Projetado para ser uma via de conexão direta com as rodovias que chegam e atravessam São Paulo e, por isso, atrair e retirar o trânsito pesado de caminhões hoje presente na capital paulista, o Rodoanel Mário Covas vai se tornando opção para o motorista de automóvel particular que quer fugir ao trânsito sempre lento do perímetro urbano e se deslocar entre regiões da cidade e da região metropolitana.
Quem chama a atenção para o fenômeno é Nabil Bonduki, professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) e vereador pelo PT (começando sua segunda legislatura na Câmara Municipal paulistana). “O Rodoanel como um todo vem exercendo um papel importante de conexão perimetral”, pontua. “Está se tornando uma via expressa da região metropolitana de São Paulo, o que, a princípio, não era o seu objetivo.”
Arquiteto e urbanista Nabil Bonduki
São comuns, por exemplo, os congestionamentos numa das saídas do Rodoanel Oeste, no km 21 da rodovia Raposo Tavares (SP-270), no município de Cotia, favorecidos, em larga medida, pela confluência de carros que vêm, pelo trecho Oeste, de Alphaville, bairro rico localizado em Barueri, na Grande São Paulo. O objetivo de todos é chegar com menos demora à capital paulista. O Rodoanel é, hoje, mais uma opção de trajeto do cotidiano congestionado do motorista que mora em São Paulo e em suas cercanias.
Bonduki recorda que o traçado do Rodoanel, como indica o nome, em forma de anel (circular), tem sua origem remota nos anos de 1930. Foi ali que se lançou o primeiro desenho de um anel viário no perímetro da cidade, que foi se estendendo, com diâmetros cada vez maiores, ao longo das décadas, como consequência do aumento populacional, da mancha urbana e do número de veículos em circulação. O risco que o urbanista nota, com a obra do Rodoanel, de modo geral, é o de favorecer ainda mais a expansão horizontal da ocupação urbana, com impacto sobre o meio ambiente de áreas ainda praticamente virgens, muitas delas, fornecedoras da água que milhões de paulistanos e paulistas bebem.
O Rodoanel, como obra, é mesmo necessário? Bonduki diz que é, sim, mas só porque o modelo de mobilidade urbana hoje privilegia o modal rodoviário. “Mas seria interessante termos outras opções de transporte, como o Ferroanel. Estruturar o transporte de carga e também de passageiros sobre trilhos.” Especificamente sobre o trecho Norte do Rodoanel, o urbanista pede que os executores do projeto, governo, construtoras etc., “levem em conta os impactos ambientais e sociais da obra e apresentem respostas que atendam à população das regiões afetadas”.
Ligação com a BR-116
O trecho Norte desempenha também caráter complementar e estratégico no desempenho do projeto geral, como explicita o engenheiro Luiz Célio Bottura, que foi presidente da Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa) de 1984 a 1987 e ombudsman de prevenção de acidentes de trânsito da Prefeitura de São Paulo em 2011. “Sem esta obra o Rodoanel é perneta, porque fica sem sua ligação principal com a BR-116. O eixo Norte é muito importante, apesar de não ser o mais movimentado, porque dá uma lógica. Vai dar também um acesso melhor ao aeroporto [internacional de Guarulhos, SP], uma melhor distribuição urbana.”
A ligação principal a que Bottura se refere, ao norte, é a rodovia Presidente Dutra, o trecho da BR-116 entre São Paulo e Rio de Janeiro e, a oeste, a rodovia Régis Bittencourt, seção da BR-116 que liga São Paulo e Curitiba. Hoje, quem vem pela BR-116 precisa necessariamente passar pela capital paulista. “A BR-116 vem do Rio de Janeiro, morre na cidade de São Paulo e sai lá embaixo no Taboão da Serra (SP) como se aqui fosse uma vila. O Rodoanel Norte é uma continuação da BR-116.” Daí a defesa do engenheiro por uma maior participação financeira da União na obra, uma vez que a BR-116 é uma rodovia federal. O trecho Norte tem financiamento de cerca de R$ 2 bilhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que será pago pelo governo paulista, R$ 1,72 bilhão do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) e o restante do Tesouro paulista (recursos próprios).
(GA)
Fonte: Padrão