Palácio intervém em tudo e acumula ano de mediocridade

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O Palácio é o poder. Lembra o Castelo de Kafka, com as gralhas circulando em torno da torre. Depois de um ano em que ele paralisou a economia, alguém, e não necessariamente K, precisa entrar nele
para oxigená-lo

Nildo Carlos Oliveira

 

K, o personagem mítico de Kafka, nunca ultrapassará o vestíbulo do castelo, para realizar os trabalhos de agrimensor. É tanta a burocracia imposta pelos donos do poder, que ele ali permanecerá, durante anos a fio, na expectativa de que alguma abertura aconteça. Mas nada acontece.

No curso de apenas um ano – só para não esquecer períodos anteriores – o Palácio incursionou pela área tecnológica e provocou devastações. A mudança do perfil de dois jornalistas críticos da economia adotada pelo governo é apenas o indício do que foi feito. Porque foi feito muito mais.

Escolas e hospitais sucateados. Haja vista o exemplo da Santa Casa de São Paulo que, de repente, fechou as portas aos necessitados. Pode-se dizer o que for, mas isso foi reflexo de uma política de saúde danosa à população. E, enquanto o Palácio disfarça a falência nessa área, com o programa Mais Médicos, importando profissionais cubanos, vê-se que outros países se desenvolvem, apostando na inteligência e na capacidade de seu povo. O Equador, por exemplo, está formando uma universidade global e convidando mentes brilhantes, de qualquer região do planeta, para ajudá-lo nessa inovação.

O aparelhamento político predatório, iniciado na administração anterior, arrebentou as pernas de empresas públicas de reconhecimento internacional. A Eletrobrás, ícone do sistema elétrico, apagou-se. E a crise nesse setor deverá representar um prejuízo da ordem de R$ 66 bilhões para o País. Mas o Palácio não deve estar se importando muito com isso, pois quem vai pagar o pato, ou seja, a conta, depois das eleições, será o consumidor.

A Petrobras, que fez há algum tempo apologia da autossuficiência na exploração e produção do petróleo, enredou-se no escândalo da compra de uma refinaria em Pasadena (EUA). Os equívocos ganharam representação de ópera-bufa no Congresso.

Demorou, mas enfim o Palácio rendeu-se à constatação de que o trem-bala era um delírio, sobretudo pelo custo, que jamais seria da ordem de R$ 33 bilhões, conforme assinalavam os propagandistas oficiais. Além do risco de ficar acima de R$ 60 bilhões, a obra provocou controvérsias de toda ordem. Os recursos acaso destinados ao TAV poderiam ser utilizados na duplicação da via Dutra, na construção de uma ferrovia de média velocidade (com capacidade para até 180 km/h), na ampliação das linhas dos metrôs em várias capitais ou em outros empreendimentos de interesse da sociedade.

A insegurança pública foi questionada nos diversos episódios da tentativa de criminalização dos movimentos sociais, após junho de 2013. Um manifestante saiu a dizer, na coluna social de um dos jornais de maior prestígio, que, preso, sentiu-se mais seguro na cela, com ladrões, do que na companhia de policiais. E um presidente do Supremo Tribunal Federal aposentou-se fora do tempo, supostamente porque não encontrou condições seguras para a continuidade do exercício na magistratura.

O Palácio, em sua imponência, houve por bem substituir o nome Transposição do rio São Francisco, por Integração do rio São Francisco, na convicção, talvez, de que assim o caudal de críticas ao desvio das águas do velho Chico, para vários estados nordestinos, poderá ser reduzido.

Em São Paulo, a Companhia de Saneamento Básico do Estado (Sabesp) é acusada, depois do colapso do sistema Cantareira, de apostar mais nos negócios de ações na Bolsa, do que no planejamento, projetos e execução de obras que atenuem o problema da falta d’água na região metropolitana.

Na área municipal, fiscais disseram a um vendedor de máquinas que a regra ali não é comprar produtos da melhor qualidade, mas os mais caros, mesmo que da pior qualidade.

E, por conta da economia adotada pelo Palácio federal, um empresário brasileiro, muito conhecido no exterior, advertiu: “Só um louco investe hoje no Brasil”. Era o reconhecimento explícito de que se vive um ano marcado pela mediocridade. 

Contudo, os sonhadores continuam insubmissos. Não se rendem à realidade. E, insistindo em rompê-la, adotam a postura do candidato Eduardo Campos à Presidência da República, morto no desastre de um avião em Santos, que vinha pregando: “Não vamos desistir do Brasil”. Esta é a mensagem para os que se dão conta da necessidade de limpar o Palácio.

Fonte: Revista O Empreiteiro


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