Nildo Carlos Oliveira
Encerra-se amanhã (23) em Ribeirão Preto (SP), no espaço dos Estúdios Kaiser de Cinema, uma exposição reveladora de um esforço muito grande em favor da arte da fotografia. Foi aberta dia 8 último e constitui, em seu conjunto, uma forte demonstração de que essa arte tem vasto campo a explorar, nas diversas escalas do sentimento e da capacidade de olhar e interpretar.
As fotos, com lances do cotidiano, fragmentos urbanos, formas e cores compondo ensaios poéticos e algumas enfocando solidões extremas em paisagens que enquadram pescadores em seu dia a dia, não foram, a rigor, resultados de trabalhos de profissionais. Quero dizer, de fotógrafos que se dedicam dia e noite ao encanto ou às surpresas dessa profissão para viver a partir das oportunidades, hoje tão escassas, que ela oferece. Os fotógrafos se dizem amadores. É que nenhum vive daquilo.
Denis Marcelo dos Santos, por exemplo, conquanto se dedique à pesquisa fotográfica e tenha maior vivência nos contatos com essa arte, mostrando experiência no trato com grafite, é administrador; Sílvio Tucci é médico e professor universitário. Em seu trabalho ele se movimenta com tranquilidade entre formas e cores; Thor Crespi Amêndola é publicitário e se ambienta bem fragmentando o cotidiano; Mércia Bologna Soares de Oliveira é artista plástica e afina a sensibilidade no campo dos ensaios poéticos; Ederaldo Veronese, com formação em odontologia, foi um dos iniciadores da formação do Clube de Fotografia de Ribeirão Preto, onde coordena um concurso anual de fotografia. Podemos afirmar, sem receio de suscitar dúvidas, que ele sobrepõe-se, recorrendo a cores fortes para, com isso, tirar partido do que vê e sente. E Herenilton Paulino Oliveira é químico e professor universitário. A exposição do conjunto de suas fotos, mostrando o dia a dia de pescadores de tainha, revela uma faceta até então desconhecida em sua vivência. Ele utiliza a arte da fotografia, empregada em diversas viagens que fez por aqui e pelo Exterior, para sintetizar aspectos existenciais: a solidão em dose dupla de homens no meio fio da sobrevivência.
No conjunto, o lado humano e o ambiente urbano, sobressaem. E aprofunda a convicção de que fotografia, embora ali colocada em mãos de fotógrafos que se dizem amadores, vem sendo exercida com uma coerência, um cuidado estético e uma persistência de profissionais.
Porque, vamos e venhamos: essa arte não é para quem imagina que fotografar é tirar coelhos da cartola. Não é uma mágica; é um trabalho nos limites da paciência e da capacidade de saber olhar. Uma capacidade que poucos possuem. Porque invariavelmente olhamos. E invariavelmente não vemos. Às vezes não conseguimos enxergar sequer o outro, que está ao nosso lado.
Esses seis “amadores profissionais” mostraram, nessa exposição lamentavelmente discreta, que sabem olhar o outro. E para além do outro. Merecem mais exposição.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira