Sim, eles estão de volta. E nunca vão deixar de voltar, caso persista o modelo segundo o qual haverá sempre um desencadeamento em cadeia do processo de desligamento automático das linhas de transmissão, na ocorrência de pane.
Desta vez, o blecaute atingiu os estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, afetando a vida de 33 milhões de pessoas. Sequer considero os estragos produzidos no pequeno comércio, na pequena manufatura, nos hospitais, laboratórios e em outras atividades, para não falar naquelas que dependem dos novos meios de tecnologia da informação. A visão do caos nas ruas em metrópoles como o Recife é outro dado alarmante.
Quando o blecaute se dá por conta das carências de obras para exploração das fontes disponíveis de energia, como aconteceu em 2001, as coisas ficam mais fáceis de serem explicadas. Já na atual situação, o descalabro é do sistema mesmo, o que pressupõe falta de investimentos para evitar falhas. Além disso, a desculpa de que os blecautes resultam das condições climáticas adversas não pode ser invocada a qualquer apagão, sob pena de banalizar-se e abrir caminho para a desmoralização generalizada.
Vamos ser coerentes. Para organizar a política a ser adotada na melhoria do sistema será necessário:
1º. Alterar os critérios para a ocupação dos cargos das estatais do setor energético. Nada de loteá-los entre os que nada entendem e não se esforçam para compreender o assunto. Cada cargo deve ser ocupado segundo critérios de capacidade técnica. A partir do momento em que essa questão comece a ser tratada com absoluta seriedade técnica, as coisas mudarão.
2º. É mais do que hora de se iniciar um processo de revisão do sistema, para se avaliar se o que está em funcionamento é o mais adequado para um país de dimensões continentais como o nosso.
3. Ouvir, no caso da revisão, primeiro os técnicos e, segundo, novamente os técnicos, jamais os políticos. Em relação a estes, temos o exemplo do ministro Lobão, que se saiu, na imprensa, com a seguinte pérola: "Não houve apagão; houve uma interrupção temporária de energia". Depois disso, dizer qualquer outra bobagem será igualmente supérfluo.
Fonte: Estadão