Emae anuncia investimentos de R$ 2,6 bilhões e abertura para novos negócios

Emae anuncia investimentos de R$ 2,6 bilhões e abertura para novos negócios

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O novo plano estratégico da Emae prevê o aporte de R$ 2,6 bilhões em investimentos até 2029. Isso inclui a modernização de hidrelétricas, ampliação da energia fotovoltaica no reservatório da represa Billings, expansão para novos mercados, inclusive fora do Estado de São Paulo, e a aposta em novas soluções, como armazenamento de energia em baterias.

“Inicialmente, planejamos investir R$ 2,6 bilhões nos próximos quatro anos. Esse esforço inclui novos leilões, projetos de M&A e a expansão para novos mercados”, afirma Karla Maciel, CEO da Emae. Entre os projetos apontados pela executiva, estão a nova usina Edgard Souza, em Santana de Parnaíba, ampliação da energia fotovoltaica no reservatório Billings, retrofit das usinas, entrada em leilões de reserva de energia e uma novidade.

“Queremos consolidar nossa posição no setor e estamos nos abrindo para inovações e novas tendências de mercado como, por exemplo, o armazenamento de energia por meio de baterias em terrenos próprios da Emae, podendo atender a uma demanda crescente dos data centers”, destaca Maciel. “Nossa Usina Fotovoltaica Flutuante, por exemplo, é a primeira no País e tem uma eficiência muito maior por ser instalada na lâmina d’agua do reservatório Billings. Nela, serão investidos R$ 800 milhões.”

De acordo com a CEO, o plano estratégico inclui, além da ampliação da capacidade instalada, a diversificação das fontes de receita. “A Emae está aberta tanto para novos negócios como para oportunidades de aquisição de ativos que possam agregar valor e outros serviços. Neste momento pós-desestatização, a empresa seguirá investindo em todo o Estado de São Paulo, mas também considera oportunidades em outros Estados, que serão avaliadas oportunamente. A meta é que, além dos investimentos em desenvolvimento de novos negócios, a Emae se torne uma consolidadora do setor de energia”, assinala Maciel.

Dos recursos separados para investir, que representam cinco vezes mais o que foi investido nos últimos cinco anos pela Emae, mais de R$ 600 milhões contemplarão a modernização do parque gerador da companhia. “Essa operação inclui o retrofit de equipamentos e processos de automação com o uso de novas tecnologias”, diz a CEO da empresa.

Entre as usinas que receberão recursos está a Barragem Edgard de Souza, que com três novas unidades geradoras instaladas terá capacidade de 18 MW. Quem está elaborando o projeto básico dessa pequena central hidrelétrica (PCH) é a Worley Engenharia. “Para a implantação da PCH, utilizaremos turbinas tipo Kaplan, geradores síncronos verticais com sistema de excitação do tipo Brushless, além de operação remota”, esclarece Maciel. Por conta da característica local, explica ela, também serão utilizados materiais mais resistentes à corrosão, tanto na estrutura quanto nos equipamentos digitais, como a tecnologia Conformal Couting, que protege todos os circuitos eletrônicos da planta.

Segundo a executiva, a modernização está em fase de desenvolvimento do projeto, que será concluído ainda neste semestre. Já as obras têm o prazo de execução de 30 meses. “Na fase atual, ainda de planejamento, trabalhamos, além da Worley Engenharia, com a Fundação COGE. Ambas nos apoiam na análise da documentação técnica”, revela.

Entre os desafios técnicos do projeto, Maciel destaca a definição do modelo a ser utilizado na adequação da Casa de Força existente, considerando o número de máquinas e tipo de turbina, para garantir um melhor aproveitamento hidráulico e viabilidade no local, gerando mais eficiência. Ela lembra também de que a nova usina Edgard de Souza tem uma característica especial de sustentabilidade. “Sua instalação tem baixíssimo impacto ambiental, uma vez que aproveitamos uma barragem da Emae existente no local.”

Outro investimento relevante é a expansão para os 130 MWp da usina solar flutuante instalada na represa Billings. O projeto será desenvolvido em etapas. Segundo a CEO, a primeira fase já foi concluída, com a instalação de 10.500 painéis solares sobre a lâmina d’água, com capacidade para produzir até 10 GWh por ano, e potência de conexão de 5MW, o que equivale ao atendimento de 4 mil residências. Os outros 125 MW serão distribuídos em outras plantas ao longo do reservatório, até o final de 2026.

Esses equipamentos são apoiados sobre flutuadores de polietileno de alta densidade que, além de serem recicláveis ao final da vida útil, possuem tratamento anti-UV para aumentar sua durabilidade. O fornecedor do flutuador é a Ciel et Terre Brasil Manufacturing (CTBM) e os painéis solares fotovoltaicos são da Canadian. “O material é feito com uma tecnologia francesa e toda a estrutura é capaz de suportar ventos de até 210 km/h e ondas de 2 m de altura”, revela Maciel.

A planta conta ainda com 25 inversores de 200 kW, cinco transformadores de 1,25 MW de potência e uma área adicional livre para a ancoragem e movimentação. “Vale ressaltar que essa é a primeira usina flutuante com essa capacidade a operar no Brasil, com geradores localizados já próximos ao centro de consumo”, salienta a executiva.

Entre as vantagens de um sistema solar flutuante em comparação com usinas solares convencionais, estão ganhos de eficiência, como explica a CEO. “Esse tipo de usina, além de gerar energia limpa e renovável, apresenta ganhos de eficiência de até 15% na comparação com painéis instalados em solo, por conta do resfriamento das placas solares na proximidade da lâmina d’água.”

Além disso, o custo de instalação também exige menos investimento, uma vez que não é necessária a utilização de terrenos, principalmente se comparado a grandes centros urbanos com a indisponibilidade de áreas ou custos altos para a aquisição. “Com isso, também não há supressão de vegetação ou necessidade de intervenções no solo de determinada região para a instalação dos equipamentos”, diz Maciel.

Por enquanto, o projeto de expansão da usina solar flutuante contempla apenas o reservatório Billings, porém “a empresa considera oportunidades em outros reservatórios, que serão avaliadas oportunamente”, afirma a executiva, lembrando da parceria com a KWP no projeto. “Em 2021, publicamos uma chamada pública para empresas interessadas em desenvolver esse tipo de projeto e a KWP foi selecionada, já que possuía esse tipo de tecnologia para a viabilização do projeto, inaugurado em janeiro de 2024”, revela.

A criação da Emae remete ao final do século XIX, com a fundação da The São Paulo Railway, Light and Power Company Limited em 1899 – a empresa canadense foi autorizada a operar no Brasil por decreto presidencial pouco tempo depois. A primeira hidrelétrica da então subsidiária no Brasil e a maior do País na época, a Usina de Parnaíba, foi fundada em 1901, ampliando capacidade e construindo infraestrutura para atender à crescente demanda por energia elétrica.

Hoje a Emae é detentora e operadora de um sistema hidráulico e gerador de energia elétrica localizado na Região Metropolitana de São Paulo, Baixada Santista e Médio Tietê. A companhia foi privatizada em 2024, passando às mãos da sociedade de propósito específico Phoenix Água e Energia, pertencente ao Phoenix Fundo de Investimento em Participações Multiestratégia, por R$ 1 bilhão.

Em seu portfólio estão três usinas hidrelétricas – Henry Borden, Porto Góes e Rasgão –, a PCH Pirapora e Usina Fotovoltaica Araucária. Além das atividades de geração de energia, a Emae também atua na gestão dos recursos hídricos da região metropolitana, como o controle de cheias no vale do Rio Pinheiros.

Usina flutuante na Represa Billings

Composta por 10.500 módulos solares e ocupando uma área de aproximadamente 10 hectares, a Usina Fotovoltaica Flutuante Araucária, instalada no Reservatório Billings, fornecida pela KWP, foi projetada para gerar 5 MWac, e se destaca como um marco em soluções de energia renovável na cidade de São Paulo.

Segundo a fornecedora do projeto, um dos principais diferenciais da usina é a utilização de flutuadores fabricados com a tecnologia Hydrelio®, feitos de polietileno de alta densidade reciclável (PEAD). Esses flutuadores interligados criam uma grande "ilha solar" sobre o reservatório, garantindo a sustentação dos módulos solares e facilitando o acesso para manutenção. A estrutura foi planejada para não interferir nas atividades locais e, ainda, garantir que não haja degradação ou contaminação na água.

Entre as vantagens do sistema de flutuadores, destaca-se a maior eficiência na geração de energia, em comparação aos sistemas terrestres. Isso ocorre devido ao resfriamento natural proporcionado pelas condições ambientais, o que pode resultar em ganhos de até 10% na produção de energia. Além disso, a usina contribui significativamente para a preservação ambiental, pois não requer escavação, desmatamento ou terraplanagem, evitando o uso de grandes áreas de terra.

Outro ponto importante é que o sistema flutuante não afeta a qualidade da água do reservatório e, com o efeito de sombreamento proporcionado pelos módulos, reduz a evaporação da água em até 70%. Para garantir a estabilidade da plataforma, mesmo com variações de nível e os efeitos das ondulações e vento, a usina adota uma tecnologia de ancoragem avançada, permitindo que os flutuadores se ajustem a esses deslocamentos.

Conheça Karla Maciel, presidente da Emae

Formada em Administração e Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com MBA em Finanças pelo Insper e especialização em Economia e Finanças pela Columbia Business School, Karla Maciel tem ampla experiência no mercado financeiro, sendo sua última atuação como head de M&A de um banco de investimentos. Com visão focada em inovação, sustentabilidade, responsabilidade social e ambiental, assumiu a presidência da Emae em outubro de 2024, após a desestatização da companhia, participando de todo o processo de leilão e privatização. Uma das poucas mulheres em posição de CEO do setor elétrico e até mesmo entre as companhias listadas em Bolsa, ela afirma que “seu foco está em conduzir a empresa em um processo de crescimento, modernização e desenvolvimento de novas verticais de negócios, buscando transformar a Emae em uma referência na geração de energia renovável nacional”.


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