Em setembro de 2005, um marco histórico foi estabelecido com o encontro dos presidentes do Brasil, Bolívia e Peru. Eles deram início às obras da Rodovia Interoceânica, um ambicioso projeto de 5 mil km que, pela primeira vez, conectaria os Oceanos Atlântico e Pacífico por meio de uma rodovia totalmente pavimentada.
Apelidada de IIRS Sur, a rodovia foi construída e modernizada ao longo de mais de 2.600 km, ligando os portos peruanos do Pacífico à cidade brasileira de Assis, onde se integra à malha rodoviária já existente no país.
“De agora em diante, nossas fronteiras deixarão de ser linhas divisórias, e se tornarão cada vez mais fronteiras compartilhadas que unem nosso povo e nossa geografia”, afirmou o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cerimônia de inauguração.
Desafios e Custos Inesperados na Construção
Para realizar o projeto, o governo peruano o dividiu em cinco trechos, licitados como parcerias público-privadas. Os contratos, com 25 anos de duração, reservaram cinco anos para construção e o restante para operação e manutenção.
Três trechos foram concedidos a construtoras brasileiras: o consórcio Conirsa (liderado pela Odebrecht) e o InterSur (liderado pela Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão). O custo inicial de US$ 1,3 bilhão para os trechos de nova construção subiu para US$ 2,37 bilhões no final, devido a desafios geográficos.
Segundo executivos da Conirsa, a imprevisibilidade do terreno foi o principal fator para o aumento de custos, com deslizamentos de terra constantes nos Andes. A InterSur também enfrentou problemas, atribuindo parte da discrepância a dados imprecisos fornecidos pelo governo peruano e à flutuação da moeda.
Superando a Geografia: Soluções Criativas de Engenharia
O projeto exigiu soluções inovadoras para superar os extremos climáticos e geográficos, com a rodovia atingindo altitudes de quase 5.000 metros em alguns pontos.
- Superando o Frio: Para pavimentar em altas altitudes, a Conirsa desenvolveu uma máquina apelidada de “Dragão”, que aquecia a pista antes da pavimentação, e usou tendas para manter o asfalto aquecido nos caminhões, dobrando o ritmo de trabalho.
- Enfrentando as Chuvas: Na selva, onde a chuva é um obstáculo constante, a Conirsa construiu uma tenda de 500 metros de comprimento para permitir a pavimentação ininterrupta, protegendo a obra de paralisações de até seis meses.
Um Novo Futuro para o Trânsito e o Comércio
A Rodovia Interoceânica já está transformando a região. Uma viagem que antes levava três dias por estradas de terra, agora pode ser feita em poucas horas. O tráfego, tanto da InterSur quanto da Conirsa, já superou as estimativas para 2018 e 2023, respectivamente, indicando o grande impacto comercial e social do projeto.
A rodovia final terá 7,4m de largura, com sub-base, base e duas camadas de massa asfáltica, além de um extenso sistema de drenagem para garantir durabilidade e segurança. O sucesso do projeto demonstra a capacidade da engenharia brasileira e peruana em superar obstáculos complexos para criar uma infraestrutura vital para a integração regional.





