E tem razões para rir. Não riso tímido, se possível, discreto. Mas riso amplo, prestes a espocar em gargalhada, como um deboche nacional.
Não é para menos. O Senado acaba de aprovar 60% de reajuste aos servidores do Judiciário. Enquanto isso, o arrocho fiscal aperta a população e os aumentos das tarifas de taxas de água e luz ajudam a aniquilar o mínimo poder de compra que ela eventualmente ainda possa ter. E, ao aposentado, é negado qualquer reajuste. Porque, segundo o governo, qualquer reajuste que lhe seja dado, pode quebrar a Previdência. Em tempo: o aumento da tarifa de energia da Eletropaulo chegará a 75% este ano.
Nesse cenário é bom lembrar palestra do ex-ministro Delfim Netto, por esses dias, no Sindicato da Indústria da Construção Pesada no Estado de São Paulo (Sinicesp): “Em termos de infraestrutura, o Brasil entrou em um processo autofágico, que promove o consumo da capacidade já instalada sem novas perspectivas”.
E Delfim avança mais um pouco: “O Brasil foi destruído nestes últimos 30 anos, quando o investimento público em infraestrutura foi inferior à depreciação do equipamento. De forma que houve uma redução importante do equipamento, que é o maior produtor de crescimento””.
Contudo, haveria saídas. Ele não fica apenas na crítica, mas centra sua palestra em possibilidades, na abertura de caminhos para a retomada dos investimentos e, em consequência, em melhorias futuras para evitar que o trabalhador, por conta do desequilíbrio fiscal promovido pelo governo, lembre aquela situação descrita na canção de Chico Buarque: “A minha gente hoje anda falando de lado e olhando pro chão”.
Alguns dos caminhos apontados pelo ex-ministro seriam: a criação de uma agência de estado competente “e não aparelhada com companheiros de passeata ou com companheiros de tertúlias”; a volta da elaboração de projetos executivos muito bem feitos, de tal maneira que não existam grandes surpresas nas obras de infraestrutura e, prioritariamente, investimento público para atualizar a infraestrutura disponível e as exportações.
Mas, para que isso ocorra, o Poder precisa deixar o deboche de lado. Rir menos e trabalhar mais em favor do País.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira