para elaborar o registro de risco dessas atividades. Durante os encontros foi possível construir cenários que permitiram a definição de medidas preventivas e atenuantes que ajudaram na segurança das operações”.

Dentre essas medidas, destacam-se o isolamento de pessoas e equipamentos em áreas na projeção das
atividades; incremento nos monitoramentos por meio da instrumentação instalada; controle das pressões e do volume escavado e simulados de evacuação dos funcionários do canteiro e pessoas do entorno.

O lançamento de estruturas metálicas de grande porte também mereceu atenção da gestão de riscos.
“Em eventos em que existe uma interface importante com o entorno das obras, como interrupções no trânsito ou desvio de tráfego, as reuniões de início de atividade têm função crucial na análise das ameaças possíveis de serem materializadas durante a execução dos trabalhos”, explicam os técnicos.

Essa análise preditiva permite que os diversos setores das obras envolvidos possam estar preparados para
a tomada de ação em casos extremos. Para o lançamento de grandes estruturas e seus respectivos módulos a equipe multidisciplinar atua junto a apoios externos:

Autorizações junto ao órgão de trânsito para interrupção da via e auxílio no processo de desvio de tráfego; isolamento adequado das áreas; revisão do “plano de rigging” elaborado para a operação; execução de bases adequadas para o “patolamento” de guindastes; controle das inclinações dos equipamentos; verificação antecipada da previsão do tempo para execução da atividade com clima favorável e sem presença de raios; e verificação em relação ao projeto da estrutura metálica e os pontos para içamento.

TUNELADORAS CRUZARAM POR BAIXO AS LINHAS 4 E 1

Outra atividade analisada pela gestão de riscos é a passagem da tuneladora por zonas especiais. Durante as escavações executadas com os dois tatuzões usados na construção do túnel de via da Linha 6, houve numerosas situações em que a proximidade dos trabalhos em relação a estruturas importantes determinou a forma de atuação da equipe técnica da empresa.

Dentre os casos relevantes que foram superados, estão as passagens abaixo da Linha 4 – Amarela, com apenas 7 metros de cobertura; sob a Avenida 23 de Maio; e sob a Linha 1 – Azul. Para executar essas etapas, foram realizadas reuniões de alinhamento com as partes interessadas para determinação de planos de contingência conjuntos; interrupção da operação de trens durante a passagem (casos da Linha 4 e Linha 1 do metrô); instalação de instrumentos de monitoramento em tempo real; estabelecimento
de uma matriz de comunicação, determinando os pontos focais das partes interessadas para agilidade na tomada de decisão; verificação topográfica via laser scan para determinação das possíveis efeitos nas estruturas; e equipe SWAT na superfície para atuação rápida incluindo isolamento.

Conforme os técnicos, essa abordagem cuidadosa, realizada durante as reuniões periódicas e antes do início de qualquer atividade, facilitou a compreensão dos riscos por parte dos profissionais envolvidos, o que agilizou o fluxo de comunicação e, consequentemente, aprimorou a identificação de riscos e respectivas estratégias atenuantes. “Foram numerosas situações em que o sistema foi colocado à prova, sendo que, até o momento, a aplicação das medidas preventivas e atenuantes identificadas durante as reuniões multidisciplinares se mostrou essencial na prevenção de impactos ao projeto e no seu entorno”.

Eles revelam ainda que “nada disso seria possível sem as ferramentas tecnológicas adequadas ao grande volume e complexidade dos registros gerados”. A Acciona utiliza uma ferramenta própria denominada Site Information Model Database (SIMDB), que estabelece a sequência de registro conforme as melhores práticas de gestão de risco, sendo que com a sua utilização de forma completa, fica assegurado a total aderência às normas. “O SIMDB é complementado constantemente por meio de outras soluções desenvolvidas in loco, contribuindo para a tomada de decisão em tempo real pela equipe de gestão do projeto”.

A linha 6 é também conhecida como Linha Universitária, por interligar diversas universidades. Ela ligará o noroeste da capital à região central e inclui as estações Brasilândia, Vila Cardoso, Itaberaba-Hospital Vila
Penteado, João Paulo I, Freguesia do Ó, Santa Marina, Água Branca, Sesc Pompéia, Perdizes, PUC-Cardoso de Almeida, Faap-Pacaembu, Higienópolis- Mackenzie, 14 Bis, Bela Vista e São Joaquim.

Há três interligações com outras linhas do Metrô, da CPTM e Linha 4 – Água Branca, com a Linha 7-Rubi e Linha 8-Diamante, Higienópolis-Mackenzie, com a Linha 4-Amarela, e São Joaquim, com a Linha 1-Azul. Segundo a concessionária, o tempo de deslocamento entre Brasilândia e São Joaquim, será reduzido de 1 hora e 45 minutos para apenas 23 minutos, beneficiando aproximadamente 633 mil passageiros por dia.

Conheça os autores
Emílio Símon Povoa – Gerente de Riscos | Renan Castiglieri Souza – Coordenador de Riscos | Daniel Bugno Pires Luz Xavier De Oliveira – Analista de Riscos | Gabrielly Farias de Barros – Engenheira Trainee | Lucio Souza Pereira Matteucci – Diretor


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