Não é fácil chegar e é difícil sair. A Bienal deixou de ser um ambiente para o escritor. Ou para o leitor obsessivo. É um mercado aberto para o público que vai ali à procura das emoções que uma celebridade ocasional possa despertar. Ou que não está nem aí para atropelos, o empurra-empurra, o vaivém das ondas humanas.
Ontem fui visitar os estandes de algumas editoras. Acessá-los significa vencer sucessivos obstáculos. Em cada esquina há uma multidão de crianças procedentes de várias escolas. A gente até que consegue se superar, superando uma barreira infantil, mas logo adiante há outra barreira, também de crianças e adolescentes ruidosos.
O objetivo é contatar as editoras, examinar os lançamentos recentes e selecionar dois ou três livros de ficção ou não, que possam ser saboreados e analisados à luz de alguma crítica. O aprendizado exige esse debruçar sobre as obras para a avaliação do que ela está oferecendo em um universo onde tudo teoricamente já foi oferecido. Quem sabe? – pode-se encontrar uma novidade: uma forma nova de observar a vida, de fixar os personagens, de montar a engrenagem humana do ponto de vista político e social e, com isso, buscar o entendimento do nosso tempo e do nosso espaço.
Mas tudo na Bienal é atropelo. A multidão que toma conta das ruas do Pavilhão de Exposições do Parque Anhembi se divide em correntes e redemoinhos e invade as áreas estreitas dos estandes. E, quando se está examinando um livro, corre-se o risco de um tranco mais forte, capaz de nos jogar no meio da multidão. A partir daí, redobra-se o esforço da vítima para tentar a volta ao estande que lhe chamara a atenção. Mas, aí, a gente já está exasperada e não retorna. Prefere seguir a onda até que, de repente, ela se dilui nas esquinas. E a parece ter condições de voltar ao ponto de partida. Mas, não volta.
Nós compreendemos. As crianças e os adolescentes precisam conhecer os livros, manuseá-los, cheirá-los, mas nem sempre isso é possível. E, antes que outra multidão nos envolva, e nos leve no empurra-empurra de um corredor para outro, a gente busca a saída, que fica cada vez mais distante.
A Bienal do Livro não é o local onde o livro possa ser buscado com tranquilidade. Ela, com a multidão que fica caminhando em círculos ou se senta pelos corredores, repele o leitor. Prefiro deixá-la passar a fim de que, depois, possa correr para verificar os lançamentos ou os livros mais velhos, expostos nos estandes e que nos acenam tentando compartilhar conosco de uma solidão seletiva.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira