Leio que a presidente, com a popularidade em queda livre porque não estaria cumprindo as promessas que fez durante a campanha eleitoral, pretende recorrer ao mesmo marqueteiro, que a induziu a proferir supostas inverdades, a fim de mostrar que as coisas não são bem assim. No fundo, pretende fazer as verdades aparecerem.
Vai ser difícil. O cenário da campanha era um e a realidade da administração é outra. E, no percurso entre uma realidade e outra, muitas verdades e mentiras acabaram se transformando e até se perdendo no meio do caminho. É de se imaginar que a população venha se encarregando de fazer uma triagem das promessas que acolheu e avalia o que fazer com o que conseguir apurar. Além do que, embora para muitos a mentira tenha perna curta, esta pode ser a saída possível para se evitar o excessivo peso da verdade. Pois não se fala que a verdade dói?
Mas, quantos já mentiram no exercício do Poder? E, quantos mentem no Parlamento? Sei de deputados que se elegeram contando lorotas. Está aí o Tiririca que não me deixa mentir. A arte da lorota, conquanto não seja refinada, tem feito escola no legislativo municipal, estadual e federal. E, sem jamais perder a autenticidade.
Mas, recorrer ao mesmo marqueteiro? A presidente poderia escolher outro. Talvez um que tenha maior inflexão pela verdade. Porque tentar desfazer a mentira de uma promessa recorrendo à outra, apenas aumenta o problema que a constatação da verdade teria criado. Sobretudo, quando a população recebe a conta de luz e sabe que aquilo é uma verdade absoluta. Assim como é uma verdade matematicamente absoluta a carga tributária que chega a 37,65% do PIB. Há casos, portanto, em que a verdade não dá sustentação à promessa, por mais maquiada que esta insista em bater de manhã à noite a nossa porta.
Por fim, quero recorrer ao Oscar Wilde, para colocar aqui um ponto final: “Pouca sinceridade é uma coisa perigosa, e sinceridade demais é absolutamente fatal”.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira