Sobre o Mais médicos

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Nildo Carlos Oliveira

Tenho recebido algumas manifestações de engenheiros sobre o programa do governo federal Mais médicos. Eles sabem e a gente sabe que se trata de um programa com um nítido viés eleiçoeiro. Mas a crítica para aí. Porque todos sabem e a gente sabe que o Brasil precisa de médicos. Muito mais médicos. Sobretudo nos grotões, por onde médicos, se passam, passam à distância e com a rapidez de um pé de vento.

Poderia citar dezenas e dezenas de municípios miúdos, perdidos nas regiões áridas do Nordeste ou nas regiões permanentemente úmidas do Norte e, se quiserem, até nas remotas periferidas das metrópoles, onde a escassez de médicos é uma tragédia anunciada e continuada. Mesmo os que procuram, em metrópoles como SP e Rio, postos de saúde ou hospitais, enfrentam quilômetros de filas por um atendimento invariavelmente meia-boca. É que vivemos em um país onde há dinheiro, por exemplo, para ajudar a patrocinar desfiles de moda em Paris, mas não há recursos para ampliar e melhorar as condições dos hospitais que atendem a pobreza. Há dinheiro para financiar edificações de 1º Mundo, mas não há recursos suficientes para financiar moradia digna para a população sem nenhum teto. O déficit hoje é possivelmente superior a 5 milhões de unidades. Há dinheiro para o conforto das gordas mordomias oficiais nas três instâncias de governo, mas não há dinheiro para melhorar a aposentadoria dos trabalhadores.

Dizem que os médicos que chegam para o Mais médicos vão enfrentar uma realidade dura: postos de saúde deteriorados, ou municípios onde isso nunca existiu e que eles terão de inventar soluções. Pois, que inventem. Quem sabe, a partir das primeiras iniciativas de medidas em favor de famílias que nunca tiveram a mão de um médico próxima, possam sugerir melhorias para a precariedade de uma vida secularmente legada ao abandono e a toda sorte de doenças. O que não dá é ver médicos brasileiros, a exemplo de foto publicada na primeira página da FSP de hoje, vaiando médicos estrangeiros, que vieram para socorrer brasileiros.

Ah, todas as manifestações de engenheiros sobre o Mais médicos são favoráveis ao programa.

Fonte: Nildo Carlos Oliveira


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