A Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) realizou, ao longo de 2007, investimentos da ordem de R$ 573,1 milhões, em obras de expansão, modernização e manutenção nos aeroportos brasileiros e na aquisição de equipamentos de segurança. Isso representou uma redução de 35,6% em relação aos recuros aplicados em 2006 com os mesmos objetivos. Quem admite isso é Sérgio Maurício Brito Gaudenzi, presidente da empresa. Ele afirma que a redução decorreu, em grande parte, da paralisação de obras importantes, determinadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), em função de suspeitas de super-faturamento e de outras irregularidades nos projetos. Isso conteceu, por exemplo, com o aeroporto de Goiânia, cujas obras foram suspensas a pedido do Ministério Público Federal, por apresentar indícios de gastos irregulares de R$ 72,9 milhões.
Mas, para o executivo, apesar da redução dos investimentos, 2007 foi marcado pela conclusão de um conjunto dos empreendimentos de grande vulto, como as obras dos aeroportos de Santos Dumont, no Rio de Janeiro, João Pessoa, na Paraíba, Congonhas, e Campinas, em São Paulo, Viracopos, em Campina (SP) e Corumbá, no Mato Grosso. Ele garante que o movimento de aeronaves apresentou o melhor desempenho em 10 anos, com crescimento de 6,4%, chegando a 2,0 milhões de operações, e que os indicadores de produtividade apontam para uma evolução qualitativa dos resultados operacionais alcançados.
Nessa entrevista exclusiva para O Empreiteiro, Gaudenzi fala ainda do que foi feito em Congonhas após o trágico acidente com o Airbus da TAM, em 17 de julho de 2007, da paralisação das obras em Guarulhos e do projeto para transformar Viracopos em um mega-aeroporto.
O Empreiteiro — De acordo com o relatório de administração da Infraero de 2006, foram investidos naquele ano, ao longo de 2006, cerca de R$ 889,7 milhões, com recursos próprios da empresa, em obras e equipamentos, visando aumentar a capacidade operacional e a segurança do sistema. Qual o volume de recursos aplicados em 2007?
Sérgio Gaudenzi – Em 2007 foram realizadas obras de expansão, modernização e manutenção nos aeroportos e aquisição de equipamentos no montante de R$ 573,1 milhões, 35,6% abaixo dos investimentos realizados em 2006. Essa redução decorreu em grande parte da paralisação temporária de obras importantes, retomadas no final do exercício, em função da não concordância dos fornecedores quanto à retenção cautelar de valores estabelecida pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
Destacam-se, em 2007, no conjunto dos empreendimentos de grande vulto, a conclusão das obras de Santos Dumont, João Pessoa, Congonhas, Corumbá e Campinas, bem como a continuidade das obras em Boa Vista, Cruzeiro do Sul, Fortaleza, Galeão, Goiânia, Guarulhos, Jacarepaguá, Macapá, São Gonçalo do Amarante, Porto Velho, Vitória e Salvador.
Ao final do ano passado, a empresa apresentou lucro líquido (antes dos investimentos para União) de R$ 261,2 milhões, 53% acima do verificado em 2006, que foi de R$ 170,7 milhões. Isso se deveu principalmente à redução das Provisões para Prováveis Perdas, que passaram de R$ 278,6 milhões, em 2006, para R$ 171,2 milhões. A receita líquida foi de R$ 2.145,4 milhões, com crescimento de 10,9%, em relação a 2006. O custo dos serviços prestados foi de R$ 1.614,3 milhões, 15,8% acima do exercício anterior. Desse modo, o lucro apresentou redução de 1,7%, passando de R$ 540 milhões, em 2006, para R$ 531 milhões em 2007.
Apesar disso, em relação às atividades operacionais, o movimento de aeronaves apresentou o melhor desempenho em 10 anos, com crescimento de 6,4%, chegando a 2,0 milhões de operações. Na mesma linha, o movimento de passageiros cresceu 8,2%, em relação a 2006, chegando a 110,6 milhões. Os indicadores de produtividade que medem de forma qualitativa os resultados alcançados continuaram apresentando evolução.
O Empreiteiro — Como está estruturado o plano de investimentos estratégicos da empresa para os próximos anos? Há recursos do PAC ou é tudo com recursos próprios da Infraero? Quais aeroportos serão contemplados com obras e modernização?
Sérgio Gaudenzi — A Infraero investirá recursos próprios no valor de R$ 3 bilhões, que serão somados aos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), totalizando um investimento global de R$ 6 bilhões nos próximos quatro anos (ver tabela abaixo). O PAC se concentra em 20 aeroportos e quatro terminais de carga. A previsão de investimentos em aeroportos até 2010 é de R$ 1,8 bilhão.
O investimento previsto para a Região Centro-Oeste é de R$ 353 milhões, com a ampliação da capacidade do Aeroporto Internacional de Brasília para 11 milhões de passageiros/ano. O Aeroporto de Goiânia ganhará a ampliação da capacidade para 2,1 milhões de passageiros/ano, e o Aeroporto de Cuiabá, no Mato Grosso, a complementação da reforma do terminal de passageiros.
Para a Região Norte o investimento é de R$ 95 milhões. Em Boa Vista será realizada a ampliação da capacidade para 330 mil passageiros/ano. Em Macapá a ampliação aumentará a capacidade do aeroporto para 700 mil passageiros/ano.
Na Região Nordeste, o investimento previsto é de R$ 151 milhões. Sendo que para Parnaíba, no Piauí, estão previstos a ampliação e o reforço de pátio e pista; em Fortaleza a construção do terminal de cargas e da torre de controle e em Natal será construído o Aeroporto de São Gonçalo do Amarante. Para João Pessoa está prevista a ampliação da capacidade para 860 mil passageiros/ano e o Aeroporto Internacional do Recife terá a construção de quatro pontes de embarque. Já o Aeroporto Internacional de Salvador ganhará a readequação do acesso ao Aeroporto.
Já na Região Sudeste, será realizada a construção do novo Terminal de Cargas do Aeroporto Internacional de Vitória e ampliação da capacidade do terminal para 2,1 milhões de passageiros/ano. No Aeroporto Internacional de Tom Jobim, a recuperação e revitalização dos sistemas de pistas e Terminal de Carga. O Aeroporto Santos Dumont, terá ampliação da sua capacidade para 8,5 milhões de passageiros/ano.
E finalmente para a Região Sul o investimento previsto é de R$ 601 milhões, com a ampliação da pista de pouso e ampliação do terminal de cargas em mais 5 mil metros quadrados para o Aeroporto Internacional Afonso Pena, em Curitiba. Para o Aeroporto Internacional de Porto Alegre está prevista a implantação do novo complexo logístico e a ampliação da pista de pouso e decolagem. Haverá também ampliação da capacidade do Ae
roporto Internacional de Florianópolis para 2,7 milhões de passageiros ao ano.
O Empreiteiro – Como fica Congonhas, que é um ponto crítico?Qual o volume de investimentos previsto e em que será aplicado?
Sérgio Gaudenzi — Em Congonhas será realizada a segunda etapa da reforma e modernização do terminal de passageiros e construção da torre de controle. A pista principal de Congonhas e a torre estão orçadas em R$ 38 milhões e a pista auxiliar em R$ 11 milhões, sendo que o custo da pista auxiliar já estava orçado antes do PAC.
O Empreiteiro – O que foi feito em Congonhas depois do acidente da TAM, em julho do ano passado? O que ainda há por fazer?
Sérgio Gaudenzi – Em 17 de julho de 2007, ocasião do acidente com o Airbus da Tam, o Aeroporto de Congonhas já estava realizando a segunda fase das obras de sua pista principal, que consistia na colocação do grooving. Este foi iniciado no dia 25 de julho e finalizado no dia 15 de setembro. É importante relembrar que a pista principal do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, retornou suas operações de pousos e decolagens dia 29 de junho, às 12 horas, após 45 dias de interrupção operacional. A reforma da pista principal do aeroporto de Congonhas iniciou dia 14 de maio.
Na primeira fase da obra (os primeiros 45 dias) foi efetuada a recuperação geométrica dos 1.939 m x 45 m de extensão da pista de pouso e decolagem, com a correção das declividades transversais e longitudinais. Para tanto, foram executadas a fresagem (retirada das camadas desgastadas de asfalto), a regularização geométrica com massa asfáltica, um novo balizamento (sinalização luminosa das pistas para auxílio do pouso das aeronaves) e a renovação de toda a sinalização horizontal (pintura das faixas na pista).
Já na segunda fase, os serviços foram realizados durante a madrugada, sem a interdição da pista. Essa fase contemplou os trechos das pistas de táxi (área onde as aeronaves realizam manobras), nas alças de interligação das duas pistas (principal e auxiliar) e finalizou com o grooving (ranhuras para facilitar o escoamento de água).
No dia 15 de setembro o Ministério da Defesa determinou a implantação de áreas de escape nas duas pistas do Aeroporto de Congonhas. Estas áreas, a serem implantadas, reduzem a extensão utilizável para pouso e decolagem. A área de pouso e decolagem da pista principal passa de 1.940 m para 1.640 m, e a pista secundária de 1.435 m para 1.195 m.
No dia 25 de janeiro de 2008 o governo federal, a Infraero e a prefeitura de São Paulo inauguraram uma passagem subterrânea que liga a Avenida Washington Luís ao acesso viário do terminal de passageiros do aeroporto e ao estacionamento. Essa obra eliminou o farol do cruzamento e promoveu uma melhoria no trânsito da região do Aeroporto. Segundo estimativa da CET, 4.800 veículos/hora passam pelo local. O termo de parceria foi assinado no dia 3 de novembro de 2005 e o início da obra em campo foi em dezembro de 2006. A passagem recebeu o nome de Túnel Paulo Autran e possui 310 m de comprimento (sendo 160 m cobertos e 150 descobertos).
O Empreiteiro – Como estão as obras no aeroporto de Guarulhos? Em que estágio as obras foram paralisadas? Qual o volume de recursos já aplicados e em quê?
Sérgio Gaudenzi — No Aeroporto Internacional de Guarulhos será feita a implantação, adequação, ampliação e revitalização do sistema de pátios e pistas, além da ampliação da capacidade do aeroporto para mais de 12 milhões de passageiros ao ano. A segunda fase das obras de Guarulhos foi concluída em novembro do ano passado. A pista de 3,7 mil m do está operando normalmente para pousos e decolagens. Essa ação foi planejada para atender à intensa movimentação de vôos e de passageiros no terminal aéreo de Guarulhos nos meses de dezembro, janeiro, fevereiro e março.
A última fase da obra vai ocorrer no período de abril à junho de 2008, quando está planejado a realização da reforma do trecho de 1 km. Nesta etapa, a pista vai operar numa extensão de 2 km, obedecendo-se todos os critérios de segurança.
Na programação de obras na pista foram planejadas intervenções que correspondem à medição topográfica, retirada do asfalto antigo, aplicação de regularização e da nova camada de asfalto, execução da pintura de sinalização horizontal, execução do grooving, entre outros itens. Com essas reformas, o sistema de pistas ficará em condições operacionais adequadas e com elevado grau de segurança para as aeronaves das mais de 40 empresas aéreas que operam no Aeroporto de Guarulhos.
O Empreiteiro – Existe de fato a proposta de transformar o aeroporto de Viracopos, em Campinas, em um mega-aeroporto? Gostaríamos de detalhar esse projeto. Quem é o responsável pela sua elaboração?
Sérgio Gaudenzi – A Infraero e a prefeitura de Campinas assinaram, em fevereiro deste ano, um termo de cooperação mútua que permitirá a desapropriação de uma área de 11,93 km², onde será construída a segunda pista de pousos e decolagens, principal obra prevista no desenvolvimento do aeroporto. Nos próximos 30 anos Viracopos poderá receber de 85 a 90 milhões de passageiros por ano.
Em 2007, passaram pelo aeroporto cerca de 955 mil pessoas. A Infraero concentrará esforços na ampliação do aeroporto já que o considera tecnicamente a opção mais viável para absorver o futuro tráfego da área terminal de São Paulo.
Até o final de 2008, a Infraero concluirá o projeto executivo para a construção da segunda pista, que terá 3,6 mil metros de comprimento por 60 metros de largura. O investimento será de cerca de R$ 350 milhões, com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a pista deverá ser concluída em três anos. Para as desapropriações serão disponibilizados mais R$ 150 milhões. O processo inclui 88 propriedades rurais e 3.172 lotes urbanos.
A primeira etapa do crescimento de Viracopos será concluída em 2015 e inclui, além da construção da pista, a ampliação do sistema de terminal de passageiros.
Desde 1995 a Infraero investe neste aeroporto mais de R$ 250 milhões já foram empregados na construção dos terminais de carga e de passageiros, além de outras obras. Em 2007, o aeroporto bateu recorde histórico de crescimento na movimentação de mercadorias importadas e na movimentação de passageiros.
Em janeiro deste ano, o diretor de Operações da Infraero, tenente brigadeiro do ar Claonilson Nicácio Silva participou de uma comitiva que fez uma inspeção operacional em Campinas. O objetivo foi avaliar a infra-estrutura instalada para atendimento aos passageiros e usuários e levantar oportunidades de melhorias.
A inspeção começou com uma apresentaç&a
tilde;o sobre o aeroporto feita pelo superintendente Clóvis Moreira e em seguida a comitiva, formada por 23 pessoas, dividiu-se em grupos que foram verificar “in loco” os processos das áreas de operações, segurança, navegação aérea e manutenção. Em sua apresentação o superintendente ressaltou a importância de Viracopos para a aviação nacional e seu posicionamento estratégico para desafogar futuramente o tráfego dos aeroportos de São Paulo – Congonhas e Guarulhos.
Fonte: Estadão