Um prédio de 30 andares erguido em 15 dias

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Ver para crer. O CTBUH, sigla em inglês do Conselho de Edifícios Altos e Habitat Urbano, foi conferir in loco essa proeza na China

Em agosto de 2012, o diretor-executivo do CTBUH (Council on Talls Building and Urban Habitat; em português significa Conselho de Edifícios Altos e Habitat Urbano), Antony Wood, foi escalado para a seguinte tarefa: verificar ao vivo e em cores, na fábrica da Broad Group, em Changsha, perto de Xangai, na China, como eram produzidos os módulos pré-fabricados metálicos usados para montar um prédio de 30 andares em apenas 15 dias.

Antony afirma, no seu depoimento postado no site da CTBUH, que ao passar pelos seguranças e ingressar na chamada “Cidade Broad” (local de montagem dos pré-fabricados metálicos), parecia que ele estava em um filme de James Bond. Ao ultrapassar os portões, a primeira vista é uma pirâmide dourada gigantesca. Ao longo das instalações industriais, ladeadas por protótipos de edifícios pré-fabricados de diversas alturas, centenas de funcionários com uniforme azul e branco se deslocavam em carrinhos de golfe.

Ele lembrou que fora convidado para conhecer o prédio de 30 andares inteiramente pré-fabricado e levantado em 15 dias. O ceticismo era natural, considerando que a empresa tinha crescido no segmento de ar-condicionado ao longo de 30 anos e apenas recentemente ingressara na construção pré-fabricada.

O campus industrial da Broad em Changsha é surpreendente. Cada um dos 5 mil trabalhadores tem o seu leito no dormitório e recebe três refeições por dia em cantinas gigantescas. “Quando visitei uma das instalações industriais, estava silenciosa, porque todos cochilam depois do almoço, das 12h às 14h. Ao encerrar a visita, encontrei centenas dos trabalhadores na avenida principal, voltando ao trabalho”, conta Antony.

O centro nervoso da construção pré-fabricada fica a 90 minutos de Changsha, onde duas linhas de montagem produzem centenas de elementos industrializados para prédios. Outras oito linhas semelhantes estão sendo concluídas para expandir sua capacidade doméstica e há plano de franquias do processo no exterior. O edifício T30, de 30 andares, ergueu-se soberano neste campus. Ali, no mesmo local, estava uma série de outros “produtos” da construtora, como B6, B10, B15 e B20 — prédios com diversos andares montados pelo mesmo processo.

O T30 funciona como um hotel e tem qualidade de construção satisfatória, embora mostre alguns detalhes de acabamento menos caprichados. Não se percebe que o prédio foi montado com módulos pré-fabricados. De acordo com o diretor do CTBUH, não foi possível precisar o que fora feito no sítio nesses 15 dias. Mas considerando dois pisos ao dia, incluindo fachada e paredes internas, é um resultado espetacular de qualquer ponto de vista.

As linhas de montagem mostraram que a concepção é simples, mas altamente complexa na fase final face a tolerância zero no encaixe dos elementos principais no canteiro de obras. A peça básica do sistema é uma plataforma que serve de piso, fabricada com estrutura metálica treliçada, medindo 3,9 m de largura, 15,6 m de comprimento e 0,45 m de altura. Esse módulo pesa 12 t mas se movimenta facilmente pela fábrica, içado de várias maneiras, para receber cada camada de elementos construtivos.

Montagem dos módulos

A primeira camada é o próprio módulo estrutural treliçado de piso, todo soldado, com placas laterais de conexão para montagem no canteiro — que é feita por meio de parafusos. Na etapa seguinte, este módulo é virado ao contrário para receber um painel de teto, e desvirado para ganhar um contrapiso fino de concreto mais placas de piso final. O módulo possui vazios cilíndricos no sentido vertical, onde se fixam tubos que servem para se chumbar o painel de teto e as luminárias, como também são usados para içamento na montagem no canteiro.

Todas as redes elétricas e mecânicas são instaladas no módulo de piso, prontas para conexão com os módulos vizinhos. Cada “piso” recebe seu estoque de todos os elementos verticais, como colunas, fachadas e paredes internas, prontos para ser instalados na estrutura final. “É difícil de acreditar que a conexão por parafusos desses módulos tanto na horizontal como na vertical produza no final a resistência estrutural necessária”, reconhece Antony. “Mas as colunas funcionam como treliças lineares verticais que utilizam um pesado contraventamento. Essas colunas lineares são empregadas em ambos os planos da estrutura do edifício. Vi ainda mesas vibratórias de grande porte testando protótipos de prédio de grandes dimensões.”

A experiência da Broad em climatização foi aproveitada nos prédios pré-fabricados. Eles são 100% selados e utilizam sistemas ultra eficientes de climatização. Isso parece um contrassenso em economia de energia, mas seus projetistas adotaram essa solução em vista da qualidade precária do ar na maioria das cidades chinesas. Antony assistiu à demonstração de um aparelho móvel que funciona como celular com internet, além de monitorar os poluentes do ar — na demonstração, o ar interno estava bem melhor que o externo.

Prédio mais alto do mundo

A última parte da visita do executivo do CTBUH foi dedicada a uma entrevista com o presidente da empresa Zhang Yue, que foi um artista plástico (ou ainda é). Por meio de intérpretes, ele explicou ao Antony seu projeto favorito — o J220, o “próximo edifício mais alto do mundo”, de 838 m, e contendo todas as funções urbanas. A empresa anunciou que pretende construí-lo em nove meses no canteiro, com módulos pré-fabricados.

É claro que construir o T30 em 15 dias com módulos préfabricados, com 30 pavimentos, foi um feito notável. Mas erguer um mega edifício sete vezes maior, utilizando o mesmo processo, é um projeto radicalmente diferente. Antony comentou que, pela tradição de pesquisa tecnológica da empresa, ele não acredita que seja um truque de marketing.

Ao entrar no helicóptero no topo do T30 na viagem de regresso, ele viu as plantas industriais, os protótipos em gigantescas mesas vibratórias de testes e o rio ao lado, que serve de transporte para embarcar os módulos prontos. No outro lado dessa paisagem, havia uma cratera no solo. O intérprete da Broad disse que ali estava o canteiro para se levantar outro prédio T30, que vai estar pronto ao final do mês. Um terreno escavado pode significar o princípio de um edifício novo para a maioria dos empreendedores — mas o mesmo terreno simboliza a conclusão de um prédio para a Broad. “Talvez essa empresa chinesa tenha realmente algo a nos ensinar”, concluiu Antony Wood, diretor-executivo do CTBUH.

Fonte: Revista O Empreiteiro


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