Nildo Carlos Oliveira
Tudo bem que veio o ajuste fiscal. Para alguns analistas econômicos e políticos não havia jeito mesmo. Endossam-no como está. Frio como o gume de uma guilhotina no pescoço de todos. Não houve vacilação e nenhuma medida foi postergada. E, todas as providências de arrocho adotadas na elevação de custos e impostos alcançaram os bolsos e a conta corrente do consumidor.
É como se fosse um remédio amargo, mas inevitável que todos teriam de tomar. Se possível sem discutir os efeitos colaterais. Bateu na porta dos trabalhadores, apanhando-os tão fragilizados, que as manifestações contrárias não se traduziram sequer em gritos audíveis de socorro. Houve alguns panelaços que se perderam no vazio urbano. E só.
A fragilização era compreensível. Os consumidores já haviam sido atirados às cordas pela crise hídrica e pelas contas de energia habilmente retardadas a fim de que as eleições transcorressem conforme a expectativa dos responsáveis pela manipulação.
A ideia, assim hoje me parece, era correr com o ajuste. Quanto mais rapidamente fosse aplicado, menos debate e menos reflexão. A população não teria tempo para remoê-lo, metabolizá-lo em todo o seu conjunto, para projetar os danos que ele provocaria nas famílias, no planejamento das economias miúdas, nas urgências da sobrevivência do dia a dia. A expectativa do governo era virar apressadamente a página. Mudar de assunto. Escapar ao tema vexatório. E, assim foi feito.
De modo que compreendo o governo. Dona Dilma defende o ajuste porque “teve de mudar de política”. Uma política que, para ela e equipe – assim como para ele e equipe do governo anterior – vinha dando certo. Deu certo enquanto havia dinheiro. Quando a fonte secou, o jeito era mudar de política. E, então, adotou o ajuste fiscal.
Mas, ajuste assim, a seco, sem uma análise, por mais leve que seja? E as vítimas daquela política que não deu certo, como ficam? Mudar de política é como mudar de roupa? Nenhum arrependimento? Nenhuma autocrítica? Ninguém vem a público pedir ao menos desculpas à população, que foi ludibriada por conta de interesses eleiçoeiros?
Tudo bem que devamos – e até a população quer que a página seja virada – mas com o reconhecimento de que houve empulhação. Pelo menos.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira