Transnordestina retoma trecho em PE e chegará a Suape, após 1750 km

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A construção da ferrovia Transnordestina será retomada pelo governo federal para interligar o município de Salgueiro ao Porto de Suape, ambos em Pernambuco. Com 544 km de extensão, o ramal pernambucano da ferrovia havia sido retirado, em 2022, do projeto sob responsabilidade da Transnordestina Logística S.A. (TLSA), pertencente ao grupo CSN. O ramal foi retomado na atual gestão e inserido no Novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC), com orçamento inicial de R$ 450 milhões para sua continuidade.

A Transnordestina foi inicialmente planejada para conectar o cerrado piauiense aos portos de Pecém (CE) e Suape, formando um traçado em “T” invertido. A TLSA dividiu a construção em três etapas: a Fase 1 correspondia ao maior trecho, com cerca de 1.040 km, entre o Porto do Pecém e São Miguel do Fidalgo (PI), passando por Salgueiro; a Fase 2 saía de Paes Landim até Eliseu Martins, ambos no Piauí, um trecho de 166 km; e a Fase 3 ligava Salgueiro ao Porto do Suape – um trecho de 544 km inteiramente em Pernambuco –, perfazendo os 1.750 km originais do projeto.

Contudo, ao longo dos anos, o projeto passou por alterações devido a desafios financeiros, técnicos e
ambientais. Em dezembro de 2022, a TLSA formalizou a devolução do trecho pernambucano, alegando inviabilidade econômico-financeira. Com isso, o projeto foi reconfigurado para um traçado em “L” invertido, priorizando a conexão entre Eliseu Martins (PI) e o Porto de Pecém. Essa configuração permanece com a TLSA. O trecho percorrerá 1.206 km interligando o município de Eliseu Martins (PI) ao Porto de Pecém, passando por Salgueiro.

Em abril de 2024, o governo anunciou que estava reavaliando o traçado original até Suape. Devido a
intervenções urbanas que inviabilizam o percurso inicial, um novo traçado passou a ser estudado para viabilizar a conexão com o porto pernambucano. Em setembro, a Infra S.A., empresa pública vinculada ao Ministério dos Transportes, contratou um consórcio para elaborar o projeto do novo traçado entre Salgueiro e o Porto de Suape, marcando o primeiro investimento desse tipo em 14 anos.

Nove lotes compõem o ramal pernambucano da ferrovia. Dos 544 km entre Salgueiro e Suape, cerca de 160 km já foram implantados entre as cidades de Salgueiro e Custódia. Falta a implantação de cerca de 370 km, que tem custo estimado em aproximadamente R$ 5 bilhões. Os três primeiros lotes foram totalmente concluídos, os dois seguintes estão parcialmente finalizados, enquanto do sexto ao nono lote as obras precisam ser iniciadas. Futuramente, o trecho também será administrado por empresa contratada.

De acordo com o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), no segundo semestre deste ano, serão publicados os editais para a contratação das empresas responsáveis pela continuidade das obras nos lotes dos municípios pernambucanos de Custódia-Arcoverde, com 73 km, e Cachoeirinha-Belém de Maria, com 53 km. A assinatura dos contratos está prevista para dezembro, e o início dos trabalhos para o primeiro semestre de 2026. “O Novo PAC já garantiu R$ 450 milhões para acelerar essa obra estratégica”, afirmou o MIDR, em nota.

De acordo com MIDR, a integração do Nordeste à malha ferroviária nacional reduzirá custos logísticos e aumentará a competitividade da região. O plano ferroviário para o Nordeste inclui seis trechos estratégicos, como a Transnordestina, o Corredor Leste-Oeste e a Nova Malha Nordeste, além da conexão da Transnordestina com a Ferrovia Norte-Sul. No total, são mais de 5.500 km de ferrovias e investimentos estimados em R$ 46,3 bilhões. A ferrovia servirá para o transporte de grãos, minérios, combustíveis e fertilizantes, e impulsionará atividades econômicas de diversos arranjos produtivos da região conhecida
como Matopiba, que engloba os Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

No Ceará, a Transnordestina prevê atuar com três terminais de carga, atendendo não somente aos grandes produtores de grãos a partir do Piauí, mas também a bacia leiteira e pequenos e médios agricultores cearenses. Um dos terminais, com foco em grãos, ficará na região de Quixeramobim. A localização dos outros dois – um para combustíveis e outro para fertilizantes – ainda será definida pela empresa, segundo revelou o governo do Ceará.

FERROVIA FOI PENSADA NO SÉCULO XIX

Idealizada por D. Pedro II, em 1847, a ferrovia Transnordestina, começou a sair do papel apenas em 2006. Pelo projeto lançado, teria 1.750 km e conectaria a região do cerrado piauiense aos portos de Pecém e Suape, atravessando o sertão e interligando 81 municípios do Ceará, Piauí e Pernambuco. Sua estimativa
de custo era de R$ 4,5 bilhões.

Dezenove anos depois do início das obras – que deveriam estar terminadas em 2010 –, o custo da ferrovia saltou para R$ 15 bilhões. Desse total, R$ 7,1 bilhões já foram investidos. As obras da ferrovia retomaram o ritmo em 2023, com a volta de investimentos federais. O objetivo do governo é para que a entrega da Fase 1 da ferrovia ocorra até 2027 e até 2029, a Fase 2.

Vale observar que uma parte importante do traçado da Transnordestina aproveita trechos de ferrovias existentes e que estavam inoperantes. Até 2008, esses trechos faziam parte da Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN). Segundo a TLSA, cerca de 1.100 km de trilhos estavam nessas condições. Novos trilhos, dormentes e acessórios foram necessários

trocar, assim como padronizar as bitolas, com alargamento em vários trechos, e a instalação de bitolas mistas – de três trilhos – em outros. Uma das curiosidades do projeto é que ele foi começado do meio para as pontas. O primeiro trecho, iniciado em 2006, ligava Missão Velha (CE) e Salgueiro. Esse segmento foi inaugurado em 2008. Porém, as obras dos demais trechos começaram a atrasar, sendo que, faltando dois anos para o prazo previsto de entrega da obra completa, a ferrovia estava apenas com 5,9% concluída.

A partir daí novos prazos foram sendo prometidos: de 2010 passou para 2012 (já incluída no PAC 2), 2013 (quando chegou a 20% de conclusão), 2016 (34%), e assim sucessivamente, até que, em 2017, a obra parou, por conta de uma denúncia feita ao Tribunal de Contas da União (TCU) sobre possíveis irregularidades nos contratos de construção e exploração da ferrovia. O TCU suspendeu o repasse de dinheiro público para a obra.

Somente em 2019, as obras foram parcialmente retomadas, agora apenas com recursos privados da TLSA, mas em um compasso bem acanhado. Em 2022, o TCU liberou os aportes do governo. Foi em dezembro desse ano que a TLSA decidiu devolver a concessão do trecho Salgueiro-Suape. Somente no ano seguinte, agora com traçado mais curto, as obras voltaram a andar em um ritmo mais acelerado, sendo logo incluída no Novo PAC. Com as mudanças, a TLSA passou a ser responsável apenas pela construção dos trechos Eliseu Martins a Pecém, via Salgueiro.

A Transnordestina segue como um dos maiores projetos de infraestrutura em andamento no País. Seus números impressionam: 2,2 milhões de dormentes (a fábrica montada pela empresa é capaz de produzir 4,8 mil unidades de dormentes por dia), 209 mil toneladas de trilhos e 3,2 milhões de m3 de brita (4,5 mil m3 são produzidos por dia). Nas obras de infraestrutura, a ferrovia abrange, apenas no trecho da TLSA, 132 pontes e viadutos e 65 km de bueiros. No total, serão movimentados 186 milhões de m3 de terraplanagem.


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