Investimentos somam US$ 200 milhões e estimulam formação do sonhado polo metal-mecânico local
Guilherme Azevedo
Já em execução, as obras civis e de montagem industrial da segunda fase de investimentos da Sinobras em Marabá correspondem a US$ 200 milhões. Devem adicionar mais 500 mil t/ano de aço laminado à produção atual de 380 mil t/ano.
As atividades locais da Sinobras tiveram início no mesmo ano da eclosão da crise internacional, numa área de 140,23 ha com sede no distrito industrial do município. Hoje a siderúrgica emprega 1.284 funcionários. Pertence ao grupo Aço Cearense, que controla outras cinco empresas e duas plantas industriais em Caucaia, na região metropolitana de Fortaleza (CE).
Por um polo metal-mecânico
As ações para expandir as atividades da Sinobras em Marabá reforçam o antigo projeto de polo metal-mecânico local. Para tanto, trabalham há tempo a prefeitura e a associação comercial locais, em conjunto com a Federação das Indústrias do Pará (Fiepa), a secretaria estadual de Indústria e Comércio e ainda o governo federal. Mas o projeto, contudo, sofreu muitas idas e vindas e agora caminha para a consolidação.
O município atrai: é centro administrativo e econômico da região sudeste do Pará e produz R$ 3,742 bilhões anuais em bens e serviços, segundo dados do IBGE de 2011. Desempenho econômico que o coloca na quarta posição do Produto Interno Bruto no estado. A população estava estimada, em 2013 (IBGE), em 251 mil pessoas, tornando-o o quarto município paraense mais populoso.
Pesa também em favor de Marabá, localizado na confluência dos rios Itacaiúnas e Tocantins, a proximidade das minas de ferro da região, entre elas as de Parauapebas, fonte do minério de ferro utilizado pela Sinobras para produzir aço. A indústria siderúrgica é uma das principais multiplicadoras de postos de trabalho: para cada emprego direto, gera outros 23 indiretos, segundo cálculos da Fundação Getulio Vargas (FGV).
A projetada expansão do polo siderúrgico, com a cadeia do segmento metal-mecânico se alimentando do aço gerado, pode evitar o que se verificou após 2008, quando a suspensão de pedidos externos, em consequência da crise, descontinuou grande parte da produção local. Nas contas das entidades de classe, de 11 siderúrgicas em atividade à época acabaram ficando um terço ou menos. A Sinobras é uma das resistentes decerto porque destina sua produção para consumo no próprio Brasil. É escoada via terrestre, por caminhões (mesmo modal utilizado para receber minério), com um fluxo de saída de cerca de 1 mil caminhões/mês.
Nova unidade produtora
Em Marabá, a Sinobras dispõe hoje de quatro unidades operacionais: alto-forno, para produção do ferro-gusa; aciaria, para fabricação de tarugos de aço; laminação, para preparação de laminados de aço (vergalhão e fio-máquina); e trefila, para entrega de derivados de fio-máquina (como fios de aço para construção civil SI 60, arames lisos para a indústria e arames recozidos para construção).
O plano de expansão inclui nova área produtiva, chamada Laminação 2, que terá capacidade de 500 mil t/ano e produzirá bobinas convencionais de fio-máquina nas bitolas de 5,5 mm a 25 mm, de vergalhão nas bitolas 6,3 mm a 16 mm e de bobinas compactas de vergalhão nas bitolas de 10 mm a 25 mm. A operação da Laminação 2 se constitui também de forno de reaquecimento, laminador e saída de bobinas convencionais e compactas com capacidade de 110 t/hora. A unidade deve entrar em atividade em março de 2016.
O projeto prevê também a implantação de nova subestação e linha de transmissão, de 230 kV, com 13 km de extensão. Projetada para entrar em operação em março de 2015, a nova infraestrutura de energia visa suprir as necessidades advindas do crescimento da produção e permitir a utilização futura de energia gerada na usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no município de Altamira (PA). Outro novo equipamento, para triturar e beneficiar sucata, chamado shredder, com capacidade de 170 mil t/ano, tem início de operação previsto para dezembro deste ano.
A Sinobras estima que a fase de construção empregará 1.500 trabalhadores e a de operação das novas instalações, 300 novos colaboradores. “Nós temos grandes desafios, mas a Sinobras acredita fortemente no desenvolvimento da região em que está instalada e tem trabalhado para isso”, confia Milton Lima, o diretor industrial.
A Marabá, palco de lutas renhidas e sangrentas pela posse da terra e de suas riquezas a partir pelo menos da década de 1970, deve caber outro papel, hoje. O processo civilizatório pelo aço e sua cadeia produtiva complementar é a possibilidade de um caminho sobretudo próspero e pacífico. Do pó veio ao aço seguirá.
Fonte: Revista O Empreiteiro