Sinobras confirma expansão em Marabá (PA)

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Investimentos somam US$ 200 milhões e estimulam formação do sonhado polo metal-mecânico local

 

Guilherme Azevedo

 

Depois de a crise financeira internacional iniciada em 2008 ameaçar diretamente a própria sobrevivência do polo siderúrgico no município de Marabá, no sudeste do Pará, o anúncio de investimentos que devem dobrar a capacidade local da Siderúrgica Norte Brasil (Sinobras) parece indicar que o sonho não acabou.
 

Já em execução, as obras civis e de montagem industrial da segunda fase de investimentos da Sinobras em Marabá correspondem a US$ 200 milhões. Devem adicionar mais 500 mil t/ano de aço laminado à produção atual de 380 mil t/ano.

 

Cerca de 1.300 trabalhadores movimentam produção local; mais 300 devem ser contratados

 

As atividades locais da Sinobras tiveram início no mesmo ano da eclosão da crise internacional, numa área de 140,23 ha com sede no distrito industrial do município. Hoje a siderúrgica emprega 1.284 funcionários. Pertence ao grupo Aço Cearense, que controla outras cinco empresas e duas plantas industriais em Caucaia, na região metropolitana de Fortaleza (CE).

 

Por um polo metal-mecânico

As ações para expandir as atividades da Sinobras em Marabá reforçam o antigo projeto de polo metal-mecânico local. Para tanto, trabalham há tempo a prefeitura e a associação comercial locais, em conjunto com a Federação das Indústrias do Pará (Fiepa), a secretaria estadual de Indústria e Comércio e ainda o governo federal. Mas o projeto, contudo, sofreu muitas idas e vindas e agora caminha para a consolidação.

 

O município atrai: é centro administrativo e econômico da região sudeste do Pará e produz R$ 3,742 bilhões anuais em bens e serviços, segundo dados do IBGE de 2011. Desempenho econômico que o coloca na quarta posição do Produto Interno Bruto no estado. A população estava estimada, em 2013 (IBGE), em 251 mil pessoas, tornando-o o quarto município paraense mais populoso.

 

Pesa também em favor de Marabá, localizado na confluência dos rios Itacaiúnas e Tocantins, a proximidade das minas de ferro da região, entre elas as de Parauapebas, fonte do minério de ferro utilizado pela Sinobras para produzir aço. A indústria siderúrgica é uma das principais multiplicadoras de postos de trabalho: para cada emprego direto, gera outros 23 indiretos, segundo cálculos da Fundação Getulio Vargas (FGV).

 

A projetada expansão do polo siderúrgico, com a cadeia do segmento metal-mecânico se alimentando do aço gerado, pode evitar o que se verificou após 2008, quando a suspensão de pedidos externos, em consequência da crise, descontinuou grande parte da produção local. Nas contas das entidades de classe, de 11 siderúrgicas em atividade à época acabaram ficando um terço ou menos. A Sinobras é uma das resistentes decerto porque destina sua produção para consumo no próprio Brasil. É escoada via terrestre, por caminhões (mesmo modal utilizado para receber minério), com um fluxo de saída de cerca de 1 mil caminhões/mês.

 

Nova unidade produtora

Em Marabá, a Sinobras dispõe hoje de quatro unidades operacionais: alto-forno, para produção do ferro-gusa; aciaria, para fabricação de tarugos de aço; laminação, para preparação de laminados de aço (vergalhão e fio-máquina); e trefila, para entrega de derivados de fio-máquina (como fios de aço para construção civil SI 60, arames lisos para a indústria e arames recozidos para construção).

 

O plano de expansão inclui nova área produtiva, chamada Laminação 2, que terá capacidade de 500 mil t/ano e produzirá bobinas convencionais de fio-máquina nas bitolas de 5,5 mm a 25 mm, de vergalhão nas bitolas 6,3 mm a 16 mm e de bobinas compactas de vergalhão nas bitolas de 10 mm a 25 mm. A operação da Laminação 2 se constitui também de forno de reaquecimento, laminador e saída de bobinas convencionais e compactas com capacidade de 110 t/hora. A unidade deve entrar em atividade em março de 2016.

 

O projeto prevê também a implantação de nova subestação e linha de transmissão, de 230 kV, com 13 km de extensão. Projetada para entrar em operação em março de 2015, a nova infraestrutura de energia visa suprir as necessidades advindas do crescimento da produção e permitir a utilização futura de energia gerada na usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no município de Altamira (PA). Outro novo equipamento, para triturar e beneficiar sucata, chamado shredder, com capacidade de 170 mil t/ano, tem início de operação previsto para dezembro deste ano.

 

A Sinobras estima que a fase de construção empregará 1.500 trabalhadores e a de operação das novas instalações, 300 novos colaboradores. “Nós temos grandes desafios, mas a Sinobras acredita fortemente no desenvolvimento da região em que está instalada e tem trabalhado para isso”, confia Milton Lima, o diretor industrial.

 

A Marabá, palco de lutas renhidas e sangrentas pela posse da terra e de suas riquezas a partir pelo menos da década de 1970, deve caber outro papel, hoje. O processo civilizatório pelo aço e sua cadeia produtiva complementar é a possibilidade de um caminho sobretudo próspero e pacífico. Do pó veio ao aço seguirá.

Fonte: Revista O Empreiteiro


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