Quais seriam os segredos, os profundos mistérios oficiais, que levam autoridades a selarem compromissos para sepultar, se possível por toda a eternidade, papéis confidenciais? Por que o sigilo eterno?
Há muito tempo a sociedade tem defendido, por intermédio de parlamentares e de outros meios, a necessidade de se acabar com isso. Entende que nada deve ter tal nível de confidencialidade que mereça ficar para todo o sempre imerso nas catacumbas.
Vez ou outra alguma administração federal, na tentativa de ampliar espaço nas noticias e comentários políticos, levanta a questão e ameaça desbloquear arquivos. Mas, tudo é jogo de cena. Talvez um aquele jogo de gato e rato para açular ânimos adversários. No fundo, há a certeza: o melhor é que tudo fique na mesma. É mais seguro não despertar a bisbilhotice de pesquisadores, dessa gente que fica torcendo para mexer nas coisas que estão sob o tapete da história.
Agora mesmo, outra frustração. A presidente Dilma Rousseff recuou. Acha desnecessário dar prioridade à votação do projeto de lei que liberaria a divulgação de documentos oficiais. Alguns senadores aplaudiram. Tangenciam. Romero Jucá, líder do governo no Senado, desconversa. Argumenta que o tema dos arquivos levanta muita celeuma. Nesse caso, por que a pressa? E Sarney diz que o fim do sigilo pode abrir feridas. E daí? Não seria bom e útil para a sociedade conhecer essas feridas? Discuti-las?
No fundo no fundo o que existe mesmo é uma grande, imensa, uma eterna hipocrisia. O Poder tem medo dos segredos do Poder. Tem pânico de mexer nos castelos de areia, nas operações tipo Satiagraha, nas histórias recentes e antigos dos fracenildos e dos palocci de todos os tipos e tamanhos séculos afora; tem medo de abrir o baú da ditadura; medo de escancarar ao olho público compromissos inconfessáveis firmados entre quatro paredes. Medo da sociedade. Porque, o Poder que treme diante dos segredos do Poder, treme diante da perspectiva de que a sociedade descubra a alcova do Poder. Faz sentido.
Fonte: Estadão