Apesar da liberação dos recursos, a construção de estádios para a Copa do Mundo de Futebol, de 2014, parece empacar na baixa capacidade de gestão do poder público – ou no embate dos interesses políticos
Em evento recente sobre a construção de estádios para a Copa de 2014, patrocinado pelo Instituto de Metais Não Ferrosos (ICZ), o sul-africano Rob White chamou a atenção para um fato corriqueiro a todos os interessados em jogos de futebol, em qualquer parte do mundo. White, que representou a International Zinc Association da África do Sul (Izasa), perguntou aos jornalistas presentes à coletiva, no hotel Caesar Business em São Paulo, quantos segundos de uma partida de futebol o mais atento torcedor, por mais que se esforce, consegue lembrar no dia seguinte. Um ou dois minutos? Alguns segundos? Já o legado de uma Copa do Mundo continua por vários anos ou décadas e, segundo ele, "deve ser bem feita, na primeira vez, porque o tempo é curto e o dinheiro vem do contribuinte".
Sábias palavras que nem na África do Sul foram levadas a sério. A julgar, pela tradição brasileira, elas também correm sério risco de virar poeira no ar. Se tem uma coisa em que o Brasil acumula larga experiência é em obras concluídas na última hora, deixando explodir os orçamentos, atropelando as licitações realizadas e pouca preocupação com a qualidade. Isso ocorreu nos Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro. Nesse momento, dos 12 estádios previstos para sediar jogos da Copa, o mais adiantado, a Arena Cuiabá ou Novo Verdão, está começando a terraplenagem. Se continuar nesse ritmo nas outras cidades-sede, a Inglaterra, provável sede da Copa de 2018, definirá as cidades que vão sediar a abertura e a final antes que o governo paulista e a prefeitura paulistana resolvam em qual estádio pretendem abrir os jogos.
Com um custo médio por arena na faixa dos R$ 464 milhões, os empresários brasileiros continuam fazendo cálculos de investimento em infraestrutura (além dos estádios, mobilidade urbana, aeroportos e portos), de R$ 33 bilhões para cima, um incremento no turismo por volta de R$ 9,4 bilhões, acréscimo nos tributos em até R$ 16,8 bilhões e a criação de 330 mil empregos diretos, além de outros 380 mil temporários. E o governo calcula que o consumo das famílias pode alcançar um adicional de R$ 5 bilhões.
Tudo certo, se não tivéssemos o péssimo exemplo do Pan do Rio, que sairia por R$ 414 milhões e acabou custando a "bagatela" de R$ 3,7 bilhões. Se fizermos a engenharia reversa dessa explosão de orçamento, vamos ver o investimento na infraestrutura da Copa caminhar para algo em torno de R$ 300 bilhões. Apenas para dar dois termos de comparação: a Copa na Alemanha, em 2006, saiu por R$ 30 bilhões (ou € 9 bilhões), com um custo médio por arena de R$ 291 milhões. Na África do Sul, custou R$ 15 bilhões, com custo médio por estádio de R$ 271 milhões. Por que o Brasil já começa pensando em custos bem acima dos alemães e sul-africanos?
Vários analistas concordam num ponto: existe um risco bastante alto de falhas graves em administrar vários projetos ao mesmo tempo, considerando a baixa capacidade de gestão do poder público: as já citadas dificuldades com orçamento e qualidade da obra, além da exclusão de alguma cidade (casos de Curitiba e Natal), a divulgação negativa do estilo brasileiro de ser e, pior de tudo, a falta de garantia do legado à população. O governo já liberou os recursos para os projetos de mobilidade urbana, um conceito amplo que envolve vários modos de transporte e subsistemas locais, intermunicipais e rodovias, mas ver isso fora da prancheta são outros quinhentos.
Nesse pacote, estão incluídos os BRTs (Bus Rapid Transit) de nove das 12 cidades e a ampliação do metrô somente em São Paulo, mas como o esquema de financiamento do BNDES abre uma brecha na Lei de Responsabilidade Fiscal, as prefeituras podem encaixar aí vários investimentos urbanos que podem figurar como legados. Exemplos: paisagismo, iluminação pública, reconstrução de passeios.
Nem tambor, nem vuvuzela
Das 12 cidades brasileiras escolhidas pela Fédération Internationale de Football Association (Fifa), duas largaram na frente: Cuiabá e Manaus. Oantigo estádio Governador José Fragelli, em Cuiabá, foi demolido e o projeto do Novo Verdão, na capital mato-grossense, foi desenvolvido pelo escritório paulistano GCP em parceria com o Davis Broody Bond de Nova York. O estádio, com quatro lances independentes de arquibancadas, coberturas sustentadas por pórticos, esquinas abertas e ajardinadas, fará parte de um conjunto com a arena, parque e ginásio, numa área de 300 mil m2. A cobertura de telha metálica e manta de TPO (Thermoplastic PolyOlefin) e o fechamento da fachada com membrana de PVC dotada de brise garantem sombreamento e ventilação, importantes numa cidade que chega a fazer 45º C no verão.
O projeto foi concebido para minimizar as operações de corte e aterro na terraplenagem. A própria "concha" das arquibancadas, em pré-moldado de concreto, fica dividida por jardins que isolam os sistemas e umidificam o ar. "O estádio e os carros criam uma ilha de calor. Por isso, criamos esse recurso adiabático", explica o arquiteto Sergio Coelho, da GCP. Mais: o pavimento e a cobertura respeitam o índice de reflectância para minimizar o efeito da incidência solar. A membrana vinílica do fechamento e os brises deixam vazar as visuais externas do estádio e o paisagismo das áreas verdes ao redor da edificação.
Segundo o arquiteto, a presença do estádio vai induzir uma requalificação urbana do entorno, no bairro conhecido como Verdão. "Com o centro da cidade degradado e o vetor de crescimento seguindo para o norte, a área ficou subutilizada", diz o arquiteto. Sem times de grande expressão no cenário nacional nem clubes representantes nas séries A ou B do Campeonato Brasileiro, a grande dúvida era se a nova Arena se tornaria um elefante branco no meio do cerrado. A solução foi criar um sistema de arquibancadas removíveis que, depois da Copa, reduz a capacidade do estádio de 42.423 para 29.327 espectadores. O recurso – usado em outros estádios do mundo, como o ANZ Stadium, sede dos Jogos Olímpicos de 2000, em Sidney, na Austrália, ou o estádio de Kobe, no Japão, que abrigou jogos da Copa do Mundo de 2002 – permite que a cobertura e a arquibancada, em estrutura metálica aparafusada e desmontável possa ser utilizada em outros empreendimentos como ginásios e rodoviárias.
Além do B
RT de Cuiabá, o legado do Novo Verdão inclui quadras poliesportivas e de skate, um street mall, um estacionamento que se integra ao bosque e área para concertos de música sertaneja, rock ou competições de motocross. O projeto indica ainda um espelho d’água e uma mata integrados a outra área com restaurante, choperia e marquise, com sanitários e ponto de encontro. A Arena Cuiabá está preparada para receber a certificação de Leadership in Energy & Environmental Design (LEED), pois atende a quesitos como redução de energia, climatização, baixo uso dos motores, sistemas hidráulicos de reúso e estação para recircular esgoto tratado. "A água pluvial coletada, como contém alguns sais minerais, não dá para reusar 100% no gramado", comenta Coelho. Mas o estádio pode ser construído sem certificação LEED. O custo da obra de estádio sustentável, segundo ele, pode chegar a 1 ou 2% a mais.
Piranha no pirarucu
No caso amazonense, depois que as marquises, arquibancadas e a velha estrutura do Vivaldão vieram abaixo, a Andrade Gutierrez deu início à terraplenagem. A empreiteira vai seguir o masterplan de 100 mil m2 elaborado pelo escritório de arquitetura paulistano Stadia em conjunto com o grupo alemão gmp Architekten, responsável pelos projetos do Cape Town Stadium, do Nelson Mandela Bay Station, em Port Elizabeth (onde a seleção brasileira foi eliminada pela Holanda, na Copa passada), e pelo Moses Mabhida, em Durban, na África do Sul.
A cobertura metálica sustenta uma membrana de fibra de vidro com PTFE (polytetrafluoroethylene) branca e translúcida que continua pelas paredes laterais de fechamento, sugerindo elementos da cultura local como cestos indígenas e pele de animais, o que garante mínimas perdas energéticas, de luz e ventilação naturais. "Pelas formas especiais, a estrutura metálica será o maior desafio logístico da obra, pelas dificuldades de transporte em Manaus, onde quase tudo só chega por barco ou avião", explica a arquiteta Fernanda Rodrigues de Magalhães, da Stadia. O projeto coloca a arena em um pódio de 9 a 10 m acima da avenida, na região centro-oeste da cidade. "O masterplan sugere que, após a Copa, esse pódio abrigue canteiros e gramados de uso público", diz Fernanda.
Embora não tenha a flexibilidade da Arena Cuiabá, 95% do material demolido da arena de Manaus serão reutilizados no próprio canteiro e em outras obras na capital amazonense. Segundo os planos da secretaria de esportes local, os agregados serão usados nas fundações. O solo,agrama e a areia serão reaproveitados no entorno do complexo esportivo e as cadeiras e todaestrutura elétricaserão doadas para 32 municípios do Amazonas. Além de seguir o programa da Fifa, as exigências do ministério dos Esportes e do BNDES, esses procedimentos de reciclagem contam pontos para as metas verdes da certificação LEED.
Dentro da área do masterplan, maior e separado do perímetro da Fifa, estão previstos vários equipamentos no entorno. "Nesses locais, o projeto indica estruturas de overlay como a da vila de hospitalidade (onde fica o sambódromo) e o centro de mídia e futuro centro de convenções (ainda não está decidido) no ginásio", explica Fernanda. A construção da arena em Manaus – planejada para ficar pronta em dezembro de 2012 como candidata à Copa das Confederações – deve gerar1,5 mil empregos diretos e outros 4,5 mil indiretos.Durante os jogos da Copa, os setores dehotelaria, transporte terrestre, aéreo ealimentação seriam alavancados pela presença de torcedores. O transporte terrestre e aéreo do Amazonaspassará por transformações com a reforma do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, cujo terminal dobrará de tamanho, chegando a 80 mil metros quadrados. Dos 258 hotéis existentes em Manaus, apenas 80 atendem as exigências da Fifa.
Bola em jogo
Enquanto São Paulo vacila na decisão de abrigar o jogo de abertura da Copa, com a interferência política para se construir um novo estádio, Brasília se lança como forte candidata com o Estádio Nacional, projetado pelo escritório paulistano Castro Mello. Desenhado para se encaixar ao longo do Eixo Monumental onde se concentram as mais importantes obras arquitetônicas de Brasília, a arena chama a atenção pelo anel de compressão do sistema de cobertura que será construído em concreto de alto desempenho moldado in-loco. Os pilares de sustentação, as arquibancadas e lajes serão em estruturas pré-moldadas. Para a cobertura fixa está prevista a utilização de cabos de aço, placas de aço e steeldeck com placas de vidro. Na parte central retrátil, além dos cabos de aço será utilizada uma membrana Tenara da Gore, um material resistente e maleável.
Quinto colocado no ranking das obras mais adiantadas, "o atual Mané Garrincha de Brasília foi projetado pelo nosso escritório em 1970 para ser um estádio olímpico com pista de atletismo e capacidade prevista para 110 mil lugares. Acontece que as competições de atletismo foram raríssimas nesses 40 anos e a construção nunca se completou", explica Eduardo de Castro Mello. Com o novo projeto, desaparece a pista de atletismo, o campo será rebaixado em 4,50 m e a arquibancada inferior se aproxima das linhas laterais e de fundo do campo. Para maior conforto, haverá uma cobertura para todos os locais de público no estádio.
Terceiro colocado entre os projetos mais avançados, o projeto de reforma do Mineirão, em Belo Horizonte, foi desenvolvido pelo escritório do arquiteto Gustavo Penna com apoio dos escritórios alemães gmp (Von Gerkan, Marg), de Berlim, e SBP (Schlaich, Bergermann), de Stuttgart. A cobertura, leve e translúcida, na cor branca, será formada por um anel de tensão e cabos de aço suspensos por um sistema estrutural independente, que não provocará nenhuma interferência na volumetria do estádio. "Não se notarão essas intervenções, apenas alguns pilares metálicos poderão ser vistos pelos vãos da fachada", esclareceu o arquiteto Ralf Amann, para a jornalista Nanci Corbioli, da revista ProjetoDesign. Segundo o arquiteto Gustavo Penna, a cobertura vai criar uma área de penumbra sobre o gramado e isso deve melhorar a qualidade das transmissões de TV. O custo da reforma atingiu um orçamento inicial de R$ 800 milhões, mas parece que esse número, pelo menos no papel, foi revisto para baixo.
Em matéria de Programa de Metas Verdes da Fifa, Salvador fará esforço para acompanhar a tendência que "contaminou" os outros projetos. Além do sistema de reúso do esgoto tratado, aproveitamento da água da chuv
a, diminuição e reciclagem do lixo gerado e sustentabilidade energética, com o uso de ventilação e iluminação naturais, o estádio Nova Fonte Nova nascerá sobre os escombros implodidos da antiga estrutura, uma maneira que o governo estadual encontrou de aproveitar o que sobrar da demolição. A maior parte do entulho do anel supeior, implodido 700 kg de explosivos no final de agosto, passa por um equipamento de britagem e será reaproveitada em serviços de terraplanagem e pavimentação na região metropolitana de Salvador.
Com isso, será possível reduzir a utilização de recursos naturais na construção da nova arena e em outras obras de Salvador e Região Metropolitana. Depois que o desabamento de parte das arquibancadas no anel superior matou sete pessoas, em 2007, o governo estadual decidiu por a demolir a Fonte Nova. Apesar das polêmicas, os gestores do Nova Fonte Nova planejam utilizar o mesmo modelo multiuso do Amsterdã Arena, casa do time de futebol Ajax e parceiro na operação da arena baiana. A estrutura abrigará também sala de imprensa, quiosques, lojas, um centro de negócios e um museu do futebol. Logo após o "show" implosivo, o governo baiano decidiu oficializar a intenção de sediar o jogo de abertura.
A região de Recife optou pela construção do estádio Arena Cidade da Copa, em São Lourenço da Mata, município a 20 km da capital pernambucana. "O projeto foi desenvolvido para tornar o novo estádio uma das referências do País, sendo que a visibilidade terá prioridade para que todos os torcedores tenham uma visão perfeita do campo, sem os conhecidos pontos-cegos", afirma o arquiteto Daniel Fernandes, responsável pelo projeto. Fernandes tem no currículo projetos de estádios como o da nova arena da Ponte Preta, em Campinas, do Grêmio, em Porto Alegre, e como consultor técnico para a reforma do Maracanã, no Rio de Janeiro.
O local escolhido para a construção da arena, São Lourenço da Mata, ocupa uma região metropolitana ainda desocupada, mas localizada em uma área com grande potencial de crescimento. O empreendimento teria o papel de impulsionar o desenvolvimento da região. Nas cercanias da nova arena, está planejada a implantação da Cidade da Copa, daí o nome do estádio, um empreendimento para construir nove mil unidades habitacionais. A proposta é investir em projetos futuros para o estádio, que possam ir além dos jogos de futebol, com eventos como shows de grande porte. A viabilidade da arena de Recife será estruturada como uma Parceria Público-Privada (PPP). O nome oficial ainda deverá ser escolhido, entre Arena Capibaribe e Arena Maracatu.
Fim da fila
Milhões de brasileiros assistiram a dois jogos em estádios recém-construídos que podem servir de inspiração para as cidades brasileiras que ocupam a parte final da fila na corrida pela construção das arenas. O New Meadowlands Stadium, em East Rutherford, Nova Jersey, abrigou o amistoso Brasil 2×0 Estados Unidos, na apresentação oficial da seleção do técnico Mano Menezes, atraindo um público de 77.223 torcedores que pagaram entre US$ 40 e US$ 365 para ver o jogo. Poucos veículos na mídia chamaram a atenção para o fato de que em Nova Jersey, nos Estados Unidos, reside uma das maiores comunidades de brasileiros fora do Brasil. O estádio custou US$ 1,7 bilhão, numa parceria entre os times de futebol americano Giants and Jets de Nova York, e pode abrigar até 82.000 torcedores.
O outro estádio, o Omnilife, do Chivas em Guadalajara, no México, pertencente ao empresário Jorge Vergara, custou R$ 352 milhões. Com capacidade para 45 mil torcedores, o Omnilife foi projetado pelo Studio Massaud Pouzet e foi palco do primeiro jogo da final da Libertadores, entre o Internacional de Porto Alegre e o Chivas. O time brasileiro ganhou de virada por 2 a 1.
No caso do estádio do Internacional, o Beira-Rio, em Porto Alegre, os gestores deram início a uma reforma básica de R$ 160 milhões que inclui uma cobertura metálica, novos vestiários e mais espaço para o público que passaria dos atuais 56 mil para 62 mil espectadores. Se a arena multiuso americana ficou em US$ 1,7 bilhão, para muitos brasileiros, a reforma do Maracanã, no Rio de Janeiro, por R$ 720 milhões parece um valor salgado demais. Cinco consórcios e uma empresa – Sanerio, BA Engenharia e Hexagonal; Cetenco, Construcap e Convap; Queiroz Galvão e Carioca e Christiani-Nielsen; Paulitec, Estacon e Recoma; e Odebrecht, Delta e Andrade Gutierrez, além da OAS que entrou sozinha na licitação – disputam o contrato e a promessa de entregar a obra até dezembro de 2012.
Em Fortaleza, a licitação de reforma do Castelão está embargada por suspeita de favorecimento a uma empresa concorrente. O valor da obra está estimado em R$ 623 milhões e a arena deve comportar 60 mil lugares. O projeto do escritório de Hector Vigliecca, arquiteto uruguaio radicado em São Paulo, prevê a construção de um complexo olímpico e um centro de compras, no terreno de 300 mil metros quadrados em que se localiza o estádio.
A capital paranaense, Curitiba – que abrigou jogos da Copa de 1950, no estádio Vila Capanema, do Paraná Clube – agora sofre para encaminhar a finalização da Arena da Baixada a um custo de R$ 145 milhões e deixar o estádio com 41,3 mil lugares. Tanto Curitiba como Natal correm o risco de serem cortadas pela Fifa, mas o BNDES garantiu que vai financiar a reforma do estádio curitibano. A Arena das Dunas, de Natal, chegou a ter projeto desenhado pelos americanos da Populous (responsável por projetos de estádios como Wembley e Emirates, na Inglaterra, o Olímpico de Sydney, na Austrália, e o Soccer City de Joanesburgo), em parceria com o Coutinho, Diegues & Cordeiro do Rio de Janeiro e o potiguar Felipe Bezerra. Sairia por R$ 400 milhões, para receber até 45 mil lugares.
No caso de São Paulo, nem o estádio está definido. O primeiro capítulo da novela paulistana começou quando a Fifa considerou a reforma do Morumbi, de autoria do arquiteto Ruy Ohtake, superficial demais e acordaSão Paulo do sonho de sediar o jogo de abertura. Aí começa o vaivém de propostas e contrapropostas: construir o Piritubão, no bairro de Pirituba, uma arena multiuso para shows e eventos, com centro de convenções e exposições, hotéis e edifícios comerciais, para 45 ou 65 mil lugares, a um custo de R$ 700 milhões; reformar o velho Parque Antarctica do Palmeiras e transformar na Arena Palestra Itália, num projeto que conta com o apoio da construtora Wtorre, para 45 mil lugares e um orçamento previsto deR$ 300 milhões, até o final de 2012; e até a proposta de reformar o tombado Pacaembu entrou nas cogitações. O estádio Pacaembu teria o
campo rebaixado, receberia um segundo anel de arquibancadas, dois túneis laterais de trânsito, estacionamento para 5 mil carros, pelo preço de R$ 500 milhões, ampliando a capacidade de 40 mil para 65 mil pessoas, um projeto inspirado no estádio Olímpico de Berlim.
A reforma do Morumbi de início sairia por R$ 130 milhões, mas esse número logo pulou para R$ 630 milhões. O poder público não quis entrar com recursos e chegou a vazar a informação que, para o governo paulista, interessaria mais sediar o Congresso da Fifa e do International Broadcast Centre, dos jornalistas que vão cobrir o evento futebolístico. Segundo os rumores, a Copa atrai um público interessado em gastar pouco durante um curto período de tempo enquanto os congressos trazem milhares de participantes que gastam muito por várias semanas. Para o arquiteto paulistano Nadir Curi Mezerani, autor de um projeto de estádio em pré-moldado, São Paulo perdeu a chance de construir um estádio novo nos dois dos melhores terrenos da cidade: no atual parque Vila-Lobos e no local onde hoje funciona o Ceasa.
Agora surge a proposta de aproveitar um futuro projeto de estádio do Coríntians, já apelidado de Itaquerão. Uma das primeiras ideias seria construir o estádio corintiano em Guarulhos, com projeto de Augusto França Neto. Seguiria as exigências da Conmebol, para 56 mil pessoas, com apoio financeiro do banco Banif. O Itaquerão, do arquiteto Eduardo Castro Mello, teria dinheiro do grupo financeiro Advento, ao qual pertence a construtora Serpal, com projeto excutivo da Tessler, para 50 mil pessoas. Mas, apesar de o presidente do Coríntians, Andres Sanchez, negar a versão, a proposta aprovada – a terceira – teria surgido a convite do presidente Lula à Odebrecht que faria o estádio para 48 mil pessoas com espaço para cadeiras retráteis, por R$ 300 milhões, sem dinheiro público, no terreno do atual centro de treinamento das categorias de base do clube.
A exploração do nome renderia à construtora R$ 30 milhões por ano com venda de naming rights por 11 a 15 anos. O projeto escolhido foi o dos escritórios Coutinho, Diegues, Cordeiro e DDG. Segundo alguns especialistas, o projeto ainda está um pouco cru e precisa resolver questões como os acessos pela Radial Leste e pela estação do metrô, que fica a menos de 1 km do terreno do estádio, a implantação das faces das arquibancadas que pegam o vento sul, o que poderia atrapalhar a trajetória da bola. E ainda tem um oleoduto da Petrobras passando pelo local.
Talvez muitos torcedores brasileiros, acostumados ao churrasquinho e linguição "grelhados" no tambor metálico cortado ao meio, arame farpado entre a arquibancada e a lateral do gramado e estacionamento na garagem do vizinho, nem reparem as comodidades previstas nas maquetes dos arquitetos que assinam as reformas e construções dos novos estádios. Mas, o torcedor europeu ou asiático que pode chegar com a família em busca de arenas confortáveis e atrações turísticas nas cidades-sedes ou nas cidades vizinhas vai exigir outro padrão de atendimento, além de segurança, claro.
Americanos transformam arquibancadas
de um dia para o outro
Enquanto os ingleses e brasileiros se preparam para remover estruturas de arquibancadas depois das Olímpiadas de Londres ou da Copa da Fifa 2014, os americanos batem recordes de conversão de beisebol para futebol e vice-versa. Há anos. Para as equipes que trabalham no estádio Oakland Alameda, na região de São Francisco, Califórnia, tudo se resume a uma operação – a mais rápida possível – de gruas e movimentação de cargas. Mais (para futebol) ou menos (para beisebol) sete mil assentos sobre um deque de apoio, a expansão (ou redução) de seções de arquibancadas e podem entrar as equipes para a disputa de mais um embate dos Raiders ou dos Athletics.
Uma empresa local faz isso há 13 anos seguidos e precisa de dois turnos de 12 horas com equipes treinadas para mover dois guindastes de 90 t e um de 120 t para terrenos acidentados. Se o próximo jogo apertar demais o cronograma, no problema: a equipe reconfigura o estádio para o público de beisebol trabalhando da meia-noite de um dia até o meio-dia de outro.