Concluídas as eleições municipais, vê-se que há um novo mapeamento de poder difundido pelo País. E trata-se daquele poder que mais de perto interessa ao eleitor, pois diz respeito às condições do dia a dia de sua cidade.
Contudo, é necessário ler com seriedade o recado dessas eleições. Os eleitos não podem cantar vitória sem atentar para as manifestações implícitas, eventualmente subentendidas ou oblíquas, expressas na enorme quantidade de votos brancos e nulos.
Eles falam da repulsa a alianças consideradas espúrias e à falta de cumprimento de promessas feitas de pés juntos e jamais cumpridas.
Veja-se, a propósito, o exemplo da leitura que pode ser feita da votação nas grandes periferias. Ali, o eleitor se sente absolutamente abandonado, muitas vezes sem dispor da presença, minimamente satisfatória, do poder público na oferta de serviços e equipamentos urbanos essenciais.
No geral, o recado fica mais nítido a partir da leitura que se faz da origem da maior parte da votação. Mas, nem por isso deve ser negligenciada a leitura do volume de votos de oposição, ou brancos e nulos contabilizados em zonas urbanas centrais. A deterioração urbana deixou também o seu recado. O descontentamento se alastra e torna-se a nota dominante dos que estão fazendo uma nova aposta no futuro. São os que ainda têm a esperança de que a renovação, real ou retórica, tenha significado substantivo nas ações dos que venceram.
Por ora, é esperar. Mas, não muito. É importante salientar que, no caso paulistano, temos um plano diretor defasado. Data de 2002 e possui 20 artigos, ainda não regulamentados, da lei que o ampara. A cidade, que sofre com essa falta de regulamentação, dispõe de um volume muito grande de projetos elaborados para melhorá-la. Eles, no entanto, dormem em gavetas burocráticas. Vamos desengavetá-los?
Fonte: Nildo Carlos Oliveira