O impacto das frustrações nos aeroportos brasileiros

Compartilhe esse conteúdo

Todo viajante, sobretudo o usual, sente uma forte emoção ao retornar para casa, ao descer em alguns dos principais aeroportos brasileiros. No Aeroporto Internacional "André Franco Montoro", em Guarulhos, que serve a maior metrópole da América Latina, esse sentimento acaba sendo substituído por outro – o de frustração – tão logo o viajante ingressa nas filas de desembarque, após oito ou mais horas de viagem, para seguir até os balcões de controle de passaporte.
Invariavelmente os espaços ali disponíveis carecem de ventilação suficiente e são acanhados, se considerarmos o grande volume de passageiros que desembarcam simultaneamente de diversos aviões procedentes de várias partes do mundo. E, em vez de placas indicativas em português e em inglês, encontra um funcionário da Infraero avisando aos gritos, num simulacro dessas línguas, para onde brasileiros ou estrangeiros devem se dirigir.
Enquanto quatro guichês da Polícia Federal atendem os brasileiros, oito examinam os passaportes dos foreigners, alinhados numa fila a perder de vista. A situação se complica no acesso às esteiras de bagagens e nas toaletes precárias, diante das quais se formam filas. E, no compartimento para a retirada das bagagens, as disputas pelos espaços se acirram, na pressa de todos para ir para casa ou aproveitar a oportunidade de passar pelo freeshop, local em que, curiosamente, o ar condicionado funciona e há até bom cafezinho expresso.
Essa situação anômala repete-se em outros espaços. Há cotidianamente, e em todas as horas, exemplos mostrando a chegada de aviões de grande porte, como a aeronave 777 da TAM, que são obrigados a despejar os passageiros em ônibus, longe do terminal de desembarque, porque ali não há número apropriado de fingers para essas operações. É por isso que, na fila do passaporte, uma senhora observa: "Quero ver isso aqui na Copa do Mundo e na Olimpíada". – Ao que outro passageiro responde: "Não se preocupe, minha senhora. Deus é brasileiro e vai dar um jeito".
Mas, para que seja dado um jeito nessas distorções, há a necessidade de uma série de obras a serem executadas tanto em Guarulhos quanto em outros 12 aeroportos considerados "estratégicos" para a demanda prevista em razão daqueles dois eventos esportivos internacionais. E, por ora, sequer a ampliação do terminal de passageiros do Aeroporto de Guarulhos está concluída. Quando isso ocorrer – se ocorrer segundo o projeto de ampliação – o aeroporto, que atualmente tem capacidade para atender até 25 milhões de passageiros/ano, poderá acolher mais 9 milhões.
Da mesma forma, considerando a escala de cada aeroporto, seja o de Brasília, Fortaleza, Manaus, Porto Alegre e até o de Viracopos, em Campinas (SP), as inadequações das instalações se repetem e as obras também não progridem. O que tem progredido, nesses casos, são as promessas da Infraero e a perspectiva da construção de "puxadinhos", obras reconhecidamente precárias, que vão absorver recursos vultosos e que terão utilidade meramente episódica.
Algumas das obras permanentes, que os projetos prevêem e que a Engenharia deve executar, são as seguintes: aumento da capacidade das áreas de estacionamento; aumento do número e dos espaços do compartimento para a retirada de bagagens; ampliação dos terminais de embarque e desembarque; em alguns casos, expansão das pistas; ampliação dos espaços internos e melhoria do conforto dos ambientes de desembarque e de atendimento aos passageiros; ampliação dos espaços e do número de guichês para as operações de check-in; melhoria do sistema de acústica nos espaços interiores e o gradativo emprego de normas para racionalizar a ocupação do entorno; melhoria do sistema de iluminação e de ar condicionado nos ambientes internos; maior velocidade e segurança nos equipamentos utilizados nas operações de carga e descarga; solução eficiente para os resíduos comuns e a destinação segura do lixo. Isso tudo com a consciência de que os aeroportos precisam de contínua modernização para atendimento da demanda, que se recicla e evolui. O passageiro de hoje, não é mais o passageiro de ontem. Está ciente de seus direitos. Voar, atualmente, não é mais uma questão de status, mas uma exigência da vida, do turismo, dos negócios e das necessidades sociais .

Fonte: Estadão


Compartilhe esse conteúdo

Deixe um comentário