Um produto invisível que sustenta uma economia visível

Compartilhe esse conteúdo

José Augusto de Castro*

Ao se avaliar os principais países exportadores de serviços de engenharia, vamos encontrar Estados Unidos, Itália, Espanha, França, Reino Unido, Japão, China, Coréia do Sul e Brasil. Nesta lista não constam países pequenos ou médios. Somente grandes e desenvolvidos, em que suas empresas demonstrem capacidade técnica e o país ofereça suporte financeiro. Se dispomos desta combinação perfeita, existe alguma dificuldade?

Antes de responder se existem dificuldades, vamos ver por que somente países grandes e desenvolvidos exportam serviços de engenharia?

Primeiro, exportar serviços de engenharia requer, além de capacidade técnica das empresas, que o país possua instituição financeira habilitada e capacitada a conceder financiamentos a custos competitivos e a longo prazo. E o Brasil possui o BNDES e o Banco do Brasil, ambos credenciados para bem desempenhar esta atividade.

Segundo, exportar serviços de engenharia constitui instrumento para abertura de novos mercados internacionais para produtos manufaturados em geral, incluindo alimentos, insumos, peças, veículos, máquinas, equipamentos, casas, etc, proporcionando valiosas divisas durante a obra, e também após, pois o mercado já foi aberto.

Terceiro, exportar serviços de engenharia viabiliza a participação na exportação, direta ou indiretamente, de cerca de 1.500 empresas, 90% micro, pequenas e médias, que sem as empresas de serviços de engenharia não teriam condições de exportar.

Quarto, exportar serviços de engenharia gera na cadeia empresarial envolvida no Brasil, cerca de 24.000 empregos para cada US$100 milhões contratados em serviços de engenharia.

Quinto, exportar serviços de engenharia mostra para o mundo a imagem positiva de um país industrializado, competitivo, criativo e com elevado nível técnico.

Se exportar serviços de engenharia proporciona todas estas vantagens, onde estão as dificuldades?

Apesar de termos todas as ferramentas para expandir as exportações de serviços de engenharia, falta um manual de uso destas ferramentas para uniformizar princípios, desburocratizar procedimentos e agilizar decisões entre os mais de 10 órgãos e entidades governamentais envolvidos na análise das propostas para exportar serviços de engenharia, que tem demandado longo tempo de avaliação, pois são utilizados diferentes conceitos técnicos, econômicos, e até mesmo políticos, provocando choques e retardando ou mesmo impedindo a tomada de decisão.

Como exemplo, temos o recente anúncio da criação do EximBrasil, que continua sendo motivo de disputas políticas intra-governo, impedindo sua implementação e dificultando a ampliação das exportações de serviços de engenharia do Brasil, deixando de serem gerados seus vastos benefícios. Nossos concorrentes internacionais agradecem penhoradamente.

Por isso, sempre temos dito que o principal e maior concorrente do Brasil é o próprio Brasil.

Este cenário dúbio ratifica duas afirmações: Exportar serviços de engenharia é um produto invisível que sustenta uma economia visível, e, exportar serviços de engenharia não é para quem quer, mas para quem pode. E o Brasil pode muito, basta querer.

*José Augusto de Castro é vice-presidente da Associação de Comércio Exterior (AEB)

Fonte: Estadão


Compartilhe esse conteúdo

Deixe um comentário