O afastamento de um sociólogo da Coordenadoria de Análise e Planejamento, que funciona subordinada à Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo, não tem importância maior. Foi um ato administrativo. O que tem importância maior é a denúncia de que ele vendia dados sigilosos e, mais significativo do que isso, a natureza desses dados. A pergunta elementar é esta: por que dados sobre violência são sigilosos?
A gravidade está exatamente na postura do governo de camuflar números que são importantes para os cidadãos. O governo não tem o direito de tornar sigilosas informações que podem balizar o comportamento da população e que têm importância para empresas que eventualmente se interessem pelo potencial de crescimento deste ou daquele bairro, a fim de selecionarem aqueles para os quais venham a programar investimentos em atividades imobiliárias ou outras.
A população precisa tomar conhecimento dos locais onde ocorre maior violência: homicídio, latrocínio, arrastões, estupros e por aí afora. Quanto maior conhecimento possua dessas áreas, distribuídas pelos quatro cantos da cidade, mais poderá cobrar do governo providências eficientes de segurança. Acobertar esses dados a fim de que a população ignore informações a que deve ficar atenta é ato que cuja responsabilidade precisa ser apurada. Hoje, uma das áreas de maior incidência de assaltos a residências fica lastimavelmente nas barbas do Palácio dos Bandeirantes.
O PIB
A informação de que o Brasil já tem o 7º PIB do mundo não deve ser argumento para o sujeito colocar a cabeça no travesseiro e repousar como se estivesse no melhor dos planetas. No fundo, essa informação em nada mexe com a sua vida diária. O índice tem sido usado pelo governo unicamente para fins propagandísticos. Os gargalos continuam em todas as áreas. Se a pobreza não estivesse aumentando e a oferta de emprego fosse uma realidade palpável, sobretudo no chamado Brasil profundo, o governo não se preocuparia em ampliar o Bolsa-Família, em detrimento dos cortes em outros programas sociais.
Fonte: Estadão