O governo demorou demais – diria até que demorou todo o tempo possível – para render-se à evidência de que não teria alternativa, senão adotar a política de concessões, para procurar deixar em ordem ou em padrão operacional internacional, alguns dos principais aeroportos brasileiros. Ele poderia ter agido antes, até bem antes da pressão exercida pela proximidade de eventos esportivos que estão à vista, para não ficar no atraso. Mas o viés estatizante não deixou.
Vários estudos e recomendações para a melhoria do espaço construído, conforto para usuários no conjunto das instalações, do check-in ao recebimento das bagagens nas esteiras, passando pela ampliação das toaletes e demais áreas de uso comum no embarque e desembarque nas alas nacional e internacional, e o funcionamento das demais operações, chegaram às mãos das autoridades, anteriormente à constatação do estrangulamento de alguns aeroportos.
Esses estudos deixavam claro: “Situações preocupantes (em nossos aeroportos) são aquelas em que o nível de utilização das instalações suplanta 80% de sua capacidade. Quando ocorrem os casos críticos, o nível de utilização das instalações supera a capacidade instalada e se reflete na deterioração do nível de serviço.”
Essa advertência está em documento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Ele revela que pelo menos oito das 12 cidades que sediarão os jogos da Copa de 2014 estão com seus aeroportos operando no limite da capacidade máxima e, em alguns casos, “beirando o colapso”. – Acaso isso já não seria suficiente para colocar o governo de sobreaviso e fazê-lo agir, por antecipação, para prevenir futuros problemas? Além do que, várias entidades da arquitetura, da engenharia e de outras organizações da sociedade já vinham se manifestando sobre o mesmo problema, havendo até quem ironizasse: “Nossos aeroportos estão se tornando rodoviárias de avião”.
Pois bem: o governo se mexeu e, hoje, estão aí as concessões dos aeoportos de Guarulhos, Campinas e Cumbica.
Contudo, há ainda alguns sinais de alerta para não deixar que o governo durma de novo: a Infraero mantém, sob a sua responsabilidade, o controle do espaço aéreo e a infraestutura de acesso às unidades aeroportuárias. São espaços que estão a exigir melhorias. E, caso essas melhorias não venham a ser feitas, para dar respaldo às operações dos aeroportos concedidos, os usuários ainda podem correr o risco de não contar com serviços satisfatórios, mesmo nos aeroportos que estarão sob a égide da iniciativa privada. A sociedade precisa ficar em alerta, para o governo não dormir.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira