TBM escava túnel entre Ásia e Europa no Estreito de Bósforo

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Trata-se de megaprojeto financiado pelo Banco Europeu de Investimento (BEI) e instituições financeiras da Turquia; a iniciativa chegou a ter a sua viabilidade financeira posta em dúvida porque seu inicio coincidiu com a crise global de 2009. Mas agora o consórcio turco-coreano entrou na reta final para entregar a travessia ainda este ano

Uma bela inspiração para países emergentes como o Brasil, onde megaprojeto é sinônimo de orçamento estourado, atrasos sem fim e outras encrencas. Sob designação oficial de Travessia de Túnel Rodoviário no Estreito de Istambul, na Turquia, o projeto formatado nas modalidades BOT e PPP foi licitado pelo Ministério dos Transportes local, compreendendo três trechos com extensão total de 14,6 km.

Os dois trechos de acesso terrestre ao túnel em ambos os lados serão entregues às autoridades após conclusão das obras, enquanto que o túnel será operado sob concessão de 30,5 anos. O contrato foi assinado com o consórcio no final de 2008. As obras foram orçadas em 768 milhões de euros, sendo 250 milhões de euros financiados pelo BEI.

É tido como fato que o rei Abdulmecid I, que governava o Império Otomano, em 1861, teve a ideia de uma ligação terrestre através do Estreito de Bósforo, que seria parte da Rota da Seda. O sultão Abdulhamid II encomendou estudos de viabilidade em 1891 — mas sua construção foi considerada impraticável na época. Estes monarcas visionários estavam à frente do seu tempo.

O túnel, que em turco se escreve Avrasya Tuneli, tem como concessionária a Eurasia Tunnel Operation, C o n s t r u c t i o n and Investment Inc. (ETOCI), que contratou como construtora responsável o consórcio formado pela empresa local Yapi Merkezi e a coreana SK Engineering & Construction. A Yapi é um grupo de nove empresas, formada há 47 anos, com origem numa empresa projetista, registrando hoje uma receita bruta anual de US$ 850 milhões, sendo quase 50% oriunda de contratos fora da Turquia, com ênfase em infraestrutura. Já a SK Engineering & Construction é o terceiro maior grupo empresarial da Coreia do Sul, envolvido em negócios de energia e química, telecomunicações, trading e serviços, incluindo construção imobiliária e infraestrutura. A licitação foi realizada em junho de 2008, o contrato de concessão assinado com a ETOCI em fevereiro de 2011, a engenharia financeira concluída em dezembro de 2012 e o início da operação do túnel estimado para outubro de 2016. Final da concessão e devolução ao governo: abril de 2043.

Tbm

Do traçado total de 14,6 km do projeto, o túnel mede 5,4 km, sendo que o trecho do Bósforo foi escavado com uma TBM e corresponde a 3,4 km; os 2 km restantes serão executados pelo método NATM e cut and cover. Os dois trechos de acesso têm extensão de 5,4 km no lado europeu e 3,8 km no lado asiático, e serão administrados pela Municipalidade Metropolitana de Istambul. A travessia terrestre vai aliviar as duas pontes existentes no Bósforo que estão permanentemente cogestionados hoje.

Calcula- se que 100 mil carros vão usar o túnel todo dia, reduzindo o tempo de percurso atual de até 100 minutos para apenas 15.

O túnel vai seguir um traçado no subsolo com três quartos da extensão escavados numa formação geológica chamada Trakya e um quarto em solo mole — daí a necessidade de uma TBM para material misto, operando sob 11 bar de pressão.

O túnel, com diâmetro escavado de 13,7 m, terá revestimento de 60 cm de espessura e diâmetro interno de 12 m. As duas pistas rodoviárias serão superpostas, e o compartimento inferior será reservado às redes de utilidades.

Na estrutura do túnel, há duas conexões sísmicas instaladas nas zonas de transição entre rocha e solos moles, que comportam deslocamentos de até 70 mm em movimentos diferentes dessas camadas, provocados por tremores de terra.

Estruturas do túnel permitem deslocamentos de até 70 mm

Insufladores longitudinais respondem pela ventilação, com monitoramento eletrônico da qualidade do ar. O tráfego será fiscalizado por sistema CCTV; os usuários terão à disposição comunicação de emergência, sistema de detecção e combate a incêndios e iluminação inteligente.

Há salas de emergência protegidas a cada 300 m para uso de pessoas desabilitadas, que funcionam ainda como rotas de fuga para o outro nível do túnel. Os veículos disporão de baias de emergência a cada 500 m, com telefones de socorro e CCTV.

Estrutura financeira

O Ministério dos Transportes da Turquia, através da Diretoria de Investimentos em Infraestrutura (AYGM) assinou uma garantia de receita equivalente a 25 milhões de travessias por veículos ao ano, igual a 68 mil travessias/dia.

De acordo com estudos de tráfego efetuados por consultorias especializadas, esta garantia tem chances remotas de ser utilizada pela concessionária.

A AYGM receberá 30% da receita excedente gerada pelo pedágio dos veículos.

Fonte: Redação OE


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