Andam dizendo que a tímida tentativa de atualizar um pouco o dinheiro dos aposentados é sabotagem contra o desenvolvimento do País. No fundo, ocorre o inverso: é o aposentado que começa a ser sabotado antes mesmo de aposentar-se. Diria ainda: antes mesmo do primeiro emprego. No fundo, o trabalhador brasileiro já nasce sabotado.
Um articulista refere-se à esbórnia da Previdência. Tudo por conta de um aumento de 7,7% que o presidente da República já garantiu: vai vetar. O aposentado nasce e vive vetado.
Quem se aposenta, já sabe que a aposentadoria pode ser o caminho mais curto para a morte, a menos que continue a trabalhar em dobro. Vendem-lhe a ilusão da aposentadoria e contribui para a Previdência durante a vida toda. No final, na contagem de tempo, vê a aridez do deserto. Ou a paisagem vislumbrada através do crédito consignado, que é outra forma de esbulhar-lhe o bolso.
Mas os que veem o aumento dos aposentados como uma sabotagem ao desenvolvimento não costumam ver que o problema está em outro lugar: nas gordas aposentadorias, eventualmente auferidas pelos que pouco trabalharam. Pipocam os exemplo disso no Legislativo. Se calhar, até em outras áreas próximas. Há, portanto, os "marajás da aposentadoria". Contra elas não se costuma mexer uma palha. E os aposentados nanicos que vivem – e morrem – na expectativa de que o poder público lhes pague os precatórios? Há um silêncio brutal, selvagem, contra esses trabalhadores.
Acredito que os aposentados seriam os impulsionadores do desenvolvimento, se lhes fosse pago o que pela vida de trabalho e pela própria legislação, lhes é devido. Muitos, na crise, cuidam de filhos e netos. E seu dinheiro é absorvido no consumo diário da sobrevivência.
Com exceção daqueles – os parasitas fáceis de serem identificados – os trabalhadores aposentados merecem, sim, aumento ainda maior. Antes que a inflação lhes devore o corpo e a alma.
Fonte: Estadão