Há muitas referências ao engenheiro Alberto Pereira de Castro, várias delas surgidas depois de seu falecimento, ocorrido no dia 13 de agosto último. O velho militante em favor de tecnologias nacionais, que de 1996 a 2005 dirigiu o Instituto de Pesquisas Tecnológicas, chegando até a ser chamado de "Sr. IPT", viveu numerosos episódios em que se identificou, técnica ou politicamente, com um trabalho voltado para desenvolvimento do país.
Acaso, remexendo no tesouro dos livros que me chegam às mãos ou que busco em livrarias ou em feiras por aí afora, encontro o volume História da ciência e da tecnologia no Brasil: uma súmula, escrito pelo professor Milton Vargas, editado pela Universidade de São Paulo. É uma obra que deveria ser reeditada em livro de melhor qualidade, com a forma a corresponder ao conteúdo – um conjunto muito rico, conquanto resumido, da história da ciência e da tecnologia no Brasil.
E foi nesse volume que encontrei o texto em que Pereira de Castro faz a apresentação do livro de Milton Vargas. Ele menciona os diversos trabalhos do autor, desde aqueles mais técnicos, de sua especialidade, a Mecânica dos Solos, aos demais ocupados com a difusão da tecnologia nacional.
Naquele texto, o ex-superintendente do IPT enfatiza no trabalho de Milton a importância conferida ao " angustiante problema de nosso atraso tecnológico" e transcreve: "… toda a transferência de tecnologia, para ser bem-sucedida, deve ser feita tendo como intermediário entre a fonte e o recipiente, uma organização de ensino e pesquisa não comercial, pois tecnologia não é mercadoria que se vende ou se compra, mas sim, saber que se aprende".
Pereira de Castro diz nessa apresentação, que "durante toda a nossa industrialização, desde o fim da última guerra, o país sofreu enormes prejuízos com esta noção simplista de tecnologia comprada sem o correspondente acompanhamento do desenvolvimento técnico-cultural necessário". E destaca que "essa importação de `caixas-pretas´ foi certamente o negócio mais mal feito que o país realizou em toda a sua história."
Foi bom encontrar esse livro de Milton Vargas, assim como foi bom dar com o texto introdutório de Pereira de Castro, ambos pensadores de nossos tempos e de tempos que virão.
Fonte: Estadão