Acredito que a chamada cultura de convivência com índices altos de inflação acabou no Brasil. A população, especialmente quem tem renda menor e, portanto, maior dificuldade para se proteger da desvalorização do dinheiro, tem consciência dos efeitos negativos da inflação alta. E o governo tem isso muito claro na formulação de suas políticas.
Acho que a reforma tributária ainda é uma incógnita. Políticos, empresários, economistas, todos se manifestam a favor dela, mas nada de prático está acontecendo. É importante lembrar que o controle da inflação e a reforma tributária não são, isoladamente, a base para um crescimento sustentável. São necessários a reforma política e os investimentos em infra-estrutura.
Além disso, temos que falar especialmente em educação, que é um problema que reclama solução urgente. Muitas empresas têm dificuldades para crescer por falta de mão-de-obra especializada. O País tem carência de profissionais capacitados e isso não se resolve da noite para o dia.
Há ainda o problema da transferência de recursos para o capital fixo. O País transfere hoje, pelo que acredito, cerca de 18% do PIB para o capital fixo, enquanto na China a proporção é de quase 40% e, na Índia, da ordem de 27%. Com o agravante de que 80% do que se transfere no Brasil vem da iniciativa privada.
Há muito tempo se diz que o Brasil é o país do futuro. Contudo, sempre que aparece uma oportunidade de crescimento, deixamos que ela passe. Não a aproveitamos porque nos falta uma base capaz de sustentar o crescimento a longo prazo. Ou seja, vivemos de bolhas, e elas têm curta duração.
Por tudo isso, creio que precisamos investir maciçamente em nossa gente e em nossos valores, em especial em educação. Educação é a mola do crescimento.
No mais, cabe ao governo criar condições favoráveis para esse salto qualitativo. Não é preciso muito; basta estabilidade política e econômica, manutenção de regras claras e diálogo com o empresariado. Os empresários brasileiros são empreendedores e competentes e já demonstraram isso muito bem nas crises atravessadas pelo país.
O importante é não deixar para as gerações futuras um país sem alternativas. O Brasil é um país forte, dispõe de um grande parque industrial, produz praticamente tudo de que necessita, conta com uma população criativa e tem a melhor matriz energética; aqui a produção de grãos é uma das maiores do mundo e, além disso, tem cuidado com eficiência das questões ambientais.
Com essa retaguarda, teremos de deixar para a próxima geração um país melhor do que esse que recebemos. Para isso, teremos de investir, especialmente, na educação.
*Arão Portugal é vice-presidente de Administração da Yamana Gold.
Fonte: Estadão