Vai longe o tempo do espanto provocado no mercado da engenharia pelo pioneirismo de Edwiges Maria Becker Hom´meil, formada em 1917 pela Escola Polythecnica do antigo Distrito Federal (RJ); Annita Dubugras, engenheira industrial, também formada naquela mesma escola; Iracema Brasiliense, engenheira civil pela Escola de Engenharia de Belo Horizonte, formada em 1922; Maria Ester Corrêa Ramalho, que saiu dos bancos da Polithecnica do DF em 1924 e de Carmem Velasco Portinho, nascida em Corumbá (MS), formada em 1926. Foram engenheiras notáveis, com participação decisiva em projetos, obras e, em alguns casos, na orientação setorial das profissões que abraçaram. Portinho, falecida em 2001, ganhou nome, posição e a admiração do País. Construiu e administrou o Museu de Arte do Rio de Janeiro, ao lado do marido, o arquiteto Eduardo Affonso Reidy, e criou a Escola Superior de Desenho Industrial (Esdi). Foi pioneira, nas primeiras décadas do século passado, na luta em defesa dos direitos da mulher. Daquela época de desbravamento profissional, as gerações de engenheiras foram se sucedendo. E, hoje, elas se encontram nas modalidades mais diversificadas da engenharia. No fundo, dizem que não querem ocupar o lugar do homem; apenas ocupar o espaço que o mercado lhes proporciona. E há espaço para todas, na medida da capacidade de cada uma. Outras reivindicam espaço mais amplo, por considerarem que ao homem, ainda, cabe “a parte do leão”, senão do ponto de vista profissional, ao menos no que diz respeito à remuneração, que seria mais alta para funções semelhantes. Esse, no entanto, para outras engenheiras, não é problema generalizado. Elas até acham importante a emulação – desde que limitada ao aspecto profissional – pois a competitividade inteligente ajuda no processo de aperfeiçoamento necessário à qualquer atividade. Uma delas é até enfática: “É bom ser mulher e é bom ser engenheira. Jamais enfrentei restrições sob esse ponto de vista”. O fato é que as mulheres, engenheiras ou não, são fruto das mudanças que vêm sendo operadas na sociedade, com maior velocidade no começo desse novo milênio. Na área da engenharia, muitas estão à frente da administração de empresas, enquanto outras preferem até comandar contingentes de trabalhadores em canteiros de obras. Na reportagem aqui publicada é exposto um microcosmo. A revista tomou o depoimento de 13 engenheiras e de uma estagiária. É uma mostra fascinante da capacidade de trabalho e versatilidade das engenheiras brasileiras. Com esses depoimentos, foi possível desenhar o perfil das seguintes profissionais: Olga Simbalista, da presidência da Eletronuclear; Maria Beatriz Hopf Fernandes, diretora presidente da Enerconsult S. A.; Olgarita Prado Godoy Riviera, que acaba de sair da diretoria comercial da Constran, mudando para a Construcap; Rosana Rodrigues dos Santos, superintendente de Regulação da Enersul – Energias do Brasil; Patrícia Valladão Velasco, dos quadros técnicos da Construtora Norberto Odebrecht; Elizabeth Vitiello, da Intech Engenharia; Fernanda Wutrich, da Brafer Construções Metálicas; Paula Quadros, da Patrimar Engenharia; Liedi Bariani Bernucci, professora titular da Escola Politécnica da USP; Maria Teresa Lisboa, da Secretaria de Transportes e Obras Públicas de Minas Gerais, com experiên- cia em várias obras, incluindo o Projeto da Linha Verde, na Região Metropolitana de BH, onde operários e amigos começaram a chama-la de “a musa da Linha Verrde”; Clara Steinberg, mulher forte, de 83 anos, que continua a dar expediente no comando da Servenco, no Rio de Janeiro; Mara Ramos, da Sabesp; Maria do Amparo Pessoa Ferraz, do Sinaenco-PE, que já militou na política pernambucana na época do Maros Freire e que atualmente presta serviços para a CelpeNeoEnergia; e Manoela dos Santos, um caso diferente: ela ganhava a vida bordando. Empenhou-se, ingressou no curso de Engenharia Química da Ulbra, em Porto Alegre, e hoje é estagiária na Copesul. Os perfis e o microcosmo estão montados. A engenharia tem evoluído com a participação destas e de outras mulheres, destribuídas nos mais diferentes serviços, por esse País afora. Na seqüência, a história de cada uma, redigida por Nildo Carlos Oliveira, Regina Célia Silva Ruivo e Mariuza Rodrigues.
Fonte: Estadão