Dois fatos importantes do noticiário político desses dias: uma declaração do governador Aécio Neves, de Minas Gerais, e a informação (manchete da Folha de S. Paulo de domingo, dia 21) de que o presidente Lula da Silva anda inaugurando obras que, logo depois dos atos oficiais, voltam ao que eram antes: canteiros de obras.
A manifestação do governador mineiro foi, em síntese, um conselho dirigido ao governador José Serra. Disse ele que o candidato paulista à Presidência da República precisa articular discursos adequados para as regiões Norte e Nordeste, onde o peso político de Lula, com os programas de assistência social, é muito forte.
O governador mineiro falou em discurso. Na arte de convencer pegando os potenciais eleitores pelas palavras. Não falou em elaboração de programas que traduzam possibilidades reais de transformação de realidades regionais. A exemplo do que fez JK e Celso Furtado. No fundo, referiu-se à arte dos marqueteiros, que se têm notabilizado por orientar discursos de todos os feitios, tamanhos e oportunidade, segundo o local e o público previamente arrebanhado para ouvi-los. O conselho leva à constatação de que vivemos os tempos dos farsantes. Da arte de engabelar pessoas, recorrendo a esse equipamento que massificou a mediocridade: a mídia eletrônica.
O outro fato é essa desfaçatez de inaugurar obras que ainda estão pela metade e cuja execução obedece mais aos prazos políticos do que aos prazos técnicos. Segundo a reportagem do jornal, os deslizes se devem a "dados imprecisos enviados pelos Estados, à insistência de Lula em participar de alguns eventos e às falhas do gabinete do Planalto". Esse conjunto de fatores explicaria a inauguração de obras em curso, programada para favorecer a candidata do presidente. Em geral, o político que pratica essas ações está convencido de que o eleitor, historicamente, tem a memória curta. De modo que ele segue em frente, movido pela esperteza que faz a alegria dos farsantes.
Fonte: Estadão