Não foi, portanto, por falta de aviso. E, pelos relatos que nos chegam, as obras, como estão, podem resultar em consideráveis prejuízos para o bolso dos contribuintes. E para o velho Chico.
Na época da análise dos estudos que previam a construção da Transposição do Rio São Francisco, as advertências afluíram de todos os lados. Mas a que pegou mais pesado mesmo foi a do bispo Frei Luiz Cappio, que até fez greve de fome, na tentativa de impedir que os serviços começassem.
O projeto, polêmico desde fins do Império, foi elaborado para, teoricamente, beneficiar o Nordeste setentrional, assegurando a oferta de água, para abastecimento humano, a cerca de 12 milhões de habitantes de 390 municípios dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, até 2025.
Foram previstos dois eixos: o Eixo Norte, a partir da captação perto da cidade de Cabrobó (PE), por onde as águas seriam levadas a rios do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, ao longo de um percurso de 402 km; e o Eixo Leste, a partir da barragem de Itaparica, no município de Floresta (PE), desenvolvendo-se ao longo de 220 km até o rio Paraíba (PB), depois de deixar parte da vazão nas bacias dos rios Pajeú e Moxotó e daqueles da região do agreste pernambucano.
Estimada em R$ 4,5 bilhões e dividida em 14 lotes, seria a maior obra do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). Os gordos recursos se destinariam a obras de revitalização local, tratamento de esgoto de municípios na área de influência da transposição, replantio de matas, recuperação de nascentes e outras promessas.
Desde o início da divulgação do projeto, o bispo avisou: “Não vai dar certo. Não tem sido contada toda a verdade sobre este projeto da transposição. Ele não vai levar água a quem mais precisa, uma vez que segue em direção aos açudes e barragens existentes, a maior parte, mais de 70%, para irrigação, produção de camarão e indústria. Quem mais precisa não será o principal beneficiário do projeto.”
E o geógrafo Aziz Ab’Saber não ficou atrás nas críticas: “O risco final é de que, atravessando acidentes geográficos consideráveis, como a elevação da escarpa sul da chapada do Araripe – com grande gasto de energia!-, a transposição acabe por significar apenas um canal tímido de água, de duvidosa validade econômica e interesse social, servindo para movimentar o mercado especulativo da terra e da política.”
Fato inconteste, a respeito das obras iniciadas, é que seis daqueles 14 lotes estão parados e, alguns, até abandonados, com as placas de concreto se soltando ao longo dos canais. Pormenor inquietante, confirmado por reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, é que a transposição atualmente está custando R$ 6,8 bilhões, 36% a mais, portanto, daquele valor inicialmente anunciado. Como disse o bispo, “assim não vai dar certo”.
A Paulista no quadro de Jules Martin
A avenida imortalizada no desenho de Jules Martin, há 120 anos. Ele faz parte do álbum do arquiteto Benedito Lima de Toledo, utilizado por Edison Eloy de Souza, no livro ora em circulação
Frase da coluna
“Precisamos de um projeto de Nação estruturado
com a adesão da sociedade brasileira.”
De Paulo Cunha, presidente do conselho de administração do Grupo Ultra e membro do conselho de administração do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Exportação de serviços de engenharia
A Norberto Odebrecht confirma a interrupção dos estudos para a construção da usina hidrelétrica Tambo 40, no Peru. A questão indígena – e ambientalista – mais uma vez, têm sido uma pedra no sapato de empresas de engenharia brasileira no exterior. A Andrade Gutierrez, a Engevix e a própria Eletrobrás também vêm enfrentando problemas semelhantes, que estão a exigir contatos entre os governos dos dois países, para serem resolvidos.
Experiência em revitalização
Xavier Trias, prefeito de Barcelona, Espanha, esteve em Porto Alegre (RS) interessado em saber como será realizado o projeto de revitalização do porto Cais Mauá, naquela capital. Ele foi recebido pelo prefeito José Fortunati e pelo presidente do conselho de administração do porto Cais Mauá do Brasil, José Munné, a quem expôs a experiência de sua cidade no processo de renovação de área degradada. O projeto de revitalização do Cais Mauá foi elaborado pelo arquiteto espanhol Fermin Vázquez.
Expertise em shoppings
• A Racional Engenharia está encerrando 2011 com a entrega de mais dois shoppings: o Mooca e o São Caetano, em São Paulo. Ela informa que, com a soma dos outros dois empreendimentos já entregues ao longo deste ano (Shopping Iguatemi Alphaville e Shopping Indaiatuba), consolida-se como “a construtora que possui mais ABL (Área Bruta Locável) do País”.
• “E tem mais”, diz Waldemar Marotta Júnior, diretor executivo da empresa: “Para o próximo ano vamos inaugurar mais dois shoppings, um em Campinas (SP), e outro no Rio de Janeiro (RJ), totalizando 182.000 m² de área construída”.
Legado da Copa pode ficar para trás
• João Batista Viol, presidente reeleito do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), desenha um quadro ruim para a Copa de 2014. Diz ele que os estádios (a parte essencial para a realização dos jogos) podem ficar prontos. Contudo, “os itens de maior valor para a sociedade – as obras de mobilidade urbana – estão com um cronograma desalentador”.
• O temor de Viol, e de outros integrantes da diretoria do Sinaenco, é de que a Copa, em vez de ser uma vitrine, “apresente nosso País, aos milhões de espectadores mundiais, como uma vidraça”.
Mais legado
• Alberto José Salum, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada de Minas Gerais, informa que a presidente Dilma Rousseff garantiu a liberação de R$ 3,16 bilhões para a ampliação do metrô de Belo Horizonte e que a Copasa investirá R$ 102 milhões no desassoreamento da lagoa da Pampulha. Tudo, por conta da Copa de 2014.
• A lei 9952, aprovada pela Câmara Municipal de BH, está favorecendo a construção de hotéis naquela capital. Ela permite que empresários do ramo da hotelaria façam “uso mais denso dos terrenos” escolhidos para aquele fim. Redes como a Bristol, Atlântica, Vista, Accor e até a americana Wyndham, têm projetos em andamento.
No espelho do mundo
• Na festa em que a Guimar Engenharia recebeu, no mês passado, em São Pa
ulo (SP), o diploma de Empresa de Engenharia do Ano, categoria Projeto e Consultoria, o presidente da empresa, Heródoto Ferreira Monte, disse que o Brasil não pode deixar passar em brancas nuvens a oportunidade de traduzir em obras de infraestrutura as reivindicações da população em favor de melhores aeroportos, portos, metrôs, trens e outros tipos de transporte.
• O pensamento do empresário alinha-se ao do editorial da revista O Empreiteiro, edição 502, que bate na tecla: “O País está diante de uma janela de oportunidades para se transformar numa nação de visibilidade parecida à do Canadá e Austrália.”
Novo aeroporto em SP?
A ideia do novo aeroporto em São Paulo está lançada. O responsável por ela é o vice-governador Guilherme Afif Domingos, que até especulou sobre a região – Mogi das Cruzes – onde a construção poderá viabilizar-se. A expectativa do vice-governador é a de que a ideia, naquele sentido, venha a ser costurada com a celebração de um contrato nos moldes de uma parceria público-privada.
Avenida Paulista
A avenida mais conhecida do Brasil – a Avenida Paulista – chegou, em 2011, aos 120 anos. Muito apropriadamente o arquiteto Edison Eloy de Souza está lançando livro alusivo à data, tratando da arquitetura que ali tem sido praticada desde o século passado, sobretudo depois que ela começou o seu intensivo processo de verticalização. Folhear ou ler o livro é fazer um tour poético, sentimental e de conhecimento pelas transformações ali ocorridas, observando edificações tais como o Conjunto Nacional, Casa das Rosas, Savoy, Torre Paulista, Citibank, Museu de Arte de São Paulo, Scarpa, Grande Avenida e tantas outras que espelham a diversidade da arquitetura e da cultura de São Paulo.
Crescimento da construção
A previsão do Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo (Sinduscon-SP) é de que a indústria da construção civil crescerá 5,2% ao longo de 2012, embora a tendência do PIB seja a de um crescimento menor: 3,5%. Eduardo Zaidan, vice-presidente da entidade, diz que a construção tem hoje um ritmo mais forte que do que PIB e que essa tendência pode continuar nos próximos três ou quatro trimestres.
Imprensa de fora
A Anglo American inaugurou, no dia 6 de dezembro, a unidade de produção de ferroníquel de Barro Alto, interior de Goiás, onde investiu U$ 1,9 bilhão. A imprensa foi convidada para o ato, mas não pode ver a mina; apenas ouvir os discursos e os aplausos. A visita às instalações foi feita em ônibus, sem direito a uma descida sequer, para uma visão mais próxima das estruturas operacionais. A CEO mundial da holding, Cynthia Carrol, ficou fechada na sala VIP. A imprensa permaneceu de fora.
Fonte: Padrão